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Música

Música inédita de Renato Russo reacende disputa sobre herança e memória da Legião Urbana

Primeiro guitarrista da banda, Eduardo Lambach lança canção com letra do cantor e revela tensões com o herdeiro Giuliano Manfredini

Alexya Lemos

04/11/2025 14h03

kadu paraná

Foto: Reprodução

A história da Legião Urbana ganhou um novo capítulo com o lançamento de “Diamante de Vidro”, composição inédita com letra de Renato Russo que remonta aos primeiros anos da banda. A faixa foi apresentada por Eduardo Lambach, o Paraná ou Kadu, primeiro guitarrista do grupo, e trouxe à tona um tema que há tempos ronda o legado do cantor: o conflito entre o valor artístico e o controle de sua herança.

O lançamento da música, divulgado no canal de Paraná, não apenas resgata uma faceta pouco conhecida da gênese da Legião, mas também expõe divergências com Giuliano Manfredini, filho e herdeiro de Renato, responsável pela Legião Urbana Produções Artísticas, empresa que administra o espólio do artista.

Confira a música:

O guitarrista “bom demais para o punk”

A breve passagem de Eduardo Lambach pela Legião Urbana, em 1982, é parte essencial da mitologia do rock de Brasília. Com formação em rock progressivo, influenciado por grupos como Rush e Led Zeppelin, e música erudita, Paraná foi convidado por Renato Russo e Marcelo Bonfá após uma apresentação de sua banda, Boca Seca.

Apesar da admiração mútua, o virtuosismo do guitarrista destoava da estética punk e do espírito “faça você mesmo” que guiavam a banda nascente. A tensão aumentou quando Renato rejeitou a instrumental “O Cachorro”, de autoria de Paraná, por considerá-la “sofisticada demais”.

Menos de quatro meses após a entrada, veio o rompimento, marcado por uma frase profética de Renato Russo: “Paraná, você vai se arrepender. Isso é um absurdo. Você tem que parar com esse jazz rock que não vai te levar a lugar algum. Nós vamos vender um milhão de cópias.”

Ambos aconteceram. O Legião Urbana vendeu mais de 20 milhões de cópias pelo país e Lambach de fato se arrependeu.

Anos depois, em meio a uma crise interna da Legião, em 1986, Renato e Paraná voltaram a se encontrar. Passaram três dias compondo juntos, material que só agora começa a vir à tona. A banda se acertou e o material nunca viu a luz do dia, até agora.

O resgate de um arquivo inédito

Com carreira consolidada no jazz e na MPB, Paraná iniciou recentemente um projeto de resgate de composições esquecidas dos primeiros anos da Legião Urbana. Muitas delas nasceram de manuscritos e letras deixadas por Renato Russo, parte de um acervo que o guitarrista manteve guardado por décadas.

O primeiro fruto desse trabalho é “Diamante de Vidro”, canção que mistura funk, blues e sonoridades acústicas, evocando memórias da infância de Renato na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. O videoclipe conta com a participação de Carmen Manfredini, irmã do cantor.

O acervo de Paraná inclui ainda músicas como “Provençal das Quadras”, considerada a primeira composição da Legião, “Dois Corações”, inspirada em uma reportagem de Renato sobre carne clandestina, e a instrumental “O Cachorro”.

Em 1995, Kadu convidou Renato para participar de seu álbum “Last Blues”, ele topou, mas nunca deu tempo e ele faleceu em 1996.

Herança e bloqueios

Segundo Paraná, o projeto de resgate chegou a contar com o incentivo de Giuliano Manfredini em sua fase inicial. No entanto, o músico afirma que, hoje, a liberação de novas faixas enfrenta barreiras impostas pelo herdeiro, que detém os direitos da obra e da marca Legião Urbana.

O guitarrista sugere que a relação entre eles se deteriorou, dificultando o lançamento de outras composições, inclusive algumas que teriam contado com participações de Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá.

A disputa reabre o debate sobre como preservar a memória de Renato Russo sem sufocar a dimensão coletiva e criativa que marcou sua trajetória. Enquanto isso, “Diamante de Vidro” oferece aos fãs um raro vislumbre de um Renato em construção, o poeta em transição entre o adolescente punk e o ícone do rock nacional.

“É uma canção que mostra o lado mais íntimo e sensível de Renato, um artista que sempre se reinventava”, resume Paraná.

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