Menu
Torcida

“Goleiro tem que jogar com a mão”

“Eu sou contra. Lógico que o goleiro tem que ter os seus momentos, saber jogar com os pés, mas hoje os goleiros estão jogando mais com os pés do que com as mãos”

Lindauro Gomes

09/09/2019 5h31

Petronilo Oliveira e Olavo David Neto
redacao@grupojbr. com

Recém-contratado pelo Brasiliense, onde inicia sua terceira passagem pelo clube de Taguatinga, o técnico Mauro Fernandes recebeu o Jornal de Brasília no Centro de Treinamento do Jacaré. Além de falar evidentemente sobre o momento da agremiação candanga, o treinador, que está há 35 anos na profissão, falou sobre outros temas polêmicos.

Você é o terceiro técnico do Brasiliense no ano. Há um clima tenso no clube?

O que eu vejo é tranquilidade demais. Talvez porque não tem competição. Mas estou muito à vontade pra fazer o trabalho, até porque eu vim agora, cheguei dia 2, para passar um mês e avaliar. É a prova da confiança que a direção tem na minha pessoa. Quem eu achar que posso contar no próximo ano, fica. É a vida. Eu já passei pot grandes times e já fui embora, e os jogadores também. É uma rotatividade. Aquele que não está servindo ao clube, que encontre outro.

Pretende retomar às categorias de base no clube?

Em 2004, a gente tinha categoria de base forte aqui. Implantamos uma base da qual saíram alguns jogadores que atuaram no Brasiliense por muito tempo, como o Padovani e outros. A intenção é ter.

Muitos técnicos tiveram atrito com o Paulo Henrique (dirigente). Você exige autonomia?

Nunca tentaram me obrigar a escalar ninguém. Com relação ao extracampo, nada me preocupa. Meu trabalho é dentro de campo, e sou soberano pra fazer.

De quem você não abre mão do elenco atual?

Rapaz, ninguém tem cadeira cativa aqui. Tem jogadores que já jogaram em grandes clubes, como o Lúcio, que foi campeão mundial, mas ninguém tem cadeira cativa.

A partir de que mês o Brasiliense tem uma base pra 2020?

As contratações vão vir mesmo de meados de outubro até o final de dezembro. Eu vou ver o que aproveito aqui e em meados de novembro nós voltamos pra pré-temporada de 2020.

Brasiliense e Gama disputarão a Série D. Aumenta a pressão?

Eu ficaria muito feliz que Brasiliense e Gama se encontrassem aqui pra disputar o título, que subissem os dois. Seria muito bom para o futebol de Brasília ter uma competitividade a nível nacional. Eu acho que o futebol de Brasília tá carente disso.

Tem muita trairagem entre os treinadores?

Infelizmente, no futebol brasileiro não tem espaço para todo mundo trabalhar. Há treinadores dentro do futebol brasileiro que têm uma carreira sólida e não atrapalham, mas o começo é muito difícil. Por isso, às vezes existe uma concorrência tão grande, pois muitos treinadores não querem esperar a hora deles. Se não se permitisse um técnico treinar dois clubes da mesma divisão no mesmo campeonato, já seria muito bom para o futebol brasileiro. Dá segurança aos treinadores, ao próprio clube, seria fundamental.

O que achou da contratação de Mano Menezes para o lugar do Felipão no Palmeiras?

É muito difícil fazer uma análise da conduta do dirigente, até porque o nosso futebol, de 2014 pra cá, teve uma decadência muito grande. Não pela perda da Copa do Mundo no Brasil, mas porque aquele Copa tirou a essência do futebol brasileiro, que era de alegria, futebol em que os jogadores tinham um improviso muito grande dentro do campo. E quando veio a Copa do Mundo, a conquista da Alemanha com aquele futebol burocrático, acabou, sumiu o futebol alegre, o futebol moleque que o Brasil jogava. Eu digo sempre que na Copa, o goleiro da Alemanha jogou muito com os pés. Hoje, todo mundo acha que o goleiro tem que jogar com o pé. O goleiro tem que jogar com a mão! A gente vê muitos times perdendo jogos por irresponsabilidade da bola sempre rondar seu gol.

Eu sou contra. Lógico que o goleiro tem que ter os seus momentos, saber jogar com os pés, mas hoje os goleiros estão jogando mais com os pés do que com as mãos.

O que falta para a base dos times voltar a fazer camisa 10?

Nas categorias de base dos clubes, não há o trabalho de revelar jogador. Os treinadores da base ficam inseguros. Se o Flamengo perde o título para o Vasco, manda o treinador da base embora. Hoje, os próprios meias estão jogando do lado do campo. Isso é coisa dos anos 1960, 1970 e hoje voltou a se jogar com os pontas, mas sem um homem de criatividade. Na Copa de 1970, a gente tinha Rivelino, Paulo César, Pelé, Gerson, Tostão, eram cinco camisas 10 dos seus times, e ainda não foi Dirceu Lopes, Ademir da Guia, e muitos outros camisa 10 fantásticos do futebol brasileiro. É o jogador que dá qualidade, que permite aos pontas jogarem.

E sobre a falta de encaixe no esquema de Fernando Diniz?

Cada treinador tem seu jeito, seu estilo de trabalho. É muito difícil implantar o trabalho que o Fernando Diniz gostaria. Até porque os dirigentes não têm paciência.

O Neymar dá mais atenção às redes sociais que ao futebol?

Ele, como atleta e personalidade que é, dentro do futebol, foi por um caminho que não é correto. A pior coisa que aconteceu na carreira dele foi esse episódio (acusação de estupro). Até porque ele ia disputar uma Copa América, teve uma contusão, e isso tudo é reflexo do que ele tava tendo fora do campo. Porque ele não estava com a cabeça boa, e se não tem uma cabeça boa para jogar futebol, a tendência é você estar desligado e se machucar. E ele também vinha numa maré ruim, porque ficou fora dos grandes campeonatos.

Há supervalorização dos treinadores estrangeiros?

Não, até porque todos os técnicos brasileiros tiveram chance. Outros já treinaram fora do país. O Luxemburgo foi para o Real Madrid. Felipão já foi técnico de seleção europeia. Nós não podemos achar que os treinadores estrangeiros não têm espaço aqui, mas eles têm que vir e trazer alguma coisa que possa agregar ao futebol brasileiro.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado