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Medo, saques e incerteza: área da Arena do Grêmio sofre efeitos da enchente

O movimento é constante de caminhões carregando entulho, militares do exército organizando auxílio e muita gente ainda buscando se recuperar do que aconteceu

Redação Jornal de Brasília

16/06/2024 11h50

PORTO ALEGRE, RS (UOL/FOLHAPRESS)

Mais de um mês se passou da maior tragédia climática já registrada no Rio Grande do Sul. A chuva que ocasionou inundação em diversos locais do Estado ainda está gravada no entorno da Arena do Grêmio. Relatos de medo, saques e muito lixo dividem espaço com esperança e solidariedade.

A Arena do Grêmio se localiza no bairro Humaitá, Zona Norte de Porto Alegre, próximo da divisa com o município de Canoas, um dos mais atingidos pela enchente.

O estádio teve todo andar inferior submerso e está em processo de retomada. Não há uma previsão definida para retorno dos jogos, mas o plano é colocar tudo em ordem até setembro. Até lá, o Tricolor manda seus jogos no Couto Pereira, em Curitiba.

A região -entre as mais pobres da capital gaúcha- foi atingida em cheio pela água e demorou para retomar algum sinal de normalidade. Segundo apurou o UOL, a área levou mais tempo do que outras regiões da cidade para escoar em razão das casas de bombas responsáveis pela drenagem.

A visita da reportagem do UOL ao entorno da Arena constatou um cenário de guerra. Desde pontos ainda distantes, madeira, móveis e muito lixo estão acumulados pela rua. Há muitas pessoas limpando casas marcadas de barro na altura que a água subiu.

O cheiro de esgoto é presença constante e caminhar sem pisar em barro se torna tarefa impossível. O movimento é constante de caminhões carregando entulho, militares do exército organizando auxílio e muita gente ainda buscando se recuperar do que aconteceu.

Diversas ruas do entorno do estádio estão intransitáveis. Montanhas de lixo interrompem o trânsito, tornando a chegada e saída dos arredores uma tarefa difícil. Durante o tempo em que a reportagem esteve na região, caminhões com grama chegaram ao estádio gremista, pois o replantio do campo está em andamento para receber o time de Renato Gaúcho.

Com olhar distante em frente ao bar localizado em peças da sua casa, Tadeu Mendes busca força para continuar. Segundo ele, o prejuízo só em mercadoria foi de R$ 10 mil.
Tadeu e a esposa, já idosos, precisaram ser resgatados de barco durante a enchente. Quando a água começou a subir, o casal foi até uma construção que fica ao lado, subiu até o segundo andar e esperou ajuda.

A residência, que foi do pai de Tadeu, segue de pé, mas marcada pela enchente. “Moro aqui há 60 anos, nunca vi nada assim”, contou.

“Todo mundo aqui agora tem medo da chuva. É só começar o barulho de chuva que todos já ficam apavorados. Estamos dormindo no chão, só nos restou a televisão. Mas vamos buscar forças para seguir”, disse Tadeu.

Houve falta de energia elétrica e água por muito tempo. Se ainda há lixo espalhado aos montes, já esteve pior. Este foi o relato de Ederaldo Capalonga, dono de outro estabelecimento comercial na região.

“Não sei se vamos continuar. Foram dois metros de água dentro do bar”, diz Ederaldo.
Situação semelhante vive Olga da Silva, que administra o Taty Lanches. Por lá, a limpeza que acontece serviu também para constatar roubos. Um dos cadeados do local foi rompido e muita coisa foi levada em meio ao caos.

“É angustiante ver tudo que construímos assim. O que mais temos é força para seguir. Só não sabemos como. Mas vamos seguir, vamos nos erguer novamente”, diz Olga.

Enquanto relatos foram colhidos, diversas vezes a solidariedade se fez presente. Pessoas passavam oferecendo quentinhas para os mais atingidos pelas enchentes. A água pode ter recuado, mas a solidariedade segue firme.

É o caso do grupo chamado ‘Panelão do Gugu’, organizado por Gugu Nader, que partiu acompanhado por cinco pessoas de Itumbiara, em Goiás, com objetivo de alimentar quem estivesse precisando.

Foram dois dias de viagem para chegar ao RS de caminhão, trazendo o que chamam de ‘a maior panela móvel do Brasil’. O equipamento já produziu 100 mil refeições entre Porto Alegre, Canoas e outras cidades da região. Naquela noite, mais cinco mil refeições seriam distribuídas. Um arroz carreteiro começava a ser preparado.

“O que tenho visto aqui é o povo ajudando o povo. Muita gente passa, muita gente fala, mas quem ajuda mesmo são uns aos outros. Eu já gastei, eu já fiz toda comida que trouxe. Agora, estamos cozinhando doações. Mas isso é que me faz seguir, poder ajudar as pessoas”, diz Gugu.

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