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Futebol

Argentina vence no hóquei em tarde de descobertas

Arquivo Geral

18/08/2016 19h12

Atualizada 25/08/2016 11h28

REUTERS/Vasily Fedosenko

Jorge Eduardo Antunes
Enviado especial ao Rio de Janeiro

A Argentina se tornou campeã olímpica de Hóquei sobre a Grama ao bater a Bélgica por 4 x 2, na tarde desta quinta-feira (18), em Deodoro. O jogo foi comandando pelos hermanos desde o primeiro tempo e a vitória levou a maioria do estádio ao delírio.

Complexo, no entanto, foi compreender as regras do Hóquei sobre a Grama – ou Hóquei em Campo. Embora pareçam simples, a interpretação sobre faltas e lances polêmicos foi incompreensível para mim, em meu primeiro jogo de hóquei na vida.

O jogo valeu para conhecer uma nova modalidade e um novo campeão olímpico – o título dos argentinos é o primeiro da história para o país. Também valeu para perceber a organização do Comitê Olímpico Internacional (COI), que colocou as torcidas belga e argentina em setores separados – o estádio de Deodoro é dividido apenas em setores, sem lugares marcados em cada área. E, por fim, para atestar que os caras torcem como loucos, mas são bem mais educados que os que vieram na Copa do Mundo e escandalizaram a todos pelos maus hábitos.

Outra emoção nova foi chegar no estádio de Deodoro, uma odisseia que envolve viagens de metrô e trem e grandes caminhadas a pé – a distância entre a estação de Magalhães Bastos e o estádio é de mais de um quilômetro.

O mais legal, lógico, é a mistura no trem. Talvez pela primeira vez, os vendedores ambulantes – que têm desde cerveja a chocolates e escova de dentes… – já avisam logo que quem pedir em inglês ou espanhol paga mais caro. “O Brasil tá em crise, gringo”, avisava Eduardo, que vendia dois Kit Kats de procedência duvidosa por R$ 5 para brasileiros e pelo dobro para os demais. E explicava o porquê. “Vai ver o hotel onde eles estão”, emendava.

O trajeto pelo subúrbio carioca também desnuda uma realidade menos alegre, a da queda da atividade econômica. Entre a Central do Brasil, estação cravada no meio da Avenida Presidente Vargas e que distribui o fluxo ferroviário para o Rio e cidades da Baixada Fluminense, e a de Madureira o que se vê é uma infinidade de imóveis comerciais fechados. Apenas nesta última é que há um comércio suburbano mais pujante.

Já o parque olímpico é um mar de tranquilidade e prosperidade, fomentadas pela ostensiva presença militar ali, que se estende desde a estação Deodoro até Magalhães Bastos, onde era recomendado saltar e andar a pé. Um trajeto longo, mas tranquilo, com soldados e tanques zelando pelas Olimpíadas, dando um aviso claro de quem manda na região.

O parque olímpico de Deodoro é outro lugar legal, mas bem mais modesto que o da Barra. Isso também revela duas realidades: a de que o eixo olímpico poderia privilegiar mais áreas suburbanas e menos as que são uma extensão natural do crescimento de uma cidade litorânea. Mas isso só é factível de esperar em projetos cujo planejamento vise os interesses da população, e não de quem vai pagar a conta – ou de quem vai lucrar com ela, melhor dizendo.

O dia fora do eixo olímpico da zona sul valeu para ver os títulos dos “leones”, apelido do time argentino, e para refletir um pouco sobre os legados dos jogos. Eles existem, pois metrô para a Barra vai ajudar muito trabalhador a chegar em casa mais cedo. Mas seriam maiores se olhassem quem realmente precisa destes jogos – alguém como o Eduardo, que saberia que não adianta vender pelo dobro por uns dias e pagar a conta da festa alheia pelo resto da vida.

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