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Literatura

Novos livros de Lanari e Marcondes cruzam cinema e poesia

Evento “Cinema em Livros” promove debate sobre estética e política na sétima arte, com sessão de autógrafos amanhã, na Marcondes&Co

Alexya Lemos

10/10/2025 5h00

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João Lanari e Ciro Marcondes. Foto: Divulgação

Dois olhares distintos, mas complementares, sobre o cinema contemporâneo e suas intersecções com a poesia e a história ganham corpo em “Cinema em Livros”, evento que marca o lançamento simultâneo dos novos livros de João Lanari Bo e Ciro I. Marcondes. A iniciativa acontece neste sábado (11), às 16h, na livraria Marcondes&Co e propõe uma tarde de bate-papo, autógrafos e reflexão sobre o potencial do cinema como forma de arte, pensamento e criação literária.

A proposta do evento é celebrar a convergência de percursos intelectuais que, apesar de distintos, encontram no cinema uma linguagem comum. Ambos os autores apresentam obras publicadas pela Confraria do Vento, reforçando a afinidade estética e editorial que permeia os lançamentos.

Cinema como registro da história em tensão

Em Rússia, Ucrânia e o cinema em tempos de guerra, João Lanari Bo se debruça sobre a produção cinematográfica russa e ucraniana diante dos grandes conflitos históricos do Leste Europeu, com foco especial na guerra em curso desde a invasão da Crimeia, em 2014, e o avanço do conflito a partir de 2022. A obra busca entender o cinema como arte, mas também como “registro vivo de tensões políticas, culturais e identitárias”.

“A proposta do livro é analisar filmes que mostram ao leitor como a guerra foi percebida pela sociedade e, sobretudo, pelos cineastas que refletiram a violência e os problemas sociais do conflito no cinema”, explica Lanari Bo. Para ele, mesmo em meio à “vertigem digital contemporânea”, o cinema segue sendo uma ferramenta potente para a leitura do presente e da história em disputa.

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Putin´s Witness (2018) Vitaly Mansky – Rússia, Ucrânia e o cinema nos tempos de guerra. Foto: Divulgação

A análise do autor parte do entendimento de que “o cinema é uma janela para compreender a complexidade da guerra na Ucrânia”. Lanari Bo convida o leitor a perceber como o conflito reverbera nas produções audiovisuais da região, compondo uma narrativa simbólica e estética do trauma coletivo.

Com trajetória consolidada como pesquisador, professor e realizador com mais de 15 filmes produzidos e livros publicados sobre cinematografias não-hegemônicas, Lanari retoma temas caros à sua produção anterior, como em Cinema para russos, cinema para soviéticos (2019), ampliando agora o foco para a dimensão bélica e política das imagens.

Poesia em movimento: o filme como poema visual

Já Ciro I. Marcondes, poeta e crítico cultural, parte de uma abordagem ensaística e sensível para mergulhar no universo do clássico experimental Limite (1931), de Mário Peixoto. Em Limite: o poema em filme, o autor propõe uma leitura do longa como uma obra que transcende a narrativa convencional e se estabelece como “um verdadeiro poema visual”.

“O leitor vai entender como o cinema traduz a poesia sem palavras, com a imagem dominando a narrativa e permitindo inúmeras e novas leituras pessoais e profundas”, afirma Marcondes. Seu livro explora a experiência estética de Limite como uma construção poética não apenas nas imagens, mas também na forma como estas evocam sensações e atravessam temas universais.

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Limite (1931) de Mário Peixoto. Foto: Divulgação

O autor descreve o filme como um “poema desejante”, uma obra que não representa toda a potencialidade da poesia, mas que “grita o hiato entre o ser e o mundo em cada fotograma”. Para Marcondes, a força poética de Limite está em sua “unipontualidade temática”, todas as cenas orbitando em torno de uma mesma cisão existencial, e em seu “rendimento máximo”, no qual cada parte carrega o todo.

A escrita do livro, segundo ele, também buscou se aproximar da linguagem poética de seu objeto de estudo. “Foi necessário escrever de uma forma mais singular e menos rigorosa academicamente para que o texto pudesse fazer sentido enquanto meta-texto sobre poesia”, afirma. A escolha por um estilo mais ensaístico e pessoal não compromete o rigor da análise, explica, mas adiciona à experiência do leitor um mergulho mais íntimo e sensorial.

Além de poeta e crítico, Marcondes é autor de ZIP – Quadrinhos e cultura pop (2021) e do livro de poemas Mundo míope (2023). Ele também edita o site Raio Laser e apresenta o podcast Lasercast, ambos voltados à crítica de histórias em quadrinhos.

Do silêncio da guerra à imagem poética

“Cinema em Livros” se constrói, portanto, como um diálogo fértil entre linguagens, tempos e abordagens. De um lado, a guerra e o cinema como testemunhas da história. De outro, a imagem como verso e o filme como poema. Em comum, os dois autores compartilham uma crença no poder da imagem cinematográfica de atravessar o tempo, desafiar interpretações e provocar reflexão.

O evento será uma oportunidade para o público conhecer as obras de perto, dialogar com os autores e refletir sobre como o cinema continua sendo uma das formas mais complexas de dizer o indizível.

Lançamento dos livros de João Lanari Bo e Ciro I. Marcondes
Onde: Marcondes&Co – Asa Sul, Brasília
Quando: sábado, 11 de outubro, às 16h
Entrada gratuita

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