Menu
Saúde

UnB pesquisa danos neurológicos da covid-19

Estuda analisa as consequências da doença no sistema nervoso dos pacientes que foram infectados

Lucas Neiva

15/06/2020 5h27

Foto: Agência Brasilcoronavirus

Efeitos no sistema nervoso foram detectados em cerca de 30% a 40% dos pacientes infectados

Uma pesquisa realizada na Universidade de Brasília em parceria com diversas universidades federais e hospitais no Distrito Federal, Ceará e São Paulo está sendo realizada para tentar identificar quais são as possíveis causas para os danos neurológicos detectados em pacientes contaminados com a covid-19.

“Já foi identificado que o vírus Sars-Cov-2 possui a capacidade de invadir o sistema nervoso central. Não é todo mundo que apresenta essas manifestações neurológicas, e ainda não se sabe porque algumas pessoas podem sofrer com essa invasão. O que nós queremos saber é por que isso acontece. O que faz com que algumas pessoas tenham esses sintomas e outras não”, explica o médico neurologista e professor da Faculdade de Medicina da UnB Felipe Von Glehn.

Os efeitos colaterais neurológicos do covid-19 foram detectados em cerca de 30% a 40% dos pacientes infectados. O sintoma mais comum dessa invasão ao sistema nervoso central, de acordo com o médico e pesquisador, é a perda do olfato e paladar. Mas também já foram registradas convulsões, dores de cabeça, ou mielites (inflamação na medula espinhal que provoca problemas motores).

Nervo olfatório

Para a realização da pesquisa, as universidades e hospitais envolvidos recolhem amostras de material biológico dos pacientes internados, como fluídos do nariz, sangue e líquido colhido na medula espinhal. No caso da UnB, a busca por material vai mais adiante. “Estamos fazendo uma análise patológica nos pacientes que vierem a óbito. (…) No caso dos pacientes que vêm a óbito, se a família autorizar, a gente vai retirar o nervo olfatório para identificar sinais da presença do vírus”. Também são adotadas ressonâncias cerebrais, eletroencefalogramas e exames nos nervos.

Atualmente existem duas principais hipóteses acerca da ação do vírus no sistema nervoso central. Uma delas é considera a possibilidade do vírus atacar diretamente os neurônios, enquanto que a outra seria de que os sintomas seriam resultado da ação de um mecanismo de defesa do organismo contra o vírus, mas que acaba provocando danos aos neurônios.

Felipe afirma que os equipamentos adquiridos com o investimento na pesquisa não serão utilizados somente para fins acadêmicos, mas também para exames hospitalares. “A gente visa também o lado social. Queremos deixar esse material à disposição de pacientes do Sistema Único de Saúde. Achamos importante deixar um legado para o hospital, para que todos se beneficiem do equipamento que a gente compra”.

Síndrome em crianças

Enquanto que em adultos uma parcela dos pacientes desenvolve danos neurológicos, nas crianças com covid-19 existe o risco de se desenvolver a Síndrome Inflamatória Multissistêmica, uma síndrome rara mas que requer atenção especial e leva crianças à internação.

“A gente observa na covid-19 que, em algumas situações, o organismo desenvolve uma resposta inflamatória tão acentuada que pode causar disfunção de diversos órgãos”, explica a médica infectologista e professora da UnB Valéria Paes Lima. Esse quadro já chegou a ser associado ao da doença de Kawasaki, uma mal que afeta o desenvolvimento do sistema vascular da criança, mas estudos mais recentes descartam essa possibilidade.

Saiba Mais 

Os sintomas da Síndrome Inflamatória Multissistêmica incluem febre, dificuldade para respirar, alterações na mucosa da boca e alterações cardíacas. “É um quadro grave que precisa ser identificado rapidamente pelos médicos. Geralmente é uma criança grave a ponto de precisar de internação hospitalar”, afirma a infectologista Valéria Lima.

Valéria afirma que esse quadro, mesmo que grave, ainda é raro, e ainda não foi oficialmente registrado no Distrito Federal.

“O mais habitual na pediatria é que as manifestações clínicas sejam mais leves. (…) A gente sabe que isso pode acontecer, mas é um evento raro”, conta a médica.

A orientação dada aos hospitais é de acompanhar o desenvolvimento da doença em mulheres grávidas e em crianças para que, caso a síndrome se desenvolva, seja imediatamente identificada.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado