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Torcida

Vexame; Discrepância

De melhor da fase de grupos da Libertadores a rebaixado pela primeira vez no Brasileirão

Redação Jornal de Brasília

09/12/2019 12h11

Por Olavo David Neto e Petronilo Oliveira
[email protected]

Sangue Azul

Cruzeirense, seu time é enorme. Em número de títulos, em grandes vitórias e com uma grande torcida. Mas, sinceramente, a “giganteza” que vocês se arrogam chega a ser ridícula. Desde a época do “time grande não cai” até esta temporada, enquanto a Polícia Civil cumpria mandados de busca e apreensão na Toca da Raposa. Sempre foram “grandes demais” para baixar a cabeça e reconhecer que o clube merecia disputar divisões inferiores apenas por esse fato, além, claro, dos salários atrasados, das contínuas trocas de comando e das estapafúrdias declarações proferidas por verdadeiros coronéis celestes.

Foto: Reprodução/TV Globo Minas

Um dos vexames

Jogos com torcida única são chatos, enfadonhos mesmo. Ainda mais em rodadas finais de campeonatos, mesmo de pontos corridos. Ontem, porém, o alívio veio imediatamente após a torcida celeste ter a atitude vexatória que teve. A massa alviverde, por sorte, não se expôs à barbárie cruzeirense. E, se pensarmos que a Mancha Alviverde – tradicional aliada da Galoucura, do Atlético – estaria dentro daquele Mineirão, realmente, a escolha da diretoria do Cruzeiro foi acertada, mesmo que não tenha ocorrido com esta intenção. Mas vale a reflexão: falhamos a esse ponto enquanto sociedade? Lavamos as mãos e simplesmente admitimos a falta de condições para garantir a segurança de torcedores? O que mais enfurece é que as imagens como as do último domingo (8) logo viram veneno na boca de espíritos ruins, que bradam aos quatro ventos a ausência de famílias nos estádios de futebol graças à violência, clássico argumento de quem não frequenta estádios.

Não é o primeiro, mas é o mais “caro”

Vários clubes grandes já foram rebaixados para a Série B do Brasileiro. Vasco, Fluminense (foi até a C), Botafogo, Atlético-MG, Palmeiras, Corinthians, Inter, Grêmio. Enfim, apenas Flamengo, Santos e São Paulo não experimentaram ainda o gosto amargo da queda. Porém, todos esses grandes que já jogaram a Segunda Divisão, com exceção talvez do Colorado, tinham elencos medíocres e só não eram considerados como “favoritos” à queda por conta do peso da camisa. Diferentemente do Cruzeiro.

Em janeiro ninguém imaginava…

A Raposa começou ano como favorita a lutar pelo título de todas as competições. Lembrando que no início do ano, havia muita incerteza do Santos de Sampaoli, pois o excelente técnico argentino vivia cobrando a contratações de melhores jogadores em entrevistas coletivas e, normalmente, isso termina na demissão do “reclamão”. Não tinha também o efeito Jorge Jesus no Flamengo. O time carioca já era muito bom, mas Abel Braga era o técnico. Ele, famoso por se fechar ao primeiro gol de vantagem, disposto a tirar um atacante e um meia ofensivo, e colocar um volante e um zagueiro. Com isso, o Cruzeiro era o principal rival do poderoso Palmeiras, bancado pela Crefisa.

… os culpados

Estrelas do time mineiro, Thiago Neves, Dedé, Fred, Fábio, Edilson (contratado junto ao Grêmio logo depois de os gaúchos serem campeões da Libertadores), dentre outros, levaram o Cruzeiro a se classificar como melhor time da primeira fase da Libertadores da América. Porém, entrou polícia na jogada desvendando várias falcatruas, principalmente envolvendo o então vice Itair Machado. Houve diversas irregularidades, como transações ilegais de jogadores com empresários não cadastrados pela CBF, cessão de direitos econômicos de atleta de base abaixo da idade mínima – o que é proibido pela lei brasileira – e esquema de pagamentos para torcidas organizadas com o intuito de defender e divulgar a marca do clube.

E o salário, ó

Depois tem gente que diz que problemas fora de campo não interferem dentro das quatro linhas. Cruzeiro, cheio de rolo, vice-presidente recebendo muito dinheiro e em dia e os jogadores com salário atrasado. Nenhuma, nenhuma empresa pode exigir empenho dos funcionários se não estiver com as contas em dia. Como diria Vampeta, quando jogava num quebrado Flamengo: “Eles fingem que pagam e a gente finge que joga”. Assim, o Cruzeiro foi rebaixado. E para completar o Brasileirão trágico, torcedores do Cruzeiro destruíram o Mineirão, arremessaram cadeiras no gramado, quebraram banheiro. E em 2020 a conta será ainda mais cara.

Esperança mineira

O próprio Palmeiras, que desceu a espada de Dâmocles sobre o pescoço cruzeirense, viveu o drama duas vezes. Embora a primeira tenha sido infrutífera e tenha excluído o alviverde do primeiro Brasileirão de pontos corridos da história, a segunda visita ao segundo escalão do futebol nacional permitiu uma recuperação que, seis anos depois, já garantiu mais dois títulos nacionais ao alviverde. O Grêmio é, talvez, o mais simbólico dos casos. Rebaixado em 2004, o tricolor retornou à elite no ano seguinte, garantiu vaga na Libertadores e decidiu o título com o Boca de Riquelme em 2007. Enquanto os gaúchos jogavam a B, o Galo era rebaixado da A. Uma década depois, a metade de Minas Gerais ostentava títulos inéditos da Copa do Brasil e do maior torneio das Américas. Caso também do Corinthians, que cinco anos após o descenso erguia a sonhada taça em homenagem aos patronos do continente, além do Mundial de Clubes da FIFA. “Um degrau abaixo”, o Furacão do Paraná deixou a elite do Brasileirão em 2011, 15 anos após se estabelecer como potência nacional. No retorno, em 2013, garantiu vaga no torneio continental e o vice da Copa do Brasil. Hoje, é o maior campeão fora do Clube dos 13, venceu a copa que perdeu em 2013, é campeão sul-americano e se porta como um dos mais bem organizados clubes do futebol nacional.

Vamo, vamo, Chapê!

A despeito do dispositivo de “isenção de rebaixamento” recusado pelo clube quando do acidente que vitimou toda uma delegação, a Chapecoense, agora de forma oficial, encara um descenso também pela primeira vez na sua bela história. Caso fechasse acordo, o Verdão catarinense seria “café com leite” até 2020, ano em que jogará sua segunda Série B. Uma temporada frustrante do time Condá, que nos acostumou com vitórias à base de superação e planejamento. Agora na Segundona, a Chape ainda se vê às voltas com processos por indenização em decorrência do acidente com o avião da LaMia, em novembro de 2016. Força!

Tem coisas…

Além de ter inúmeros ídolos e ter revelado vários craques para o futebol brasileiro, porém há muito tempo, como Garrincha e Nilton Santos, o Botafogo mostrou, nesse Brasileirão, que a frase “tem coisas que só acontecem com o Botafogo” segue valendo. Desta vez, como um alento. Pois o clube de General Severiano foi o primeiro time na era dos pontos corridos a não ser rebaixado mesmo tendo perdido 21 vezes na competição.

Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo

Alerta para o bem do futebol

O Entrelinhas deseja que Vasco, Botafogo, Fluminense, Atlético-MG, Internacional e outras potências do futebol brasileiro se espelhem nesse Flamengo, que mesmo goleado pelo Santos, por 4 x 0, na última rodada, quebrou vários recordes e não pode ser tratado com desdém pelas diretorias rivais. Brincadeira de torcedor é sempre válida, mas o que é bem feito é pra ser imitado, servir como exemplo para que a desigualdade não seja tão grande, para clubes com muita tradição, mas que não conseguem patrocínio forte, pois a imagem não anda nada legal. E, nesse mundo capitalista que vivemos (é uma realidade e não um desejo), imagem é tudo. Ter fama de bom pagador no mercado ajuda e muito. E olha que estamos colocando um time que até seis, sete anos atrás era o maior devedor do futebol, nenhum jogador queria ir pra lá. Bastam três coisas: planejamento; pensar com a cabeça e não com o coração; e pagar o salário em dia. O nosso receio é que o Brasileirão, que se inicia com quase 10 times favoritos ao título, uma das coisas boas em comparação com os europeus, é a variedade de clubes que podem ser campeão, torne-se um certame chato, onde apenas três, quatro times brigam pela taça.

Seleção Entrelinhas

Tentamos ser justos e tiramos o maior número de jogadores do Flamengo para dar uma equilibrada, mas do meio para frente foi impossível: Santos (Athletico); Rafinha (Flamengo), Rodrigo Caio (Flamengo), Gustavo Henrique (Santos) e Jorge (Santos); Matheus Henrique (Grêmio), Sanchez (Santos), Everton Ribeiro (Flamengo), Arrascaeta (Flamengo), Bruno Henrique (Flamengo), Gabigol (Flamengo). Técnico: Jorge Jesus (Flamengo), com menção honrosa para Sampaoli (Santos); Craque: Bruno Henrique (Flamengo); Revelação: Michael (Goiás), com menção honrosa para Reinier (Flamengo). Ainda deixamos de fora Mari, Filipe Luís e Gerson. Mas é uma boa seleção. Concordam com a gente?

Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

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