A exposição vai trazer nomes icônicos e artistas contemporâneos para celebrar as várias caras que a arte no Brasil teve ao longo dos anos. Entre os artistas, o mineiro Iuri Sarmento terá pela primeira vez uma obra exposta na capital.
Com uma curadoria que mescla nomes clássicos como Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti e artistas da cena contemporânea como o pintor Iuri Sarmento, nesta terça-feira começa a exposição “Nossos Brasis: entre o sonho e a realidade”. Pela primeira vez, o artista mineiro vai trazer seu trabalho para a capital, na mostra que revisita cem anos da produção artística no país, e que ficará em cartaz até o dia 8 de janeiro na Caixa Cultural Brasília. A entrada é gratuita, e o público poderá ver cerca de 79 obras de 50 artistas — entre pinturas, esculturas, tapeçarias, fotografias, instalações e objetos que visam trazer um olhar multifacetado sobre o Brasil.
Iuri Sarmento é formado em artes plásticas pela Escola Guignard, em Belo Horizonte. Ele morou por muitos anos em Salvador, onde conheceu a azulejaria portuguesa — um elemento que influenciou a maioria de suas obras. Para ele, é uma honra enorme estar entre os nomes presentes na exposição, como Cândido Portinari, Volpi, Heitor dos Prazeres, Beatriz Milhazes, Arthur Bispo do Rosário, Vik Muniz, Ernesto Neto, Rosana Paulino, O Bastardo e Denilson Baniwa. “É uma felicidade muito grande estar no meio desses nomes tão importantes. O convite para participar foi maravilhoso”, afirmou. Ele elogiou a curadoria feita por Denise Mattar, uma pessoa que admira muito pelo trabalho que realiza.

Iuri acredita que ter um trabalho selecionado para essa mostra é uma realização em sua carreira. Como contou, o pintor faz parte da geração dos anos 1990 e está incluído nessa linha do tempo dos cem anos da produção artística das diversas gerações que moldaram o país. “A curadoria faz um panorama que abrange a história da arte no Brasil”, afirmou. Para ele, esse é um apanhado muito importante, e quem passear pela exposição vai sentir isso, ao poder entrar em contato com um pouco dessa história cultural. “Ela passa pelo modernismo até chegar à arte contemporânea”, disse.
O Brasil na obra de Sarmento
Sua obra presente na mostra é um painel de cerca de 3 metros com 28 quadrados de 30 cm. Ele conta que essa é uma peça que já expôs em São Paulo, na mostra feita pelo artista, Jardim Pop Barroco. Mas para ser exibida no “Nossos Brasis”, a obra sem título ganhou algumas modificações. “É uma espécie de colcha de retalhos, em que vou misturando ornamentos e falo um pouco do barroco”, afirmou. Nessa obra, Iuri descreve que foram montadas diversas referências de imagens com influência da azulejaria. “Eu adoro estamparias, e essa produção passeia também pelas porcelanas, porque sempre uso essas referências no meu trabalho.”
Ele espera que as pessoas, ao olharem para a obra, reconheçam o Brasil por trás das referências visuais, com toda a memória cultural e afetiva que ele evoca em suas pinturas. “Porque eu falo muito do Brasil na minha obra. Tenho uma influência grande de Minas Gerais, onde fiquei encantado com o Barroco Mineiro. Eu adorava passear pelo centro histórico”, contou. Mais tarde, Salvador passou a ter um impacto muito grande em suas obras: “O barroco tem essa união dos dois lugares. E Salvador desenvolveu uma pesquisa muito grande sobre a azulejaria portuguesa que chegou à Bahia. Uso muitas dessas referências no meu trabalho.” Ele reforçou que o trabalho que faz é um mix de referências culturais do Brasil.

Ao longo da carreira, Sarmento teve seu trabalho exposto em diversos estados do Brasil, e também em mostras internacionais na Espanha, Portugal, Argentina — e a mais recente, uma individual em Paris, na Galeria Agnes Monplaisir. Mas esta será a primeira vez que o artista plástico terá sua obra exposta na capital do país. “Brasília é um lugar muito único. Eu sou fã dessa cidade, adoro Brasília, tenho parentes na região e vou visitar a exposição logo mais”, comentou. Para ele, é uma maravilha poder levar o trabalho que faz para diversos lugares, ainda mais agora, expondo na capital. “É uma pena eu não estar na abertura, porque queria poder sentir o público”, salientou. Ele comemorou o fato de a exposição ficar disponível por um período prolongado. Considera que será importante para o público brasiliense visitar essa mostra, que faz parte de um grande projeto com obras muito importantes. “Para Brasília vai ser uma maravilha. Espero que a exposição também rode o Brasil e que todos possam ver”, completou.
Os brasis em exposição
Segundo Denise Mattar, a Caixa Cultural está fazendo 45 anos, e a exposição faz parte de uma série de ações que celebram essa data ao longo do ano. “A ideia sempre foi fazer uma exposição falando sobre os diferentes aspectos do Brasil, e eu fui costurando coisas antigas e contemporâneas justamente para sentir essa potência da arte brasileira”, declarou.
São 79 obras de 50 artistas, entre elas o Mamoeiro, de Tarsila do Amaral — uma obra emblemática da artista, apresentada em Paris, na Galeria Percier, em 1926. A exposição foi dividida em três núcleos: o primeiro é intitulado “Vozes dos Trópicos”, onde, de acordo com Denise, é abordado como os artistas foram levando a ideia dos trópicos para fora do Brasil, como a própria Tarsila, Burle Marx e artistas contemporâneos como Beatriz Milhazes e Iuri Sarmento.
Em seguida, vem o segundo módulo, ainda dentro do “Vozes dos Trópicos”, ao qual Denise atribui um caráter mais crítico, com nomes como Lygia Pape, Hélio Oiticica, Adriana Varejão, Rosana Paulino e outros.

Como o primeiro módulo aborda questões de colonização, Denise aponta que a mostra traz uma série de artistas indígenas, como Denilson Baniwa, além de artistas da matriz africana. “Temos ainda o Dalton Paula, que é super importante, com obras do sertão negro.”
O segundo núcleo se chama “Vozes da Rua”, onde, segundo Denise, estão duas estrelas: uma obra de Djanira e outra de Di Cavalcanti. “Esse é um painel muito importante do Di que estava fora do Brasil há mais de 90 anos”, destacou. Esse segmento retrata um Brasil popular, com nomes como Volpi, Portinari, Beatriz Milhazes e outros.
Por último, está o núcleo “Vozes do Silêncio”. “Temos uma raridade, que é o artista Arthur Bispo do Rosário. Conseguimos trazer duas peças dele”, comentou. Esse nicho da mostra aponta para questões psicológicas e íntimas, onde memória, espiritualidade e dor se transformam em criatividade, mostrando outra face do Brasil. Maria Auxiliadora, Ismael Nery, Maria Lídia Magliani, Farnese de Andrade, Vik Muniz e Nelson Leirner estão entre os nomes presentes nesse segmento.
Além da exibição, estão previstas oficinas profissionalizantes em comunidades, para ampliar o alcance da mostra e reforçar seu caráter democrático. A exposição também contará com recursos de acessibilidade, incluindo audiodescrição, tradução em Libras e materiais táteis, garantindo que diferentes públicos possam vivenciar plenamente a experiência.

Serviço
Nossos Brasis: entre o sonho e a realidade
Local: CAIXA Cultural Brasília – SBS Q. 4 Lotes 3/4 – Asa Sul, Brasília – DF, 70092-900
Quando: a partir do 21 de outubro de 2025 a 18 de janeiro de 2026
Horários: terça a domingo, das 9h às 21h (segunda-feira fechado)
Entrada: gratuita
Acessibilidade: audiodescrição, Libras, materiais táteis e visitas mediadas