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Brasileiras fazem história em pódio internacional do esporte

Tauana Schmidt e Sandra Rita Barbosa emocionam com histórias de fé, luto, maternidade e coragem

Redação Jornal de Brasília

08/07/2025 18h28

Foto: Arquivo Pessoal

Foto: Arquivo Pessoal

Por Larissa Barros

Entre desafios e superações, as histórias de Tauana Schmidt e Sandra Rita Barbosa emocionam e inspiram. Após um processo de retomada emocional marcado por luto, maternidade recente e superação física, as duas servidoras do Detran-DF fizeram história nos Jogos Mundiais da Segurança Pública, realizados nos Estados Unidos. Tauana conquistou cinco medalhas de ouro nas provas de nado (100m, 200m, 400m, 800m e 1.500m), enquanto Sandra Rita, que utiliza uma perna mecânica, garantiu a prata nos 1.500m nado livre, competindo com atletas sem deficiência.

Tauana: natação como recomeço

Em um intervalo de cinco meses, Tauana enfrentou perdas profundas: o falecimento do filho recém-nascido, do pai e das duas avós. Foi nas piscinas que encontrou a força necessária para continuar. “Eu voltei a nadar logo após terminar o repouso do pós-parto da cesariana e da perda do meu último filho, como forma de processar tudo isso. Eu fiquei muito limitada fisicamente do meio para o final da gestação, porque meu bebê tinha ossos de vidro no pior grau, o que causou um excesso de líquido amniótico (três vezes mais que uma gestação saudável), então voltar a andar e conseguir nadar foi libertador”, detalha.

“Ao mesmo tempo que nadar me traz uma sensação muito prazerosa, eu ficava praticamente vendo meu pai ali ao lado da piscina, por ele ter sido meu maior incentivador nos dez anos em que eu fui federada. Eu resolvi voltar a nadar um pouco antes da partida dele, ele estava bem doente no hospital e eu contei pra ele dessa minha decisão de retornar, e ele ficou muito feliz. Então toda vez que eu ia nadar eu lembrava dele, e essa dor e saudade fez parte do processo do luto”, completa.

Em entrevista exclusiva ao Jornal de Brasília, a nadadora contou que já vinha de uma preparação física intensa há aproximadamente seis meses, focada em queima metabólica por conta do pós-parto. “Nesse processo, eu perdi sete quilos. Faltando dois meses para o Mundial, meus treinos de natação se voltaram especificamente para as provas da competição, e eu diminuí a frequência na academia para evitar exaustão muscular e lesões. Tanto meus treinos de natação quanto os de academia eu possuo assessorias de profissionais à distância, e eu os executo sozinha, sem personais ou técnicos presenciais”, conta.

A vitória, para Tauana, representou mais do que desempenho esportivo. “Ao terminar a última prova ao terceiro dia e perceber que, apesar da minha exaustão, tinha conseguido mais um ouro, veio um sentimento de realização muito grande. Foi emocionante porque lembrei do meu pai, que era meu maior incentivador e sempre vinha me parabenizar ao sair da piscina”. Tauana também destaca o papel essencial da fé e do apoio familiar no processo de reconstrução emocional.

“A fé em Deus e o esporte me movimentaram para processar as dificuldades da vida e trazer cura sobre a minha história. Cuidar da minha filha, Manuela, de cinco anos, também me dava forças para continuar a vida sem deixar o luto me vencer. É essencial destacar que tive muito apoio da minha igreja local, o Centro de Adoração Núcleo da Fé no Gama, tanto dos pastores César Lobo e Ilma, quanto dos amigos que possuo lá, como suporte emocional durante todo esse processo, desde a gestação até o momento dessa grande conquista”, conclui.

Sandra: o esporte como libertação

Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal

Já Sandra Rita Barbosa também carrega uma história de coragem, renascimento e resistência. Ela começou a nadar aos três anos, por recomendação médica, devido a problemas respiratórios. Treinou até a adolescência, mas acabou se afastando do esporte por conta da intensidade dos treinos. O retorno veio anos depois, em um dos momentos mais difíceis de sua vida, após um atropelamento em 2007, quando perdeu a perna esquerda. 

Durante a reabilitação, foi encaminhada para a natação paralímpica e logo se destacou pelo desempenho. “Disseram que eu nadava direitinho e que poderia representar bem o Brasil. Fui federada, competi em etapas nacionais e internacionais e até tentei por duas vezes uma vaga na Paralimpíada, mas não passei na seletiva. Mesmo assim, continuei competindo até a maternidade me fazer dar uma pausa. Minha filha tem seis anos e agora retomei os treinos com mais dedicação pela equipe New Wake, da APCEF, onde me sinto acolhida e motivada”.

Nos Jogos Mundiais, Sandra competiu sem adaptação, retirou a prótese e caiu na água ao lado de atletas convencionais. A surpresa veio justamente na prova mais longa, os 1.500 metros. “Nunca tinha nadado essa distância antes. Me inscrevi sem expectativa, mas no meio da prova percebi que tinha chance. Abri distância e me esforcei ao máximo. Quando terminei e vi que fiquei com a prata, foi um choque. Recebi muito carinho, até de voluntários. Foi uma experiência inesquecível”, comenta.

A nadadora acredita que o esporte foi o que a salvou emocionalmente após o acidente. “Quando sofri o acidente, aos 26 anos, tive depressão, vergonha do meu corpo, muitos complexos. Fiquei muito mal, precisei de ajuda psiquiátrica e física. Mas quando comecei a nadar com outras pessoas com deficiência, vi que elas levavam uma vida feliz, viajavam, competiam. Isso foi quebrando os tabus dentro de mim. Hoje me considero uma pessoa totalmente livre. Vou onde quiser, com ou sem perna. Não tenho vergonha de nada. O esporte me deu isso. A natação paralímpica me libertou”, relata.

“O que eu conquistei foi mérito meu, com muito treino, ninguém tira de mim. Isso é uma das maiores sensações do mundo”, diz Sandra, que já começou a se preparar para a próxima edição dos Jogos, em 2027, na Austrália. “Nunca imaginei nadar os 1.500 metros, mas foi justamente nessa prova que conquistei minha maior vitória. Quero focar agora em provas de resistência, porque percebi que tenho mais fôlego do que explosão. Em 2027, se tudo der certo, estarei lá representando o Brasil de novo”.

Estreia brilhante do Detran-DF

A autarquia conquistou oito medalhas, todas por atletas mulheres, em cinco modalidades: natação, atletismo, fisiculturismo, futebol masculino e xadrez. Além das conquistas de Tauana e Sandra, Andrea Angélica conquistou o ouro no fisiculturismo, e Suellen Keyze levou a prata nos 10.000 metros do atletismo. No quadro geral de medalhas, os Estados Unidos da América (EUA) ficou em primeiro lugar com 1.219 e o Brasil ficou em segundo, com um total de 698, sendo 249 de ouro, 232 pratas e 217 de bronze. Já a Índia ficou em terceiro, com 563 medalhas. Argentina, Peru e Kosovo ficaram em último lugar, com uma medalha de bronze cada uma.

O diretor-geral do Detran-DF, Marcu Bellini, ressaltou a importância dessa primeira participação da autarquia e incentivou os servidores. “Agradeço e parabenizo todos os atletas que se dispuseram a ir aos Estados Unidos para nos representar. Vocês foram brilhantes! Vamos nos organizar cada vez mais para que, nas próximas edições, possamos contar com ainda mais servidores, ampliando nossa representatividade, assim como ocorre com as demais forças de segurança pública”.

Para o especialista em atividades de trânsito, Tiago Moreira, que fez parte da comissão dos atletas do Detran de preparação para os jogos mundiais, foi positivo o resultado da autarquia, porque competiram pela primeira vez numa competição de nível internacional e com poucos atletas, foram conquistadas oito medalhas, além de ser um grande aprendizado para os atletas participantes.

Os Jogos são realizados a cada dois anos. A próxima edição está marcada para 2027. Há expectativa de que mais servidores do Detran-DF participem das próximas edições.

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