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Brasileiro supera câncer na perna e amputação para realizar sonho de escalar o Monte Everest

A expedição fez duas pausas em vilarejos da região para aclimatação e enfrentou temperaturas que variaram de 10 graus a 15 graus negativos

Redação Jornal de Brasília

09/05/2022 5h39

Vinte anos depois do primeiro diagnóstico de câncer no joelho e quatro recidivas, que resultaram na amputação da perna esquerda e a retirada de parte do pulmão esquerdo, o paratleta goianiense João Carlos Rodovalho Costa, de 38 anos, comemorou em abril a chegada à base do Monte Everest, o mais alto do planeta, no Nepal.

Do início da trilha, no dia 10, na cidade de Lukla, ao acampamento Base Sul do Everest, que fica a uma altitude de 5.364 metros, foram sete dias, sendo cinco deles caminhando por cerca de seis horas diárias. A expedição fez duas pausas em vilarejos da região para aclimatação e enfrentou temperaturas que variaram de 10 graus – quando havia sol – a 15 graus negativos durante a noite.

Apesar de contar com apenas metade do pulmão esquerdo, Carlos Saci, como é conhecido em razão da perna amputada, só teve a oxigenação reduzida quando atingiu 4,9 mil metros de altitude. Ao final da trilha, Carlos foi buscado por helicóptero; não por exaustão, mas porque um pelo inflamado no coto da perna estava provocando muita dor. Mas o fato de ter trilhado a longa jornada já foi um prêmio.

SUPERAÇÃO E SONHO

A ideia de subir o Everest surgiu em 2019, quando um amigo participou de uma dessas expedições para o monte na Ásia. À época, ele treinava crossfit e, desde 2015, quando havia tido alta da última recidiva do câncer e, logo depois, sido campeão em uma corrida de obstáculos de muleta, buscava “novos desafios que me tirassem da zona de conforto e trouxessem outros tipos de treinamentos”, conta ele.

Incorporou à rotina de exercícios caminhadas, trilhas, musculação e fisioterapia. Com a pandemia da covid-19, o projeto que era para 2020 foi adiado para o ano seguinte e, depois, para este ano. Com o atraso no cronograma, os recursos dos patrocinadores já não foram suficientes e Carlos chegou a fazer uma vaquinha nas redes sociais para arrecadar R$ 20 mil e cobrir a diferença. Somou cerca de R$ 5 mil em doações.

De volta a Goiânia desde o dia 24, Carlos já pensa nos próximos desafios, o revezamento no Canal da Mancha, entre o Reino Unido e a França, para o qual tem o convite, e subir outras montanhas. “O esporte foi o que me ajudou nessa caminhada. Se antes o que me motivava era competir, hoje são os desafios pessoais”, afirma ele.

Essa rotina de superação teve início em 2001, quando, com 17 anos, teve o diagnóstico do primeiro câncer, que atingiu as partes moles do joelho esquerdo. Carlos já treinava natação e, três meses após ser diagnosticado com o sarcoma de Ewing, ele teve a perna amputada.

Esse sarcoma é um tumor maligno que ocorre predominantemente em ossos ou em partes moles. Afeta principalmente crianças, adolescentes e adultos jovens.

Carlos voltou às piscinas e em 2002 foi campeão brasileiro paralímpico nos 100 metros costas. Mas, em 2005, um exame de rotina apontou a existência de 12 nódulos no pulmão e o tratamento envolveu um autotransplante de medula. O paratleta, que tem 1,80 metro de altura, chegou a pesar somente 52 quilos. “Daquela vez, o retorno foi bem mais difícil”, lembra. Mas conseguiu voltar a dar braçadas na água.

Em 2009 e 2010 houve outras recidivas também no pulmão, o que levou à retirada de metade do órgão. “Foi quando ouvi do médico que não poderia mais competir, mas essa era a opinião dele, não a minha.” Mais uma vez Carlos retornou às provas de natação, só se aposentando das piscinas em 2014, quando passou a praticar crossfit. Desde 2016, quando removeu um único nódulo entre a pleura e o pericárdio, que Carlos permanece em remissão do câncer.

APOIO E INSPIRAÇÃO

Já são mais de 20 anos de superação e essa história Carlos Saci vem contando em palestras pelo Brasil. Está narrada também no livro Nascido para Vencer – Uma vida de Superações, lançado em 2019 de forma independente. A principal renda vem do trabalho como analista financeiro.

Além do esporte, Carlos tem outro desafio ao qual se dedica no momento: criar uma fundação para apoiar pessoas amputadas na aquisição de próteses. Ele conseguiu comprar a própria por meio de uma vaquinha que fez nas redes sociais e arrecadou R$ 60 mil. Assim como tem feito nos últimos anos, ele quer agora incentivar mais pessoas amputadas a superar as adversidades por meio do esporte.

Estadão Conteúdo

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