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Literatura

Crítica literária: Um café e um feitiço para viagem

Nesta quarta-feira (29), Dia Nacional do Livro, a crítica celebra o poder das histórias que aquecem o coração — com uma boa dose de café e magia

Amanda Karolyne

29/10/2025 5h00

capturado com oldroll classic m.

Foto: Amanda Karolyne/Jornal de Brasília

Um livro de capa laranja e com um casamento ao fundo. Para os swifties, isso já diria muito — especialmente em agosto de 2025. Com um universo acolhedor e levemente mágico, digno das romcoms dos anos 2000, mas com um toque de empoderamento contemporâneo, Um Café e um Feitiço para Viagem, da autora Nadia El-Fassi (publicado no Brasil pela Verus Editora), é um presente para quem ama histórias como De Magia à Sedução e A Maldição do Ex. Aqui, a magia é parte natural do cotidiano das bruxas, sem grandes efeitos mirabolantes — a não ser que o amor encontrado ao fim seja a maior das fantasias. E, para alguns, de fato é.

Acompanhamos Dina Whitlock, uma jovem de vinte e poucos anos que comanda uma cafeteria encantadora. Filha de uma família de bruxas, ela usa pequenos feitiços para adoçar a rotina dos clientes — e, no fundo, faz a gente acreditar que aquelas cafeterias aconchegantes e superfaturadas que visitamos em dias nublados talvez tenham, sim, um toque de magia.

Mas Dina carrega um fardo: foi amaldiçoada durante seu primeiro amor. Não na adolescência, e sim na escola de confeitaria, quando revelou à namorada que era bruxa — e acabou recebendo uma maldição. Desde então, todo aquele que se apaixona por ela acaba ferido. E o que seria de uma história de bruxas sem uma maldição a ser quebrada?

Ao longo da trama, o leitor entende o medo de Dina em contar aos pais que é bissexual e que seu primeiro namoro foi com uma mulher — segredo que a impede de pedir ajuda à mãe para lidar com a praga. A autora constrói esse conflito com delicadeza, mostrando como mesmo famílias amorosas podem revelar lados duros diante da diversidade, o que torna compreensível a resistência da protagonista.

Entre inseguranças e cafés mágicos, Dina conhece Scott Mason, um curador de museu. A narrativa, em terceira pessoa, alterna discretamente entre os dois pontos de vista, mostrando como suas vidas se entrelaçam antes do grande casamento de Eric e Immy — ele, melhor amigo de Scott; ela, melhor amiga de Dina. Ambos sonham em juntar o casal, mas não acreditam muito na força da maldição.

É nesse cenário que Scott e Dina se aproximam. O romance, no entanto, acontece rápido demais — o que deixa o desenvolvimento emocional um tanto raso. A química entre os dois existe, mas o livro se apressa nas páginas finais, e o momento da revelação sobre a maldição surge de forma acelerada, sem tempo para respirar.

As cenas sensuais são numerosas e bem escritas, mas acabam ofuscando o espaço de construção do relacionamento. Ainda assim, a história tem charme e humor. O grande destaque está nas amizades femininas — e também nas masculinas. Dina, Immy e Rosemary formam quase um coven de irmãs, mesmo que apenas uma delas veja fantasmas (assunto para outro livro). São diálogos cheios de cumplicidade e força, e quando Nour, a mãe de Dina, entra em cena, o encanto cresce.

Nour é a bruxa experiente que toda narrativa precisa — uma figura que mistura afeto, firmeza e ancestralidade. A autora entrelaça a bruxaria da família marroquina de Dina às raízes culturais e espirituais de onde vieram, adicionando profundidade à trama. E, claro, há Meia-Lua, a gata preta espirituosa e a Casa viva que completam o charme mágico da história.

As amizades masculinas também são retratadas com frescor. Eric, Scott e o pai de Dina reconhecem as mulheres como protagonistas, não como prêmios. São relações saudáveis, que contrapõem a masculinidade frágil e fazem o leitor refletir sobre o que realmente significa estar em um relacionamento — com ou sem feitiços. Quando Scott descobre a maldição, não foge nem culpa Dina; decide enfrentar tudo com ela, porque entende que todo amor verdadeiro exige trabalho, paciência e fé.

No fim, Um Café e um Feitiço para Viagem pode até ter tropeços, mas entrega exatamente o que promete: leveza, conforto e um toque de magia. Como aquele café quentinho (e caro) que consola o coração num dia difícil, é uma leitura breve e doce — perfeita para curar uma ressaca literária.

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