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Isaac Corcias

Arquivo Geral

19/07/2003 0h00

Meus amigos, não sei se vocês leram nos jornais desta semana, mas vejam que notícia boa: “Renomado cientista do Reino Unido descobriu que burrice é doença genética e que deveria ser tratada”. O tal cientista James Watson um dos biólogos que participou do descobrimento da estrutura do DNA afirma: a baixa inteligência tem cura sim. Poderá ser tratada.

Fiquei feliz com a notícia e logo comecei a elaborar uma lista daqueles que eu apontaria ao dr. Watson. Gente por exemplo sem imaginação, aqueles outros que não perceberam ainda que o mundo mudou e que para comandar hoje é necessário não somente a legitimidade, mas principalmente e antes de qualquer coisa a capacidade de ser um líder é ter apoio de sua equipe.

Era como nos seus contos em que meu avô ilustrava o que tento dizer. Certa vez, contava que ia, com o seu ajudante, em uma carroça, cheia de temperos num daqueles íngremes caminhos das montanhas quando se deparou com uma ladeira. Imediatamente desceu da carroça e penosamente encarou a rampa a pé. O seu ajudante subiu com a carroça puxada pelo burro até o topo do caminho. Foi quando o ajudante que não tinha entendido nada, questionou o seu procedimento. Meu avô respondeu: “Tenho medo de que o burro apresente na corte celestial uma queixa por eu não ter tido pena dele e obrigá-lo a me transportar ladeira acima”. O ajudante o questionou: “E daí? Acaso o senhor não teria argumentos para justificar perante o Criador, que afinal das contas, a causa existencial de um burro é o transporte de cargas e pessoas?”

Ele olhou firme para o seu ajudante e disparou: “Não tenho dúvidas que meus argumentos seriam muito claros. Mas prefiro assim. Mesmo que tenha que subir a ladeira a pé de novo dezenas de vezes, não vou correr o risco de me envolver pela eternidade num litígio com um burro!”.

Penso que ele tinha razão. É melhor calar a boca que se envolver em polêmicas inúteis. Brigar por coisas não fundamentais é burrice… quem sabe vai poder ser tratado. Siga o conselho do meu velho avô. Se faça de surdo, se faça de bobo, vai dormir sozinho. No dia seguinte com certeza poderemos saborear melhor a vida. Adoce a vida do seu colega de trabalho, sua mãe, da sua filha, da sua namorada. Burrice é brigar à toa. Burrice é se envolver em litígios. Faça isto pelo menos até que seja comercializado o tratamento do dr. Watson contra a burrice. Lembre-se do lema que usamos no restaurante: o freguês sempre tem razão!.

A tempo: cientistas de todo o mundo rebateram as afirmações de Watson conhecidamente um cientista polêmico. Continuo a achar porém que o dever dos geneticistas seria descobrir a cura da burrice, antes de mais nada. Acabariam as guerras e todos seríamos mais felizes.

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    Isaac Corcias

    Arquivo Geral

    19/07/2003 0h00

    Meus amigos, não sei se vocês leram nos jornais desta semana, mas vejam que notícia boa: “Renomado cientista do Reino Unido descobriu que burrice é doença genética e que deveria ser tratada”. O tal cientista James Watson um dos biólogos que participou do descobrimento da estrutura do DNA afirma: a baixa inteligência tem cura sim. Poderá ser tratada.

    Fiquei feliz com a notícia e logo comecei a elaborar uma lista daqueles que eu apontaria ao dr. Watson. Gente por exemplo sem imaginação, aqueles outros que não perceberam ainda que o mundo mudou e que para comandar hoje é necessário não somente a legitimidade, mas principalmente e antes de qualquer coisa a capacidade de ser um líder é ter apoio de sua equipe.

    Era como nos seus contos em que meu avô ilustrava o que tento dizer. Certa vez, contava que ia, com o seu ajudante, em uma carroça, cheia de temperos num daqueles íngremes caminhos das montanhas quando se deparou com uma ladeira. Imediatamente desceu da carroça e penosamente encarou a rampa a pé. O seu ajudante subiu com a carroça puxada pelo burro até o topo do caminho. Foi quando o ajudante que não tinha entendido nada, questionou o seu procedimento. Meu avô respondeu: “Tenho medo de que o burro apresente na corte celestial uma queixa por eu não ter tido pena dele e obrigá-lo a me transportar ladeira acima”. O ajudante o questionou: “E daí? Acaso o senhor não teria argumentos para justificar perante o Criador, que afinal das contas, a causa existencial de um burro é o transporte de cargas e pessoas?”

    Ele olhou firme para o seu ajudante e disparou: “Não tenho dúvidas que meus argumentos seriam muito claros. Mas prefiro assim. Mesmo que tenha que subir a ladeira a pé de novo dezenas de vezes, não vou correr o risco de me envolver pela eternidade num litígio com um burro!”.

    Penso que ele tinha razão. É melhor calar a boca que se envolver em polêmicas inúteis. Brigar por coisas não fundamentais é burrice… quem sabe vai poder ser tratado. Siga o conselho do meu velho avô. Se faça de surdo, se faça de bobo, vai dormir sozinho. No dia seguinte com certeza poderemos saborear melhor a vida. Adoce a vida do seu colega de trabalho, sua mãe, da sua filha, da sua namorada. Burrice é brigar à toa. Burrice é se envolver em litígios. Faça isto pelo menos até que seja comercializado o tratamento do dr. Watson contra a burrice. Lembre-se do lema que usamos no restaurante: o freguês sempre tem razão!.

    A tempo: cientistas de todo o mundo rebateram as afirmações de Watson conhecidamente um cientista polêmico. Continuo a achar porém que o dever dos geneticistas seria descobrir a cura da burrice, antes de mais nada. Acabariam as guerras e todos seríamos mais felizes.

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      Isaac Corcias

      Arquivo Geral

      05/07/2003 0h00

      Contam que, na época da Primeira Grande Guerra, um velho cozinheiro costumava cultivar no quintal do seu restaurante os temperos que costumava usar. Quando lhe perguntaram por que não comprava no mercado e dava a si próprio o trabalho de cultivar seus temperos, ele respondeu: “Ninguém, sou eu”.

      Esta lenda talvez ilustre como o trabalho de fazer as coisas pessoalmente na vida diária ou na cozinha é mais que uma responsabilidade, porque lidamos com sentimentos ou, por exemplo, com o fato de cozinhar para os demais.

      Então, plantar os temperos e esperar que eles cresçam para depois usar, ou plantar no coração dos outros humildade, nos ajuda a permanecer no caminho do alimento espiritual.

      Ao plantar, para cozinhar com plena consciência, exercitamos de alguma maneira nossa consciência interior, e exercitamos o dom da paciência e do amor. Lembro que, quando estudei num colégio dos jesuítas, interessei-me pela vida do fundador da ordem Ignacio de Loyola.

      Uma parte dos exercícios espirituais era fazer no final do período um “exame de consciência” da nossa relação com Deus e com os demais.

      Acho que elaborar, por exemplo, uma simples pizza, seria alguma coisa como que uma tarefa espiritual. Depois de ler a receita e explicar para meu ajudante, respiro profundamente e tento relaxar. Quando a massa começa a fermentar, isso me ajuda a refletir sobre como estou participando da vida e como posso fazer “fermentar” em minha consciência espiritual a minha relação com o ajudante.

      Cozinhando, podemos examinar os nossos atos, omissões, pensamentos e desejos. Como tenho tratado minha família? Meus amigos? Meus empregados? Ou a minha mulher?

      Tenho dado meu tempo para tornar a vida de outras pessoas melhor? Tenho ressentimentos? Ao falar com os outros, tenho procurado não ferir com minhas palavras? Faço parte do problema ou da solução?

      Ao cozinhar, muitas vezes, penso que os alimentos, pela sua natureza sustentadora de vida, são uma porta natural de entrada ao estado de plena consciência.

      O fato é que tentar envolver o nosso espírito no ato de cozinhar ou em nosso dia-a-dia nos permite descobrir quais são nossos desejos ocultos.

      Como cliente, permite-nos de ter a experiência de comer mentalmente atentos e conscientes. É assim que, além do nosso corpo, alimentamos também o nosso espírito.

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        Isaac Corcias

        Arquivo Geral

        05/07/2003 0h00

        Misture os sete primeiros ingredientes e tempere com sal e pimenta-do-reino a gosto. Coloque numa fôrma refratária aredondada. Cubra com o bacon. Leve ao forno microondas por 12 minutos em temperatura máxima. Escorra o líquido que se formar. Deixe depois descansar por cinco minutos e complete dourando no forno por mais uns oito minutos.

        Sirva guarnecido de champignons refogados na manteiga.

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          Isaac Corcias

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          05/07/2003 0h00

          Misture os sete primeiros ingredientes e tempere com sal e pimenta-do-reino a gosto. Coloque numa fôrma refratária aredondada. Cubra com o bacon. Leve ao forno microondas por 12 minutos em temperatura máxima. Escorra o líquido que se formar. Deixe depois descansar por cinco minutos e complete dourando no forno por mais uns oito minutos.

          Sirva guarnecido de champignons refogados na manteiga.

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            Isaac Corcias

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            05/07/2003 0h00

            Contam que, na época da Primeira Grande Guerra, um velho cozinheiro costumava cultivar no quintal do seu restaurante os temperos que costumava usar. Quando lhe perguntaram por que não comprava no mercado e dava a si próprio o trabalho de cultivar seus temperos, ele respondeu: “Ninguém, sou eu”.

            Esta lenda talvez ilustre como o trabalho de fazer as coisas pessoalmente na vida diária ou na cozinha é mais que uma responsabilidade, porque lidamos com sentimentos ou, por exemplo, com o fato de cozinhar para os demais.

            Então, plantar os temperos e esperar que eles cresçam para depois usar, ou plantar no coração dos outros humildade, nos ajuda a permanecer no caminho do alimento espiritual.

            Ao plantar, para cozinhar com plena consciência, exercitamos de alguma maneira nossa consciência interior, e exercitamos o dom da paciência e do amor. Lembro que, quando estudei num colégio dos jesuítas, interessei-me pela vida do fundador da ordem Ignacio de Loyola.

            Uma parte dos exercícios espirituais era fazer no final do período um “exame de consciência” da nossa relação com Deus e com os demais.

            Acho que elaborar, por exemplo, uma simples pizza, seria alguma coisa como que uma tarefa espiritual. Depois de ler a receita e explicar para meu ajudante, respiro profundamente e tento relaxar. Quando a massa começa a fermentar, isso me ajuda a refletir sobre como estou participando da vida e como posso fazer “fermentar” em minha consciência espiritual a minha relação com o ajudante.

            Cozinhando, podemos examinar os nossos atos, omissões, pensamentos e desejos. Como tenho tratado minha família? Meus amigos? Meus empregados? Ou a minha mulher?

            Tenho dado meu tempo para tornar a vida de outras pessoas melhor? Tenho ressentimentos? Ao falar com os outros, tenho procurado não ferir com minhas palavras? Faço parte do problema ou da solução?

            Ao cozinhar, muitas vezes, penso que os alimentos, pela sua natureza sustentadora de vida, são uma porta natural de entrada ao estado de plena consciência.

            O fato é que tentar envolver o nosso espírito no ato de cozinhar ou em nosso dia-a-dia nos permite descobrir quais são nossos desejos ocultos.

            Como cliente, permite-nos de ter a experiência de comer mentalmente atentos e conscientes. É assim que, além do nosso corpo, alimentamos também o nosso espírito.

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              Isaac Corcias

              Arquivo Geral

              28/06/2003 0h00

              A semana não foi fácil… Você chega a casa e resolve se permitir deixar para a próxima segunda-feira aquelas decisões importantes, sair para o barzinho da esquina, tomar uma cervejinha e relaxar… Logo chega o garçom com o cardápio. “Deseja escolher?”, pergunta, atencioso. E você cai de novo na real. A vida é sem dúvida a arte de escolher – o tempo todo. Muitas vezes escolher é o maior dom que as pessoas possuem, mas pode nos causar medo o angústia. Ao sermos impedidos a escolher, percebemos que temos medo de muitas coisas… Medo da doença, da morte, de perder o emprego, de ficarmos pobres… Temos medo muitas vezes das escolhas que impliquem mudanças radicais: uma nova carreira, um novo lar… Temos medo de ficar sozinhos, de não ser aceitos pelos outros, pelas nossas famílias e nossos amigos, pela mulher que amamos… Medo, angústia e depressões são fatores básicos que impelem grande parte do comportamento humano. O medo das “escolhas” entra aí. De um simples prato no cardápio a escolhas fundamentais, a escolha serve, porém, a um propósito valioso: permite-nos enxergar seu poder a ponto de não nos tornarmos reféns.

              Estará macia a carne hoje? A paella de frutos do mar… Valerá a pena experimentar? Devo ou não aceitar esse emprego? Estarei apto a lidar com este problema? O que minha família, meus amigos irão pensar de eu optar por fazer uma mudança na minha vida?

              Concluímos, porém, que a nossa liberdade de escolha é uma a nossas maiores bênçãos. Principalmente quando a escolha não se refere a um simples prato no cardápio.

              Isso se verifica quando a escolha implica também respeito pelo sentido da nossa dignidade ou quando achamos que devemos não devemos aceitar imposições injustas ou arbitrárias.

              Por este motivo, meu amigo, esclareça as dúvidas sobre o prato que irá escolher, porque, assim como na vida, ao mesmo tempo em que a dúvida floresce na escuridão da perplexidade, o fato de escolher abre a porta para a luz da lucidez. Então, tanto na escolha da sua paella quanto na escolha de grandes mudanças na sua vida, se você achar que está certo, vá em frente!

              Na escolha da sua paella, eu garanto… Nas escolhas da vida, deixe que a alegria, o entusiasmo e inspiração de Deus entrem no seu momento. Uma luz brilhante irá iluminar cada canto escuro onde o medo possa florescer.

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                Isaac Corcias

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                Estará macia a carne hoje? A paella de frutos do mar… Valerá a pena experimentar? Devo ou não aceitar esse emprego? Estarei apto a lidar com este problema? O que minha família, meus amigos irão pensar de eu optar por fazer uma mudança na minha vida?

                Concluímos, porém, que a nossa liberdade de escolha é uma a nossas maiores bênçãos. Principalmente quando a escolha não se refere a um simples prato no cardápio.

                Isso se verifica quando a escolha implica também respeito pelo sentido da nossa dignidade ou quando achamos que devemos não devemos aceitar imposições injustas ou arbitrárias.

                Por este motivo, meu amigo, esclareça as dúvidas sobre o prato que irá escolher, porque, assim como na vida, ao mesmo tempo em que a dúvida floresce na escuridão da perplexidade, o fato de escolher abre a porta para a luz da lucidez. Então, tanto na escolha da sua paella quanto na escolha de grandes mudanças na sua vida, se você achar que está certo, vá em frente!

                Na escolha da sua paella, eu garanto… Nas escolhas da vida, deixe que a alegria, o entusiasmo e inspiração de Deus entrem no seu momento. Uma luz brilhante irá iluminar cada canto escuro onde o medo possa florescer.

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                  Isaac Corcias

                  Arquivo Geral

                  21/06/2003 0h00

                  Trabalhava em Tel Aviv, num hotel renomado. Quis fazer parte de uma ONG como voluntário. Nosso papel era entregar comidas em domicílio para pessoas idosas e carentes. Lembro de um dia em que recebi uma chamada telefônica da coordenadora. Ela estava desesperada. Tinha acontecido um acidente na estrada que ligava a Tel Aviv a Kfar Saba, no norte de Israel, e não estávamos conseguindo fazer uma entrega a um casal de idosos. Fiquei responsável por viajar com o meu parceiro, Amran, para tentar contornar o problema. Junto às quentinhas, levava a “ficha” e as características daquelas pessoas a quem iríamos entregar a comida. Conseguimos contornar o bloqueio na estrada e, quase chegando ao local da entrega, alguma coisa atraiu minha atenção na ficha da pessoa que iria visitar: a palavra artista. Profissão um tanto curiosa, já que geralmente só escreviam “aposentado”. Chegando ao nosso destino, batemos suavemente na porta do modesto apartamento. Morava na casa um casal de imigrantes russos. Na época, para a União Soviética deixar imigrar um casal jovem, era preciso mandar junto um casal de idosos… Uma curiosa maneira de se livrar do problema da terceira idade. Uma senhora pequena abriu a porta do apartamento. Ao entrar, pus a comida acima da mesa – mas não resisti e perguntei: “Seu marido é… artista?”. Ela me olhou e perguntou surpresa: “Como descobriu?”. Fui direto: “Está escrito aqui, na ficha”. Foi quando, olhei para a parede e vi uma pintura. “Ele que pintou”, contou-me, com orgulho, a senhora. Olhei a tela de perto: representava com detalhes surpreendentes um galpão num campo de prisioneiros na Sibéria, onde o marido tinha ficado preso por vários anos. “É muito bonito”, comentei, emocionado, diante da tela, que retratava a porta aberta e o sol entrando no alojamento dos presos. A velha senhora sorriu, tirou o quadro da parede e me entregou. “É um presente”, disse. Claro que recusei. “Imagine, não precisa…”, retorqui. Desapontada, ela contou que as pessoas não compravam o que o marido pintava, lamentando que nem mesmo eu queria levar a tela de graça. Claro que não era isso, argumentei. Aceitamos porém, eu e meu parceiro Amran, um pedacinho de frango frito à moda russa e um suco de laranja, e logo estávamos de volta a Tel Aviv. Passando muito tempo, no mês de maio recebi um e-mail do Amran, meu parceiro, com quem mantenho contato até hoje. O velho casal morreu faz uns dez anos… sem família. Depois da morte do casal, alguém descobriu seus quadros… deixados no quarto dos fundos do pequeno apartamento. O quadro que me tinha sido oferecido pela senhora foi vendido no mês passado num leilão por US$ 20 mil!!!

                  O artista tinha deixado uma carta para vender suas coisas (tipo geladeira, sofá, etc.) e doar o apurado para a instituição que lhe mandava a comida… Por capricho do destino, ele está pagando após sua morte – e, como diríamos aqui no Brasil, com juros e correção monetária –, com o dinheiro arrecadado pela venda das suas telas, toda a ajuda que recebeu em vida. Todo isso me fez pensar que na vida devemos prestar atenção aos pequenos fatos do dia-a-dia e, assim sendo, quem sabe descobriremos numa tela um artista desconhecido e promissor, que tocará nossa alma?

                  Quem sabe, na mesa de um restaurante, um compositor… ou um poeta que nos fará sonhar? Quem sabe atrás dos olhos de uma linda desconhecida acharemos uma mulher especial e definitiva, que nos fará acreditar no amor dos artistas e dos poetas?

                  Deveria ter aceitado o quadro naquele dia, não apenas pelo seu grande “valor material” – mas sobretudo porque retratava que, mesmo no desespero, um artista pode ver esperança e sempre há uma porta aberta para a liberdade.

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                    Isaac Corcias

                    Arquivo Geral

                    21/06/2003 0h00

                    Trabalhava em Tel Aviv, num hotel renomado. Quis fazer parte de uma ONG como voluntário. Nosso papel era entregar comidas em domicílio para pessoas idosas e carentes. Lembro de um dia em que recebi uma chamada telefônica da coordenadora. Ela estava desesperada. Tinha acontecido um acidente na estrada que ligava a Tel Aviv a Kfar Saba, no norte de Israel, e não estávamos conseguindo fazer uma entrega a um casal de idosos. Fiquei responsável por viajar com o meu parceiro, Amran, para tentar contornar o problema. Junto às quentinhas, levava a “ficha” e as características daquelas pessoas a quem iríamos entregar a comida. Conseguimos contornar o bloqueio na estrada e, quase chegando ao local da entrega, alguma coisa atraiu minha atenção na ficha da pessoa que iria visitar: a palavra artista. Profissão um tanto curiosa, já que geralmente só escreviam “aposentado”. Chegando ao nosso destino, batemos suavemente na porta do modesto apartamento. Morava na casa um casal de imigrantes russos. Na época, para a União Soviética deixar imigrar um casal jovem, era preciso mandar junto um casal de idosos… Uma curiosa maneira de se livrar do problema da terceira idade. Uma senhora pequena abriu a porta do apartamento. Ao entrar, pus a comida acima da mesa – mas não resisti e perguntei: “Seu marido é… artista?”. Ela me olhou e perguntou surpresa: “Como descobriu?”. Fui direto: “Está escrito aqui, na ficha”. Foi quando, olhei para a parede e vi uma pintura. “Ele que pintou”, contou-me, com orgulho, a senhora. Olhei a tela de perto: representava com detalhes surpreendentes um galpão num campo de prisioneiros na Sibéria, onde o marido tinha ficado preso por vários anos. “É muito bonito”, comentei, emocionado, diante da tela, que retratava a porta aberta e o sol entrando no alojamento dos presos. A velha senhora sorriu, tirou o quadro da parede e me entregou. “É um presente”, disse. Claro que recusei. “Imagine, não precisa…”, retorqui. Desapontada, ela contou que as pessoas não compravam o que o marido pintava, lamentando que nem mesmo eu queria levar a tela de graça. Claro que não era isso, argumentei. Aceitamos porém, eu e meu parceiro Amran, um pedacinho de frango frito à moda russa e um suco de laranja, e logo estávamos de volta a Tel Aviv. Passando muito tempo, no mês de maio recebi um e-mail do Amran, meu parceiro, com quem mantenho contato até hoje. O velho casal morreu faz uns dez anos… sem família. Depois da morte do casal, alguém descobriu seus quadros… deixados no quarto dos fundos do pequeno apartamento. O quadro que me tinha sido oferecido pela senhora foi vendido no mês passado num leilão por US$ 20 mil!!!

                    O artista tinha deixado uma carta para vender suas coisas (tipo geladeira, sofá, etc.) e doar o apurado para a instituição que lhe mandava a comida… Por capricho do destino, ele está pagando após sua morte – e, como diríamos aqui no Brasil, com juros e correção monetária –, com o dinheiro arrecadado pela venda das suas telas, toda a ajuda que recebeu em vida. Todo isso me fez pensar que na vida devemos prestar atenção aos pequenos fatos do dia-a-dia e, assim sendo, quem sabe descobriremos numa tela um artista desconhecido e promissor, que tocará nossa alma?

                    Quem sabe, na mesa de um restaurante, um compositor… ou um poeta que nos fará sonhar? Quem sabe atrás dos olhos de uma linda desconhecida acharemos uma mulher especial e definitiva, que nos fará acreditar no amor dos artistas e dos poetas?

                    Deveria ter aceitado o quadro naquele dia, não apenas pelo seu grande “valor material” – mas sobretudo porque retratava que, mesmo no desespero, um artista pode ver esperança e sempre há uma porta aberta para a liberdade.

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                      14/06/2003 0h00

                      Foi na cozinha da minha mãe que minha paixão pela culinária começou, quando eu tinha uns nove anos de idade. Com a cumplicidade da nossa cozinheira, passei a preparar estranhas misturas de tudo que encontrava na cozinha, misturas que na verdade ninguém tinha coragem de experimentar. Nesta semana, comprei num sebo um livro de José Cruset editado em espanhol em 1970. Nele, o autor fala não somente das normas das diversas cozinhas, mas daquilo que ele apelida de cozinha insólita. Vejamos o que alguns povos comem. Asno – Era apreciado pelos romanos e também na Ásia. Os onagros (asnos selvagens) eram e são comidos ainda pelos persas. O leite das burras era usado na medicina: acreditava-se que combatia a tuberculose. Camelo – Este animal tem demasiadas qualidades, e a vida no deserto sem ele seria impensável. Paciente e resistente, até hoje é iguaria em países do Oriente Médio. Comi uma vez. Pareceu-me uma carne fibrosa, meio indigesta. O leite de camela, naqueles países, tem fama de ser afrodisíaco. Canguru – Já comi. Parece com a carne de coelho selvagem é muito perfumada. Os filés de canguru da parte da cauda parecem ser saborosos. Na Austrália, uma lei protege os cangurus dos aborígenes que acham sua causa assada uma iguaria. Crocodilo – Muita gente gosta. Aqui mesmo no Brasil, comi uma vez no Pantanal, e me pareceu como carne de porco. Não gostei. Na Etiópia, alguns dos pratos mais caros são feitos com as tripas do réptil. Confesso que não saberia preparar tal prato. Formigas – São comidas em muitos lugares, na África e na Ásia. Já achei em conserva num supermercado nos Estados Unidos. Não provei.

                      Leão – O rei da selva, parece, se come em alguns países da África. O adolescente teria de caçar e depois cozinhar o leão. Li que parece com carne de terneira. Macaco – Quem não se lembra dos filmes do Templo da Perdição? Os chineses, dizem, adoram especialmente seus miolos. Nunca provei, e você? Tartaruga – Muito procurada em algumas regiões pela sua carne, que é servida de vários modos, tipo sopas, guisados e até em sarapatel. Em Brasília, no restaurante Dom Francisco, você poderá experimentar preparada pelo meu amigo Francisco Assiero. É rica em vitaminas e proteínas e tem baixo valor calórico. Finalmente, cachorro – Vejam a polêmica na Copa do mundo na Coréia – onde, como em algumas regiões da China, os cachorros são criados e alimentados em cativeiro, com legumes, para depois serem servidos em datas significativas. Bem, amigos… Era somente “cozinha insólita.” Hoje, depois de anos de cozinha, as pessoas gostam do que eu costumo fazer – que não é nada insólito, aliás. Mas, cozinhe o que cozinhar, não se esqueça: use seu coração que, junto com sua arte, será o melhor dos temperos. Só para terminar: já comi onça… E adorei. O Ibama proíbe. Não resisti à tentação. Achei uma delícia.

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                        Arquivo Geral

                        14/06/2003 0h00

                        Foi na cozinha da minha mãe que minha paixão pela culinária começou, quando eu tinha uns nove anos de idade. Com a cumplicidade da nossa cozinheira, passei a preparar estranhas misturas de tudo que encontrava na cozinha, misturas que na verdade ninguém tinha coragem de experimentar. Nesta semana, comprei num sebo um livro de José Cruset editado em espanhol em 1970. Nele, o autor fala não somente das normas das diversas cozinhas, mas daquilo que ele apelida de cozinha insólita. Vejamos o que alguns povos comem. Asno – Era apreciado pelos romanos e também na Ásia. Os onagros (asnos selvagens) eram e são comidos ainda pelos persas. O leite das burras era usado na medicina: acreditava-se que combatia a tuberculose. Camelo – Este animal tem demasiadas qualidades, e a vida no deserto sem ele seria impensável. Paciente e resistente, até hoje é iguaria em países do Oriente Médio. Comi uma vez. Pareceu-me uma carne fibrosa, meio indigesta. O leite de camela, naqueles países, tem fama de ser afrodisíaco. Canguru – Já comi. Parece com a carne de coelho selvagem é muito perfumada. Os filés de canguru da parte da cauda parecem ser saborosos. Na Austrália, uma lei protege os cangurus dos aborígenes que acham sua causa assada uma iguaria. Crocodilo – Muita gente gosta. Aqui mesmo no Brasil, comi uma vez no Pantanal, e me pareceu como carne de porco. Não gostei. Na Etiópia, alguns dos pratos mais caros são feitos com as tripas do réptil. Confesso que não saberia preparar tal prato. Formigas – São comidas em muitos lugares, na África e na Ásia. Já achei em conserva num supermercado nos Estados Unidos. Não provei.

                        Leão – O rei da selva, parece, se come em alguns países da África. O adolescente teria de caçar e depois cozinhar o leão. Li que parece com carne de terneira. Macaco – Quem não se lembra dos filmes do Templo da Perdição? Os chineses, dizem, adoram especialmente seus miolos. Nunca provei, e você? Tartaruga – Muito procurada em algumas regiões pela sua carne, que é servida de vários modos, tipo sopas, guisados e até em sarapatel. Em Brasília, no restaurante Dom Francisco, você poderá experimentar preparada pelo meu amigo Francisco Assiero. É rica em vitaminas e proteínas e tem baixo valor calórico. Finalmente, cachorro – Vejam a polêmica na Copa do mundo na Coréia – onde, como em algumas regiões da China, os cachorros são criados e alimentados em cativeiro, com legumes, para depois serem servidos em datas significativas. Bem, amigos… Era somente “cozinha insólita.” Hoje, depois de anos de cozinha, as pessoas gostam do que eu costumo fazer – que não é nada insólito, aliás. Mas, cozinhe o que cozinhar, não se esqueça: use seu coração que, junto com sua arte, será o melhor dos temperos. Só para terminar: já comi onça… E adorei. O Ibama proíbe. Não resisti à tentação. Achei uma delícia.

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                          Isaac Corcias

                          Arquivo Geral

                          07/06/2003 0h00

                          Desembarque na Espanha como num poema de García Lorca ao som de paso doble, ou melhor, nos braços de uma bailarina cigana… Desembarque na Espanha romântica aonde milhões de turistas do mundo inteiro confiantes arribam para visitar e claro, para provar da sua renovada culinária.

                          Quando Deus criou a Espanha, contam, concedeu à gente do país três desejos. O mais variado clima do mundo, um povo alegre e festivo; e os pratos, frutas e vinhos mais deliciosos possíveis.

                          A identidade nacional formou-se em séculos de dominação romana, gótica e moura. Foi uma época áurea, quando nas terras da Andaluzia as culturas de judeus, árabes e cristãos se fundiram numa época sem igual na história da humanidade. Mais tarde, os três séculos de grande império colonial tiveram o poder de estender não só sua linguagem a boa parte do mundo moderno, mas, também, sua rica culinária.

                          A Espanha, como ninguém soube capitalizar o sol e as praias e a sua maravilhosa e múltipla cozinha. Uma cozinha que se caracteriza pelo uso de especiarias, bem como a farta presença de azeite e produtos de qualidade ímpar.

                          Viaje pela Espanha e conheça a enorme variedade das cozinhas: da Andaluzia, de Valência, do país Vasco, da Galícia…. Também a cozinha de Madri e a da Catalunha – que neste ano ainda, aliás, você poderá provar no festival promovido em nossa cidade graças a uma parceria da ABS, Embaixada da Espanha e restaurante La Torreta.

                          Não esqueça: cozinha não é apenas o compartimento da casa onde se preparam os alimentos. Cozinha é um conjunto de pratos característicos de um país; representa sua cultura. Será a arte de cozinhar apenas fruto da prática ou da experiência? Será um dom? Não importa. Se para a Espanha o turismo desempenhou um papel fundamental na transição econômica, mudando antigos mosteiros e castelos para criar uma imensa rede de paradores para os turistas, por que nós não deveríamos abrir definitivamente este paraíso tropical ao mundo? Visite a Espanha, mas também divulgue para eles o nosso Brasil, esta terra de “muito bons ares, águas muitas, infindas, de tal maneira graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo…”. Espanha e Brasil: tudo a ver um com o outro. Garcia Lorca e Vinícius de Moraes devem ser parceiros no paraíso, sentados em torno de uma boa mesa. Com Jerez, caipirinha, feijoada e paelha. Que Viva Espanha e Brasil, sim senhor!!!

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                            Isaac Corcias

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                            07/06/2003 0h00

                            Desembarque na Espanha como num poema de García Lorca ao som de paso doble, ou melhor, nos braços de uma bailarina cigana… Desembarque na Espanha romântica aonde milhões de turistas do mundo inteiro confiantes arribam para visitar e claro, para provar da sua renovada culinária.

                            Quando Deus criou a Espanha, contam, concedeu à gente do país três desejos. O mais variado clima do mundo, um povo alegre e festivo; e os pratos, frutas e vinhos mais deliciosos possíveis.

                            A identidade nacional formou-se em séculos de dominação romana, gótica e moura. Foi uma época áurea, quando nas terras da Andaluzia as culturas de judeus, árabes e cristãos se fundiram numa época sem igual na história da humanidade. Mais tarde, os três séculos de grande império colonial tiveram o poder de estender não só sua linguagem a boa parte do mundo moderno, mas, também, sua rica culinária.

                            A Espanha, como ninguém soube capitalizar o sol e as praias e a sua maravilhosa e múltipla cozinha. Uma cozinha que se caracteriza pelo uso de especiarias, bem como a farta presença de azeite e produtos de qualidade ímpar.

                            Viaje pela Espanha e conheça a enorme variedade das cozinhas: da Andaluzia, de Valência, do país Vasco, da Galícia…. Também a cozinha de Madri e a da Catalunha – que neste ano ainda, aliás, você poderá provar no festival promovido em nossa cidade graças a uma parceria da ABS, Embaixada da Espanha e restaurante La Torreta.

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                              31/05/2003 0h00

                              Chove em Brasília numa noite de domingo. Logo a chuva, como que por milagre, parece nos fazer sentir provas evidentes de que a terra vive, respira e renasce. Algo tão evidente como sentir amor ou uma nova paixão a brotar dentro de nós. Também o brotar dos alimentos oferece provas reais da nossa interação com a natureza viva… Pois, além de nos alimentarem fisicamente, aumentam nossa consciência com o Cosmo.

                              Uma antiga parábola hindu conta que um rei sábio ordenou a seu filho arrogante e prepotente que colocasse sal num pote de água. Depois pediu-lhe para “catar” o sal. Como isso seria impossível, solicitou que bebesse da água. Ao provar a água salgada, o filho entendeu que o sal estava em toda parte, mesmo que não pudesse ser catado. Da mesma forma, mesmo que nós não o percebamos, às vezes o amor e o espírito divino estão em toda parte, e muitas vezes bem perto da gente.

                              Da mesma maneira que ficamos impressionados com a beleza das Cataratas de Iguaçu, do Rio Amazonas, do Pantanal ou com o florescer de um novo sentimento dentro de nós, podemos afirmar que não seria menos impressionante o brotar dos alimentos aos nossos olhos.

                              Com freqüência nos esquecemos, acho, que a humanidade tem estado permanentemente ligada ao solo e à chuva. Então comer não seria somente a “arte” dos gourmets; seria – e é – uma arte espiritual. Qualquer que seja a nossa crença, nós, chefes de cozinha, temos ao cozinhar a oportunidade única de recriar um elo entre os alimentos e sua ligação espiritual. Devemos nos sentir tão gratificados, como perante um novo amor. Cozinhando ou amando com bondade, criaremos um caminho de liberação da nossa consciência, agradecendo a Deus por aquilo que Ele nos dá. E, assim fazendo, iremos com certeza cozinhar e amar com mais sabedoria. Nossos clientes serão os maiores beneficiados por este estado de consciência.

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                                31/05/2003 0h00

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                                Uma antiga parábola hindu conta que um rei sábio ordenou a seu filho arrogante e prepotente que colocasse sal num pote de água. Depois pediu-lhe para “catar” o sal. Como isso seria impossível, solicitou que bebesse da água. Ao provar a água salgada, o filho entendeu que o sal estava em toda parte, mesmo que não pudesse ser catado. Da mesma forma, mesmo que nós não o percebamos, às vezes o amor e o espírito divino estão em toda parte, e muitas vezes bem perto da gente.

                                Da mesma maneira que ficamos impressionados com a beleza das Cataratas de Iguaçu, do Rio Amazonas, do Pantanal ou com o florescer de um novo sentimento dentro de nós, podemos afirmar que não seria menos impressionante o brotar dos alimentos aos nossos olhos.

                                Com freqüência nos esquecemos, acho, que a humanidade tem estado permanentemente ligada ao solo e à chuva. Então comer não seria somente a “arte” dos gourmets; seria – e é – uma arte espiritual. Qualquer que seja a nossa crença, nós, chefes de cozinha, temos ao cozinhar a oportunidade única de recriar um elo entre os alimentos e sua ligação espiritual. Devemos nos sentir tão gratificados, como perante um novo amor. Cozinhando ou amando com bondade, criaremos um caminho de liberação da nossa consciência, agradecendo a Deus por aquilo que Ele nos dá. E, assim fazendo, iremos com certeza cozinhar e amar com mais sabedoria. Nossos clientes serão os maiores beneficiados por este estado de consciência.

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                                  24/05/2003 0h00

                                  O café é exótico por ser estimulante e sua cor dourada, lembra sua origem na Etiópia. O chocolate tem origem asteca. É uma guloseima energética americana. O leite é mencionado na bíblia como símbolo de abundância e vida. O açúcar já adoçava a vida na mais remota antigüidade. A baunilha na essência natural tem um princípio aromático peculiar. O sal é um elemento indispensável para a vida. O chantilly é um toque apreciado pela sua leveza e requinte. O resultado é alguma coisa especial. Experimente fazer.

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                                    24/05/2003 0h00

                                    Cozinhar é um ato cultural. Um gourmet deve ter vontade de aproveitar da vida, aprender com o passado, aproveitar o presente e sonhar com o futuro. Um gourmet de verdade ama a literatura, a pintura, a música. Ama viajar, ter oportunidade de conhecer pratos novos ou um sabor desconhecido.

                                    Don Juan não devia ser um gourmet, mas se atirava às mulheres como num prato de macarronada.

                                    Um gourmet é fiel à boa mesa, como um homem sabe que a fidelidade e a arte de ser fiel somente para uma mulher muito “especial”. Não reclame jamais se num bom restaurante você precisar esperar por uma mesa.

                                    Desconfie daqueles em que você acha lugar com facilidade e servem imediatamente o seu pedido. Lembre de que você espera por alguma coisa de muito especial, que irá ser preparado e servido exclusivamente para você. E jamais esqueça que em cozinha como no amor a espera é a primeira da voluptuosidade.

                                    Um bom cozinheiro é mestre em misturar pratos doces e salgados, amargos e doces, seco e molhado. Poderia se escrever um tratado que explicaria filosoficamente estas sensações?

                                    Um gourmet tem o desejo de aproveitar da vida, com a mulher amada.

                                    Tirar lições do passado, curtir o presente e sonhar com o futuro.

                                    A gastronomia devemos entre outras coisas o descobrimento das Américas. Cristóvão Colombo, pensando que chegava à Índia através do Oceano Atlântico, iria descobrir um paraíso de especiarias. Cabral acabou descobrindo um paraíso tropical ao sul do Equador.

                                    Quando encontramos um amor de alguma maneira descobrimos também um mundo novo. Ser chef é aprimorar a arte de proporcionar o maior prazer a quem come. A arte de dar de comer mais por prazer do que por necessidade.

                                    Amigo leitor, aprenda a cozinhar e vá cozinhar para o amor de sua vida. Não importa o prato e não seja guloso. Seja um gourmet, uma vocação de comer e beber bem. Se não souber cozinhar, abra um bom vinho, um bom queijo talvez. Mas faça tudo com paixão e os deuses o recompensarão com um “granfinale”(terminologia elogiosa que se dá à sobremesa), como fecho de ouro de uma grande noitada. Use no tempero carinho e imaginação.

                                    Na vida como na cozinha “salpicar” significa polvilhar; com açúcar, por exemplo, alguma iguaria. Salpique seu jantar com um bem-querer. Eu garanto o resultado.

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                                      24/05/2003 0h00

                                      O café é exótico por ser estimulante e sua cor dourada, lembra sua origem na Etiópia. O chocolate tem origem asteca. É uma guloseima energética americana. O leite é mencionado na bíblia como símbolo de abundância e vida. O açúcar já adoçava a vida na mais remota antigüidade. A baunilha na essência natural tem um princípio aromático peculiar. O sal é um elemento indispensável para a vida. O chantilly é um toque apreciado pela sua leveza e requinte. O resultado é alguma coisa especial. Experimente fazer.

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                                        24/05/2003 0h00

                                        Derreta o chocolate junto com o leite lentamente em banho maria. Acrescente o açúcar e o sal. Não pare de mexer até quase ferver. Abaixe o fogo. Deixe cozinhar por mais alguns minutos. Acrescente o café quente e as gotinhas de baunilha. Monte numa taça com o chantilly por cima.

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                                            Um gourmet é fiel à boa mesa, como um homem sabe que a fidelidade e a arte de ser fiel somente para uma mulher muito “especial”. Não reclame jamais se num bom restaurante você precisar esperar por uma mesa.

                                            Desconfie daqueles em que você acha lugar com facilidade e servem imediatamente o seu pedido. Lembre de que você espera por alguma coisa de muito especial, que irá ser preparado e servido exclusivamente para você. E jamais esqueça que em cozinha como no amor a espera é a primeira da voluptuosidade.

                                            Um bom cozinheiro é mestre em misturar pratos doces e salgados, amargos e doces, seco e molhado. Poderia se escrever um tratado que explicaria filosoficamente estas sensações?

                                            Um gourmet tem o desejo de aproveitar da vida, com a mulher amada.

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                                              17/05/2003 0h00

                                              Vimos esta semana o terrível terremoto acontecido na Turquia. Lembrei de Agadir, situada na Costa Atlântica e conhecida como cidade da primavera. No hotel perto da praia, onde eu estava, o gerente me indicou um guia, Ahmed. Ao lado do hotel havia uma escola. Toda vez que nós saíamos, Ahmed parava na porta daquela escola, diante de uma placa, cujo nome estava escrito em árabe. Então ele me contou que quando o terremoto de 6,5 matou grande parte dos habitantes, Abu Talib (este era o nome da escola) correu para o local à procura de seu filho. Ali chegando, descobriu que nada mais restava da escola. Passado o impacto inicial, Abu Talib lembrou da promessa que fizera ao seu filho: “Não importa o que aconteça, sempre estarei ao teu lado”. Então, tentou adivinhar onde ficava a sala de aula do filho e começou a cavar nos escombros. Chegaram a polícia, os bombeiros e ele pediu ajuda. Venham me ajudar! Ele continuou sozinho. Quando completara 48 horas, ao retirar com dificuldade uma grande pedra, escutou a voz de seu filho e gritou seu nome: “Ahmed!”. “Pai, estamos aqui. Falei com meus colegas. Meu pai prometeu estar sempre ao meu lado. Ele virá nos salvar”. Esta é uma história real. Alá é grande e misericordioso! Meu amigo Ahmed e eu, concluímos que em algum lugar, perto de Alá nossos pais devem ter feito promessa de continuarem sempre ao nosso lado. Não importa o que aconteça.

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                                                  03/05/2003 0h00

                                                  No dia em que resolvi conhecer Nazaré, a cidade natal de Jesus Cristo, me dirigi à rodoviária de Haifa com a intenção de viajar sozinho. Um taxista árabe me chamou a atenção para seu carro-lotação, e com ele seguimos viagem acompanhados por Antonio, um seminarista espanhol.

                                                  Fui a Nazaré uma vez e um dia voltarei, se tiver oportunidade. A cidade hoje oferece um panorama igual ao de dois mil anos passados, com seu exótico e colorido bazar oriental, sua topografia acidentada e seus recantos cheios de significativos religiosos. Logo ao chegar, morrendo de fome e sede, comemos um maravilhoso sanduíche, uma pita (pão árabe, arredondado) recheado de pedacinhos de cordeiro, salada fresca e um saboroso molho apimentado. Junto, um gostoso suco de laranja-da-terra. Em seguida fomos visitar a nova Basílica, a Igreja da Anunciação, a maior do Oriente Médio, e que está construída conforme reza a tradição, sobre a gruta onde o anjo Gabriel, segundo o Novo Testamento, trouxe a divina mensagem à Virgem Maria.

                                                  Depois fomos à Igreja de São José, conhecida como a Igreja da Sagrada Família, erguida sobre o lugar em que José trabalhou e morou, e de um grande significado para todos os católicos. Na volta, nosso guia parou numa mesquita perto da praça central para fazer suas orações, conforme a tradição de rezar cinco vezes ao dia. Finalmente, levou-me a visitar uma pequena e antiqüíssima sinagoga.

                                                  Em Nazaré, a gente pode identificar as pessoas pelas vestimentas: católicos romanos, gregos, protestantes e maronitas, árabes e judeus – que parecem conviver harmoniosamente. Na hora de ir embora, nosso taxista nos apontou um local a uns seis quilômetros do centro da cidade, onde, diz a tradição, Cristo praticou seu primeiro milagre, transformando a água em vinho. Nós três juntamos as nossas mãos em uma oração silenciosa… ao único Deus, chamado de diferentes maneiras. Nossas origens eram e são comuns. Pensei que, naquele lugar onde se fundem história, tempo e tradição, quem sabe o primeiro milagre que o Messias deveria fazer ao voltar seria transformar a guerra numa paz permanente para todos os homens do mundo. Voltamos para o carro, não sem antes comprar mais um suco de laranja… quem sabe das mesmas árvores que saciaram a sede daqueles profetas da Antigüidade.

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                                                    No dia em que resolvi conhecer Nazaré, a cidade natal de Jesus Cristo, me dirigi à rodoviária de Haifa com a intenção de viajar sozinho. Um taxista árabe me chamou a atenção para seu carro-lotação, e com ele seguimos viagem acompanhados por Antonio, um seminarista espanhol.

                                                    Fui a Nazaré uma vez e um dia voltarei, se tiver oportunidade. A cidade hoje oferece um panorama igual ao de dois mil anos passados, com seu exótico e colorido bazar oriental, sua topografia acidentada e seus recantos cheios de significativos religiosos. Logo ao chegar, morrendo de fome e sede, comemos um maravilhoso sanduíche, uma pita (pão árabe, arredondado) recheado de pedacinhos de cordeiro, salada fresca e um saboroso molho apimentado. Junto, um gostoso suco de laranja-da-terra. Em seguida fomos visitar a nova Basílica, a Igreja da Anunciação, a maior do Oriente Médio, e que está construída conforme reza a tradição, sobre a gruta onde o anjo Gabriel, segundo o Novo Testamento, trouxe a divina mensagem à Virgem Maria.

                                                    Depois fomos à Igreja de São José, conhecida como a Igreja da Sagrada Família, erguida sobre o lugar em que José trabalhou e morou, e de um grande significado para todos os católicos. Na volta, nosso guia parou numa mesquita perto da praça central para fazer suas orações, conforme a tradição de rezar cinco vezes ao dia. Finalmente, levou-me a visitar uma pequena e antiqüíssima sinagoga.

                                                    Em Nazaré, a gente pode identificar as pessoas pelas vestimentas: católicos romanos, gregos, protestantes e maronitas, árabes e judeus – que parecem conviver harmoniosamente. Na hora de ir embora, nosso taxista nos apontou um local a uns seis quilômetros do centro da cidade, onde, diz a tradição, Cristo praticou seu primeiro milagre, transformando a água em vinho. Nós três juntamos as nossas mãos em uma oração silenciosa… ao único Deus, chamado de diferentes maneiras. Nossas origens eram e são comuns. Pensei que, naquele lugar onde se fundem história, tempo e tradição, quem sabe o primeiro milagre que o Messias deveria fazer ao voltar seria transformar a guerra numa paz permanente para todos os homens do mundo. Voltamos para o carro, não sem antes comprar mais um suco de laranja… quem sabe das mesmas árvores que saciaram a sede daqueles profetas da Antigüidade.

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                                                      26/04/2003 0h00

                                                      Morei alguns anos no Rio antes de vir para Brasília e montar o La Torreta. Era concessionário do restaurante do Clube Naval, na Lagoa. No último réveillon sob meu comando, montamos um magnífico bufê para 300 pessoas. Quando a festa acabou, ofereci carona para meu ajudante de cozinha e sua prima, que trabalhava como garçonete. Mal sabia eu que eles moravam a quase duas horas de viagem do centro da cidade, na Baixada Fluminense, próximo ao município de Caxias.

                                                      Entrei em outro mundo. O acesso me foi franqueado pelo simples fato de que minha garçonete era namorada do “gerente”. Muito embora ninguém tenha me explicado qual o comércio que ele gerenciava, nem eu tive coragem de perguntar.

                                                      Quando chegamos à casa do “gerente”, desenvolvia-se uma grande festa, e eu não tive como recusar o convite para entrar e comer alguma coisa. Até porque, inexplicavelmente, todos os convidados estavam armados.

                                                      Bem-intencionado, o “gerente” me trouxe um pedaço de pernil e uma cerveja gelada. Tentei argumentar que não comia carne de porco, por motivos religiosos, e que não gostava de cerveja. Em vão. “Você não aceita nossa comida?”

                                                      Felizmente a garçonete e namorada veio em meu socorro e explicou-lhe que não se tratava de menosprezo, nem nada disso. Foram solicitados então os préstimos de um cidadão que atendia pelo nome de Fala Fina. Tratava-se de um sujeito enorme, com cara fechada, que estranhamente tinha a voz fina e gentil como a de um adolescente. A seu comando foi servido peru com farofa. Para minha surpresa, a ave estava muito bem-temperada e saborosa, e a farofa parecia um manjar dos deuses. Diante da voracidade com que ataquei a farofa, Fala Fina, o seu autor, me prometeu a receita.

                                                      Duas horas depois, já com sol alto, entrei no carro e tratei de ir embora. Com dificuldade achei a saída daquele labirinto e fui pego numa blitz da Polícia Militar. O que eu teria comprado naquele local, naquela hora, era o que indagava um policial. Como explicar?

                                                      Fui salvo por uma voz celestial: “Deixa o gringo ir embora, é gente boa”. Quando me virei era o Fala Fina, agora vestido de PM, com um largo sorriso.

                                                      Quando cheguei ao Rio me lembrei que havia esquecido de pegar a receita. Não tive coragem de voltar. Por isso, costumo aconselhar: tendo chance, não esqueça a receita. Pode ter que se lamentar para o resto da vida.

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                                                        Felizmente a garçonete e namorada veio em meu socorro e explicou-lhe que não se tratava de menosprezo, nem nada disso. Foram solicitados então os préstimos de um cidadão que atendia pelo nome de Fala Fina. Tratava-se de um sujeito enorme, com cara fechada, que estranhamente tinha a voz fina e gentil como a de um adolescente. A seu comando foi servido peru com farofa. Para minha surpresa, a ave estava muito bem-temperada e saborosa, e a farofa parecia um manjar dos deuses. Diante da voracidade com que ataquei a farofa, Fala Fina, o seu autor, me prometeu a receita.

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