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Cinema

Cinema e diálogo conectam França e Brasil na mostra Diálogos em Movimento

Evento gratuito na UnB exibe filmes premiados e promove debates sobre meio ambiente, diversidade e imigração, reunindo realizadores e produtores dos dois países

Tamires Rodrigues

04/11/2025 11h22

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La-riviere. Foto: Divulgação

Brasília se transforma em um ponto de encontro entre o cinema e as grandes questões do nosso tempo. A mostra Diálogos em Movimento, parte da temporada França-Brasil 2025, segue em cartaz até esta quarta-feira (5) na Universidade de Brasília (UnB), com entrada gratuita. O evento reúne produções documentais e ficcionais que abordam temas como crise climática, imigração, diversidade e democracia. As sessões acontecem no Auditório Pompeu de Sousa, sempre às 14h30, e a abertura foi realizada na Embaixada da França.

Depois de uma edição em Paris, em junho, no Théâtre de la Concorde, o projeto chega agora ao Brasil com uma seleção de obras premiadas e um recorte político potente. Entre os destaques estão La Rivière, de Dominique Marchais, vencedor do Prêmio Jean Vigo 2023; Sur l’Adamant, de Nicolas Philibert, ganhador do Urso de Ouro em Berlim; Les Habitants, de Maureen Fazendeiro; Josepha, do centro-africano Joseph Akouissone; a ficção brasileira Moti, de André Okuma; e Mensageiras da Amazônia, do Coletivo Audiovisual Munduruku Daje Kapap Eypi, que denuncia as ameaças ao território indígena no sudoeste do Pará.

Mais do que uma vitrine cinematográfica, a mostra propõe um espaço de reflexão sobre como França e Brasil enfrentam desafios semelhantes — e como a arte pode ser ponte entre essas experiências. “A temporada França-Brasil reforça um circuito de trocas culturais que já existe há muitos anos. Mas, agora, como programa de Estado, com apoio de empresas estatais e privadas, temos a possibilidade de ampliar o alcance, circular mais obras e convidar mais realizadores”, afirma Érika Campelo, integrante da Autres Brésils e uma das organizadoras do evento, em entrevista ao Jornal de Brasília.

Para Érika, esse fortalecimento institucional vai além do incentivo artístico — é também um gesto político. “Isso tudo deveria entrar numa política pública de pensar a cultura como ferramenta de democracia e emancipação. É um exemplo para que homens e mulheres da política no Brasil e na França reflitam sobre a importância dessas trocas”, observa.

A curadoria foi guiada por temas que atravessam o presente dos dois países. “Queríamos reunir filmes que conversassem com as urgências do mundo: a crise climática, a questão da imigração e a diversidade. Esses três temas estruturam o planeta hoje”, destaca Érika. Para ela, pensar cinema é também pensar o futuro: “Não dá mais para falar de economia ou de direitos humanos sem considerar o meio ambiente. Se não encontrarmos uma relação respeitosa com a natureza, a humanidade está condenada ao seu fim”.

A exibição de La Rivière sintetiza essa proposta. O filme, que mostra o impacto do desvio de um rio para o cultivo de milho, simboliza o conflito entre desenvolvimento e equilíbrio ambiental. “É uma obra que revela como as atividades humanas interferem no ciclo da vida — do peixe ao próprio rio”, comenta.

Outros títulos ampliam o debate social. Les Habitants, por exemplo, aborda a discriminação de comunidades ciganas nos subúrbios de Paris. “O filme mostra como a extrema-direita europeia tenta transformar o imigrante em bode expiatório. É um discurso perigoso, porque mascara as verdadeiras causas da crise econômica, ligadas ao neoliberalismo desenfreado”, alerta Érika.

Com olhar voltado ao futuro, a curadora expressa o desejo de manter viva a circulação dessas histórias. “Queremos transformar o projeto em um programa itinerante anual, levando o Diálogos em Movimento para outras regiões do Brasil, como Rio de Janeiro, Minas, Nordeste e Sul. Mas, para isso, precisamos de apoio institucional — e isso ainda não está garantido”, diz.

Após sua passagem por Brasília, a mostra segue para São Paulo, reafirmando a vocação do cinema como território de encontro, questionamento e resistência. E se há algo que Diálogos em Movimento ensina, é que nenhuma fronteira — geográfica, cultural ou simbólica — é capaz de deter um filme quando ele carrega, na imagem e na escuta, o desejo de transformação coletiva.

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