Quase todos os amigos que conheço em Brasília são umas figuraças. Às segundas-feiras, uns e outros nos encontramos num boteco da Asa Sul – para falar de política, de futebol e da vida dos outros (especialmente daqueles ausentes) e para olhar as mulheres que lotam as mesas. Quem chega primeiro é João, um executivo garanhão, que dá em cima até de secretária eletrônica (sem contar as estagiárias e prestadoras de serviço). O cara não pode ver rabo de saia, aliás, não pode ver mulher de calça, de vestido, de calça, de biquíni, do que for. No bar, não fica perna de cadeira em que ele não dê uma encarada. Outro amigo é Oséas, que é rápido em tudo, até no falar. O nome dele bem que poderia ser Enéas, o candidato que ganhou milhões de votos apenas com 15 segundos de aparição na TV. Enéas, ou melhor, Oséas, num piscar de olhos já está sentado numa mesa de mulheres. Mas dificilmente ele emplaca um voto – fica que nem mosca de padaria. Mais apressado que Oséas só Bruno, que é assessor parlamentar. Antes de tomar todas, ele já está beijando a primeira que encontra. No carro, quando estamos indo para o bar, antes de a gente fechar a porta do veículo, ele já está dizendo: “Tá aberta!”. Parece que o cara adivinha que a porta não vai fechar direito. Aí, você fecha com força, para não ouvir o “tá aberta”, e ele reclama: “Minha porta não é cancela, não!”. Na mesa do bar, antes de o celular tocar, Bruno já está dizendo alô. Às vezes, ele está falando sozinho, com o aparelho grudado no ouvido, e o bichinho toca…Trrrriiiim! Ele não perde as estribeiras, diz que é mania, visão de futuro, coisa e tal. Ele atende no “toque zero” – isso que é rapidez! Já Luiz, bancário, é o rei do trocadilho: “Sou caixa de banco e trabalho em pé”. O cara passa o dia todo em pé, autenticando papel e ouvindo reclamação de cliente. Ela parafraseia Euclides: “Sou, antes de tudo, um forte: trabalho em pé, com todo dinheiro do mundo, mas não tenho onde cair”. Otávio, ou “Contrávio”, é o último que chega. E já vem com a cara amarrada. “Não sei do que vocês estão falando, mas antecipo que sou contra desde já”. Para ele, a cerveja está sempre quente, a comida tá estragada e a conta vem sempre errada (para mais). E ainda diz que só tem mulher feia no pedaço. Feio é ele! Agora, pense numa confusão. Oséas virou-se para uma gatinha e pediu: “Me empresta seu fogo?”. E a mocinha, que não fumava, sorriu: “Você quer com açúcar, adoçante ou batata frita?”. Oséas não teve alternativa: “OK, você venceu: batata frita”. E voltou à mesa, onde fizemos um brinde às batatas.