James Gunn assina o renascimento de um ícone do cinema com Superman, um filme que, sem hesitar, abraça a essência de seu protagonista e redefine a narrativa dos filmes de super-heróis. Com David Corenswet no papel principal, o longa nos lança em uma trama repleta de ação desde os primeiros minutos, sem rodeios e com um ritmo acelerado. Embora exija do espectador um conhecimento prévio sobre o Superman, a produção se esforça para introduzir uma nova era no universo cinematográfico da DC.
Ao contrário de filmes anteriores, que lentamente preparavam o terreno para o herói, Gunn opta por um início audacioso. O Superman aqui é apresentado já em sua luta contra forças globais, sem perder tempo com a origem do personagem. Essa escolha arriscada, embora desafiante, traz uma frescor necessário ao gênero. A aposta estabelece o tom de um Superman que, mais do que nunca, se conforta com sua identidade e a imensidão de sua responsabilidade.

David Corenswet, como o Homem de Aço, entrega uma performance cativante, transitando com maestria entre a grandiosidade de um herói e a humanidade de Clark Kent. Ele imprime uma energia forte e confiante, sem jamais perder a sensibilidade do ser humano por trás da capa. Ao seu lado, Rachel Brosnahan faz de Lois Lane uma personagem que desafia o Superman em seus ideais, ao mesmo tempo em que compartilha uma química autêntica com Corenswet, carregando o romance com complexidade.
O antagonista Lex Luthor, interpretado por Nicholas Hoult, é uma das grandes surpresas do filme. Gunn apresenta o vilão de maneira brilhante, misturando genialidade e fragilidade emocional. Sua versão de Luthor é, sem dúvida, a melhor já vista em live-action — assustadora e, paradoxalmente, compreensível. A dinâmica entre ele e Superman, recheada de diálogos afiados, é uma das maiores forças do filme, explorando o ego e as inseguranças do vilão, enquanto surgem dúvidas em torno do próprio herói.

No entanto, Superman não se limita aos confrontos pessoais entre herói e vilão. O filme explora a crescente presença de meta-humanos na Terra, um movimento metalinguístico que reconhece o número crescente de histórias sobre superpoderes no cinema. As participações de coadjuvantes como o Sr. Incrível (Edi Gathegi), Lanterna Verde (Nathan Fillion) e Mulher-Gavião (Isabela Merced) adicionam dinamismo à trama, embora nem todos recebam o espaço merecido para se desenvolverem mais profundamente.
O filme, contudo, peca ao tentar controlar demais as rédeas da narrativa no segundo ato. Com tantas subtramas e personagens coadjuvantes, a história se dispersa em momentos que desviam o foco do conflito principal, o que pode afastar o espectador casual. A tentativa de equilibrar diversas linhas narrativas, se não bem executada, faz com que o ritmo se arraste em algumas passagens. No entanto, como esperado, o retorno ao foco na reta final do filme – com sequências de ação de tirar o fôlego e confrontos dramáticos emocionantes – recupera o ritmo, deixando os espectadores à beira da tensão.

James Gunn se destaca na direção, especialmente ao tratar Superman como um filme de quadrinhos no sentido mais puro da palavra. Em vez de distorcer o legado do herói para agradar ao público em massa, ele abraça a extravagância dos gibis, respeitando sua natureza de fantasia e ficção científica. O uso do personagem como alguém que possui uma humanidade intrínseca, mais do que uma divindade ou uma máquina imbatível, é uma das grandes sacadas da narrativa.
Além disso, a representação de Superman como uma pessoa com medos, anseios e uma vida cotidiana é o que realmente define este novo ciclo. Gunn não se preocupa em idealizar o herói, mas em mostrar como Clark Kent lida com sua realidade e, mais importante, com o peso de ser o único capaz de carregar uma responsabilidade tão grande. O filme faz um trabalho excepcional ao destacar suas vulnerabilidades, desde o relacionamento com Lois até o afeto por seu fiel cão Krypto.

A verdadeira beleza de Superman reside em sua busca por humanizar um ser capaz de feitos extraordinários. Ele pode ser mais forte que qualquer outro, mais rápido que uma bala, mas no fundo, sua maior luta é contra sua própria solidão. As melhores versões do Superman sempre capturaram sua essência como um ser que deseja não estar isolado em seu destino heroico — e Gunn entende isso com maestria.
Enquanto a Warner Bros. e a DC Studios enfrentam a enorme tarefa de competir com o Marvel Studios, Superman se apresenta como um passo ousado e bem-vindo em direção a uma nova era. A grande questão é se será suficiente para reconquistar a confiança dos fãs e colocar o Homem de Aço novamente no centro da cultura pop. Mas uma coisa é certa: o filme é uma verdadeira celebração de sua essência, de suas imperfeições, de seu charme e, acima de tudo, daquilo que o torna único.
Conclusão
Se a marca de uma boa reinvenção está em arriscar e abraçar o novo sem medo, então Superman de James Gunn é, sem dúvida, um sucesso. O filme é um reflexo de Clark Kent: imperfeito, mas com algo único e poderoso a oferecer. E, assim como o herói, Superman consegue ser tudo o que deveria ser – humano, real e incrivelmente especial.
Confira o trailer:
Ficha Técnica
Direção: James Gunn;
Roteiro: James Gunn;
Elenco: David Corenswet, Rachel Brosnahan, Nicholas Hoult, Nathan Fillion, Isabela Merced, Edi Gathegi, Anthony Carrigan, María Gabriela de Faría, Sara Sampaio, Skyler Gisondo, Wendell Pierce, Alan Tudyk Pruitt, Taylor Vince, Neva Howell;
Gênero: super-herói, ação, ficção científica, fantasia, aventura;
Duração: 129 minutos;
Distribuição: Warner Bros. Pictures;
Classificação indicativa: 18 anos;
Assistiu à cabine de imprensa a convite da Espaço Z