Menu
Brasília

Mulheres devolvem emoção ao Mané

Arquivo Geral

09/08/2016 23h01

REUTERS/Ueslei Marcelino

Eric Zambon
[email protected]

O público brasiliense prefere as mulheres. Depois de terem gritado o nome de Marta durante partida da Seleção masculina no último domingo, foi a vez de exaltarem as jogadoras do Canadá, que hoje (9) derrotaram a Alemanha, segunda colocada no ranking da FIFA, de virada, por 2 a 1. A reação foi bem diferente das vaias após o empate contra o Iraque. O ânimo, porém, não se repetiu na presença dos torcedores.

Com a pouca procura por ingressos, o Mané Garrincha foi ocupado apenas no anel inferior. Projetos sociais receberam convites do comitê Rio 2016 e ajudaram a preencher os vazios, ganhando também bandeiras do Canadá na entrada do estádio. A organização do evento não revelou a carga vendida para o jogo de hoje, mas funcionários e policiais que trabalharam na partida estimaram oito mil espectadores, quase um décimo do público presente em Brasil x Iraque.

O menor apelo do jogo entre as mulheres foi inversamente proporcional à qualidade da partida. Para a advogada Vaniza Machado, 43 anos, que levou o marido, o engenheiro Pedro Falcão Júnior, 46, e o filho Vitor Machado Falcão, 6, as seleções femininas “deram show”. “Nenhuma delas fez ‘chicrinha’ ou ficou com a mão na cintura esperando o mundo cair. Foram atrás da bola, buscaram o gol o tempo todo”, elogiou a brasiliense, que não assistiu aos jogos da Seleção e garantiu não ter se arrependido.

Saiba Mais

Com a vitória, o Canadá manteve 100% de aproveitamento no grupo F e se garantiu nas quartas-de-final em primeiro lugar. A Alemanha, apesar da derrota, se classificou às quartas na segunda colocação, já que superou a Austrália no saldo de gols.

China e Suécia também jogaram nesta terça-feira, a partir das 22h. Hoje as seleções masculinas voltam a protagonizar os eventos em Brasília, com Argentina x Honduras e México x Coreia fechando a etapa de grupos do futebol masculino.

Para a advogada, a vontade das mulheres em comparação aos jogos ruins dos homens criam a oportunidade perfeita para repensar o investimento em futebol no País. “É um ótimo momento para a gente pensar nas bases do futebol. Desde cedo tem que haver vontade de jogar, e os times principais não estão sabendo isso”, alfinetou.

A impressão de Vaniza deve ter sido causada pela explosão no início da partida. Em 25 minutos, as mulheres de Canadá e Alemanha marcaram duas vezes, uma para cada lado. Foi o dobro de gols que os homens conseguiram em 360 minutos – foram quatro partidas na última semana. A heroína foi a atacante canadense Melissa Tancredi, de 35 anos, autora de dois tentos e escolhida como a melhor em campo pela organização. “Estou muito feliz por tudo”, resumiu a jogadora, também capitã do time. Foi a primeira vitória de sua equipe contra as alemãs em toda a história.

Ciente do amadorismo do futebol feminino profissional do Brasil, apesar de o País contar com uma Seleção forte, ela disse esperar que as partidas entre as mulheres motivem outras garotas a tentarem a sorte no esporte. “Nosso papel enquanto atletas é inspirar e empoderar a todos. Enquanto eu motivar os outros a saírem de sua zona de conforto, isso quer dizer que meu trabalho está bem feito”, discursou.

São palavras contundentes, em comparação ao “o importante são os três pontos” que os jogadores de futebol costumam soltar em entrevistas. São também frases importantes para pessoas como a estudante Lorraine Santos de Souza, de 15 anos. Ela foi uma das agraciadas com convite, por fazer parte do projeto de assistência social Casa Azul, que acolhe adolescentes em situação de vulnerabilidade e levou cerca de 70 jovens ao estádio. Foi a primeira vez da menina em uma arena do porte do Mané Garrincha.

“Se eu pudesse assistir meu time, o Corinthians, aqui, seria um sonho realizado”, brincou, elogiando também as seleções em campo. Para Lorraine, que nunca imaginou algum dia poder jogar futebol para a vida, a relevância de nomes como Melissa Tancredi ganham novo significado à luz dos acontecimentos de sua própria vida. “Eu acho que é melhor a gente estar aqui, ocupando a mente, ou então praticando um esporte, do que na rua aprontando”, resumiu, sorridente.

Nara Martins, 23, coordenadora pedagógica da Casa Azul, enalteceu a iniciativa e espera que ela se repita até o dia 13, quando os Jogos se encerram oficialmente em Brasília. “Muitos nem conheciam os pontos turísticos pelos quais passamos na vinda ao estádio”, revelou, também bastante alegre.

Em comparação ao público de domingo, que pagou pelo ingresso e entoou cânticos homofóbicos contra o goleiro iraquiano, os convidados foram espectadores muito melhores. Apesar de algumas vaias às alemãs devido à torcida para as canadenses, os jovens do projeto social se orgulharam de terem puxados a ola e até inventaram um grito de guerra para as vencedoras.

“Vamos fazer de novo e todo mundo vai nos seguir, você vai ver”, brincou Rafael Reis, de 16 anos. Ao lado dos amigos Michael, Jean e Henrique, da mesma idade, eles cumpriram a promessa à reportagem e se divertiram com o espetáculo.

O espírito olímpico está na representatividade de Melissa, nos sonhos de Lorraine e na descontração de Rafael e seus amigos. Se quantidade não reflete qualidade, certamente os Jogos merecem um público mais seleto e envolvido com a fraternidade olímpica. Assim como o estádio Mané Garrincha merece mais guerreiras como Melissa e todas as canadenses e alemãs, que apesar da derrota também se garantiram nas quartas-de-final do torneio.

 

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado