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Cinema com ela
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“A Hora do Mal”: a quietude sinistra de uma comunidade em colapso

O mistério e o terror psicológico de Zach Cregger ganham vida na tela, com estreia marcada para esta quinta-feira (7)

Tamires Rodrigues

07/08/2025 5h00

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Foto: Divulgação/Warner Bros. Pictures

Com A Hora do Mal, Zach Cregger, já conhecido por seu trabalho perturbador em Bárbaro (2022), mergulha em um pesadelo comunitário que mistura mistério, terror psicológico e uma reflexão sobre o pânico que consome uma sociedade aparentemente tranquila. O longa chega aos cinemas nesta quinta-feira (7). Ao explorar o desaparecimento coletivo de 17 crianças em uma cidade suburbana dos Estados Unidos, o diretor cria uma atmosfera tensa e simbólica, onde o medo ultrapassa o sobrenatural e atinge as fraturas do tecido social.

Logo de início, Cregger nos apresenta Maybrook, uma cidade pacata dilacerada pelo desaparecimento misterioso de suas crianças durante a noite. A premissa é simples, mas brilhantemente executada: as crianças não desaparecem de forma comum. Elas se levantam, saem de casa e correm pela noite com os braços estendidos, como aviões voando baixo. Um gesto aparentemente inocente ganha uma intensidade assustadora sob a ótica do terror. A proposta de Cregger é clara: o evento inexplicável logo se transforma em um jogo psicológico que alimenta a paranoia e o medo.

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Foto: Divulgação/Warner Bros. Pictures

A narrativa não se limita a um único ponto de vista. Cregger fragmenta a história, oferecendo diversas perspectivas sobre o mistério, criando uma tensão crescente a cada novo capítulo. De uma professora assustada, Justine (interpretada por Julia Garner), a um pai furioso, Archer (Josh Brolin), a visão da comunidade se dilui, desafiando o espectador a juntar as peças de um quebra-cabeça perturbador. O filme nos força a questionar quem está mentindo, quem esconde algo e até que ponto a verdade é algo que realmente queremos descobrir.

Cregger não se limita ao mistério de desaparecimento. Ele usa a estrutura suburbana como reflexo das tensões contemporâneas, onde o pânico alimenta a busca por culpados e a divisão entre pais e professores se intensifica. Em um momento decisivo, a cidade se transforma em um campo de batalha, onde todos, em algum momento, se tornam suspeitos e vítimas. A raiva dos pais, especialmente de Brolin, se mistura à desesperada tentativa de Justine de salvar as crianças restantes, criando um confronto entre autoridade e incerteza.

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Foto: Divulgação/Warner Bros. Pictures

A beleza do filme está na forma como Cregger subverte as expectativas. Inicialmente, parece um filme de terror tradicional, mas a cada desenvolvimento, ele se afasta das convenções. A ambiguidade se torna um recurso para gerar suspense, aproximando o filme de obras como Hereditário e Os Suspeitos, onde a falta de respostas claras é a principal fonte de desconforto.

Entre os personagens, a introdução de Gladys (interpretada por Amy Madigan) é cativante. Ela traz uma leveza quase cômica ao filme, mas sua presença é perturbadora. À medida que o mistério se desvela, ela se transforma em uma figura essencial para o enredo. Sua maquiagem borrada de palhaço, assim como a metáfora que ela representa, demonstra como o filme brinca com os limites entre o grotesco e o bizarro, tornando cada momento ainda mais desconcertante.

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Foto: Divulgação/Warner Bros. Pictures

Visualmente, Cregger faz um trabalho impressionante. A cinematografia de Larkin Seiple, com suas imagens imersivas e frias, reforça a ideia de que Maybrook é um lugar onde a tensão se esconde em cada esquina. A trilha sonora eleva a tensão, criando um clima palpável de claustrofobia. A câmera frequentemente foca em objetos ou locais específicos, criando uma sensação de espera que faz o público sentir o peso do que está por vir.

À medida que o filme avança, a explicação por trás dos desaparecimentos começa a ganhar forma, e é nesse ponto que A Hora do Mal perde um pouco de sua magia. A revelação do mistério, embora ainda chocante, se torna mais concreta, diminuindo parte da força da narrativa que se construiu até então. A ambiguidade inicial é substituída por uma resposta que, embora interessante, limita o potencial do conceito que Cregger estabeleceu brilhantemente.

Ainda assim, o filme mantém seu impacto. Ao nos forçar a confrontar nossos próprios medos — o medo de perder o controle sobre o que é familiar, o medo de confiar nas autoridades — reside sua verdadeira força. A Hora do Mal não é apenas sobre um desaparecimento em massa; é sobre como o medo molda nossas ações e como, quando consumidos por ele, nos tornamos capazes de cometer atrocidades.

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Foto: Divulgação/Warner Bros. Pictures

Em sua conclusão, o filme provoca uma reflexão amarga sobre a natureza humana, mostrando que, em tempos de crise, qualquer um pode se tornar uma “arma”. Em um mundo onde o terror é alimentado por incertezas e teorias conspiratórias, A Hora do Mal não é apenas mais um filme de terror, mas uma meditação sobre o que acontece quando a confiança se rompe e a raiva toma conta.

Conclusão

Mesmo com seu final que pode não agradar a todos, A Hora do Mal é uma experiência cinematográfica que provoca, perturba e faz pensar, colocando Zach Cregger como um dos nomes mais interessantes do terror contemporâneo. O diretor não só entrega um filme aterrorizante, mas também nos faz questionar o que realmente sabemos sobre as pessoas ao nosso redor e até onde o medo pode nos levar.

Confira o trailer:

Ficha Técnica
Direção: Zach Cregger;
Roteiro: Zach Cregger;
Elenco: Josh Brolin, Julia Garner, Alden Ehrenreich, Austin Abrams, Cary Christopher, Benedict Wong, Amy Madigan;
Gênero: Terror;
Duração: 129 minutos;
Distribuição: Warner Bros. Pictures;
Classificação indicativa: 18 anos;
Assistiu à cabine de imprensa a convite da Espaço Z

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