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Campeã mundial de jiu-jitsu luta para seguir carreira no esporte

Apesar da falta de reconhecimento, a brasiliense Sofia Veloso sonha em competir internacional e conta sua trajetória em ascensão

Redação Jornal de Brasília

09/11/2021 21h06

Atualizada 10/11/2021 14h54

Foto: Luciana Costa/Jornal de Brasília

Luciana Costa
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Lutar jiu-jitsu é tão essencial como respirar para Sofia Veloso, de 25 anos. Campeã mundial pela IBJJF (Federação Internacional de Jiu-Jitsu, sigla em inglês), ela dedica-se ao esporte há cinco anos e coleciona medalhas do campeonato brasileiro e diversas outras competições. Sonhadora, ela montou uma estrutura de treinos e procura parcerias para avançar na carreira internacional.

Para competir e vencer o maior campeonato de Jiu-Jitsu no mundo, o ADCC (Abu Dhabi Combat Club, em inglês), Sofia treina seis horas diariamente, em horários intercalados das 10h30 às 22h, na garagem da casa do Mestre Renato ou na quadra de esportes da igreja. A lutadora destaca-se facilmente entre as adversárias pelo esforço incondicional e paixão pelo esporte.

Força, vontade, disciplina definem a Sofia também fora do tatame. Sedentária desde criança, ela pesava mais de 100 quilos aos 18 anos quando começou a frequentar às aulas. “Meu primeiro treino da vida foi decisivo para mim, eu lutei contra uma mulher, faixa roxa na época, que deveria ter no máximo 50kg, eu fiz toda a força do mundo contra ela e, simplesmente, apanhei horrores da senhora de 50 anos, que tinha metade da minha altura e do meu peso, cheguei em casa sem nem saber o que tinha acontecido”, relembrou ela com um sorriso largo no rosto.

Enquanto lidava internamente contra depressão e ansiedade, a garota desistia frequentemente de toda e qualquer atividade. O encontro com o esporte transformou-se em um processo genuíno de autoconhecimento e superação, no qual ela se viu entregue completamente ao oponente em uma condição de confiança mútua, a partir desse momento, Sofia se descobriu suficiente e capaz de alcançar seus sonhos por meio do jiu-jitsu.

Com brilho no olhar, ela contou como “tem treinos que são muito emocionais, a gente se entrega de uma forma tão verdadeira, que não tem como não sentir os efeitos na alma e no corpo. Por isso, o jiu-jitsu foi tão cativante para mim, é onde eu me sinto mais próxima da minha própria essência, problema nenhum existe depois de pisar no tatame”. A trajetória da campeã mundial e a luta pelo reconhecimento

Aos 23 anos, já era vencedora do campeonato brasileiro quando decidiu treinar intensamente por conta própria para competir no mundial de jiu-jitsu. Durante seis meses, ela se submeteu a uma rotina insana de exercícios, dieta e treinos, e poucas semanas antes, ela lesionou o quadril – motivo das inúmeras sessões de fisioterapia. Mas, Sofia não desistiu, ela não só lutou como uma leoa no tatame, e voltou para casa como campeã mundial e era como se nada tivesse acontecido.

“Não recebi ligações de patrocinadores, treinadores, nada. Estou pagando o preço até hoje pelo que fiz com meu corpo, não pude andar por dias”, ela continua séria: “Não foi trivial, eu ganhei o mundial com a melhor colocação da categoria de faixa azul desde o início do campeonato até aquele ano de 2019. Se isso acontecesse com homem, com certeza, a história seria diferente”, concluiu.

Sofia não pôde negar que o desapontamento, as lesões e falta de reconhecimento afetaram o empenho dela nos anos seguintes. Após dois anos, o Mestre Renato, 47 anos, firmou uma parceria com ela, concordou em treiná-la e, principalmente, estar presente em cada passo da carreira esportiva da lutadora. “Diferente das outras mulheres que praticam jiu-jitsu é o quanto ela se doa, o quanto ela treina duro para conseguir o que ela quer”, diz o mestre.

Hoje, faixa roxa na modalidade, Sofia treinou em diversas academias em Brasília, até encontrar o mestre, com quem teve uma conexão imediata por causa da paixão em comum pela luta. Jiu-Jitsu significa “arte versátil e suave”, Renato Simões traz o conceito para si:

“Não usamos o jiu-jitsu simplesmente como um esporte, mas como uma filosofia de vida, é exatamente isso que enriqueceu e tem sido mais importante na parceria com a Sofia”, com tom de voz firme, ao mesmo tempo, simpático, ele completou “a maior diferença da Sofia é o psicológico dela, é muito forte, uma força de vontade, ela é obstinada, não como uma teimosia, mas surge da motivação genuína, que tem a disciplina como consequência, é essa motivação dela que me motiva a ensiná-la”, afirma o mestre Renato.

O reconhecimento dos patrocinadores é vital para seguir a carreira tão desejada no esporte. No momento, ela conta com o primeiro patrocínio de uma empresa de construção, que está estampado em seu quimono. “Eu participo de competições locais todo mês, em cada uma, cerca de mil pessoas assistem minhas lutas tanto presencialmente quanto pelas transmissões ao vivo pelo Instagram e YouTube”, conta Sofia.

Agora, ela enfrenta dificuldades para realizar seus sonhos devido ao baixo reconhecimento dado ao Jiu-Jitsu feminino. Como lutadora defensora da causa feminista, ela promove a imagem de uma mulher brasileira e batalhadora, reconhecida nas academias de luta em Brasília.

Foto: Luciana Costa/Jornal de Brasília

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