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Um homem, superação e cavalos

Destaque mundial do hipismo, o brasiliense Sérgio Oliva e a égua Coco Chanel estão bem perto da vaga para o Mundial Paralímpico do ano que vem em Tóquio

Lindauro Gomes

06/08/2019 12h15

Foto: Vitor Mendonca/Jornal de Brasilia

Superação, talento e medalhas

O atleta brasiliense Sérgio Oliva, destaque mundial do hipismo, está na reta final por vaga em Tóquio 2020

Vitor Mendonça
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“No hipismo são dois corações envolvidos, o do cavalo e o do cavaleiro, tanto no treino quanto na competição. Tem muita sinergia acontecendo, e os dois partilhando do mesmo objetivo.” Assim diz o atleta brasiliense Sérgio Oliva, 36 anos, um dos destaques mundiais do adestramento paraequestre, modalidade do hipismo em competições paralímpicas. “É uma sintonia: você precisa saber como o cavalo reage, como ele está.”

Nessa modalidade do esporte, não se trata do usual imaginário quando se fala em hipismo ou equitação. Ao montarem os cavalos, cavaleiros paralímpicos, deixam para trás os obstáculos da pista e transformam as próprias limitações em aliadas. A intenção é executar as ações como trote e galope com o animal a fim de que estas pareçam naturais.

Sérgio é um dos trigêmeos da família, mas o único que nasceu com deficiência. Ele tem paralisia cerebral e triplegia (perda total das funções motoras em três membros), além de uma lesão no braço direito em decorrência de um acidente aos 13 anos. “Afetou meu braço, que antes era normal. Eu caí no vidro da portaria do prédio. Mas fisicamente estou tranquilo e me adaptei bem depois do acidente. Isso aí é passado”, comenta.

Foto: Vitor Mendonca/Jornal de Brasilia

O brasiliense, que já compete há 17 anos, volta de um campeonato bem disputado no início de julho, na Inglaterra, onde conquistou, com a equipe brasileira, o vice-campeonato por equipes. Também levou para casa dois ouros e um bronze nas provas sindividuais. Esta foi a terceira etapa das que acumulam pontos para as Olimpíadas Tóquio 2020.

A competição acontece dentro de uma arena de areia com 40 metros de comprimento por 20 de largura e são três diferentes tipos de avaliação: o caminhar, o trote e o galope, além de quatro grupos especiais de classificação dos cavaleiros. Sérgio está dentro do grupo/classe/grau 1, que engloba pessoas cadeirantes com pouco ou nenhum equilíbrio do tronco ou pessoas com comprometimento parcial nos quatro membros.

As sete melhores equipes de janeiro a dezembro deste ano ganham, por país representante, o direito de levar quatro atletas. Para as Olimpíadas de 2020, três nações já estão garantidas: Holanda, Inglaterra e Alemanha, por terem ganho medalhas no último campeonato mundial, em 2018, nos Estados Unidos.

O ranking internacional ainda irá atualizar a classificação da competição na Inglaterra do último mês. O Brasil, até então, dentre as 18 ainda na disputa, está na 15ª posição; Sérgio, para as Olimpíadas, é o segundo do Brasil na classificação. Em primeiro lugar está Rodolpho Riskalla, de Santa Catarina. O cavaleiro brasiliense é o 11º na categoria classe 1 mundial.

A equipe do Brasil para as Olimpíadas, no entanto, só vai ser definida no ano que vem. “Acredito que tenho grandes chances de participar. Meu ranking internacional vai melhorar, devido à última competição, e quero ajudar na classificação do Brasil”, afirma. O foco está na próxima edição do Campeonato Brasileiro de Hipismo Paraequestre, entre os dias 15 e 18 de agosto, em Brasília, no Gama.

Ganhou 2 bronzes no Rio

Foto: Vitor Mendonca/Jornal de Brasilia

Sérgio Oliva encontrou no esporte paraequestre uma paixão. “Eu comecei a montar com a equoterapia, em 1989. Daí parei para estudar e voltei a mexer com cavalo em meados de 2002, quando conheci minha treinadora, Marcela Passos, que começou a me incentivar a competir. Fui vendo a possibilidade e gostava bastante”, lembra.

“Tudo foi acontecendo de forma progressiva. Fui participando de Brasileiro, depois fui campeão no Pan-americano em 2003 [Santo Domingo, República Dominicana], e cheguei a campeão mundial em 2007 [Hartpury, Inglaterra]”, comenta. De lá para cá foram altos e baixos que o motivaram a tentar a medalha de ouro em 2020 – a única que lhe falta para completar o quadro das douradas do cavaleiro. “No Rio 2016 fui o único atleta do esporte equestre brasileiro a ganhar medalhas: foram dois bronzes”, orgulha-se.

De terça a sexta, o atleta mantém os treinos constantes todas as manhãs no Brasília Country Club. São cerca de 30 a 50 minutos montado no cavalo Coronado Jmen, com quem treina e compete nas provas regionais e nacionais há três anos. Nas provas internacionais, o cavaleiro monta a égua Coco Chanel, que também acompanha o atleta desde 2016. O ritmo aumenta quando as competições se aproximam. “Quando tem competição eu treino de terça a domingo”, diz.

O companheiro dos treinos, o tratador Joarez Fernandes, que o auxilia na montagem, organização e cuidados com o cavalo Coronado, reafirma a dedicação do atleta. “Esse aí não faz corpo mole não. Dos dez anos que estou com ele, nunca vi reclamar. Quer sempre se superar e não para por nada”, comenta. “Me impressiono. Ele vem de ônibus e acho que só não vem às segundas-feiras porque o clube é fechado, se não estaria aqui também”, completa.

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