O Escândalo dos Wapshot, que a Editora Arx acaba de lançar no Brasil, é um retrato crítico da classe média norte-americana, mostrada pelo autor John Cheever de forma mais ácida que irônica. Os Wapshot, moradores de uma pequena cidade na Costa Leste dos Estados Unidos, fazem esforços hercúleos para serem sofisticados e chiques. Cheever mostra sensibilidade para com seus dramas pessoas, mas nem por isso deixa de expor seu lado ridículo, senão constrangedor.
O Escândalo é o segundo livro de uma seqüência iniciada com A Crônica dos Wapshot, o mais conhecido deles. Com a Crônica, Cheever ganhou o National Book Award, um dos mais cobiçados prêmios literários da América do Norte. Já ganhara também o Prêmio Pulitzer. Tudo isso foi uma garantia de êxito nas livrarias. Nem por isso os personagens bem trabalhados e coerentes da família Wapshot chegaram com rapidez ao Brasil. Seu lançamento nos EUA ocorreu em 1957. A Crônica só foi editada em 2002, igualmente pela Editora Arx. O Escândalo sai agora. Os personagens têm suas raízes na cidade – fictícia – de St. Botolphs, ao norte de Nova York. Ainda criam galinhas. É possível, assim, ter-se a descrição da rápida caçada a um frango, capturado e decapitado por Coverley Wapshot, que deixou St. Botolphs e agora trabalha no Comitê de Atividades Antiamericanas, aquele do senador McCarthy. Tem uma questão para resolver com a velha prima Honora, acusada mais tarde de sonegação fiscal. É que a casa de seus pais se tornara séria candidata à demolição depois que dois inquilinos disseminaram a informação de que, sem dúvida, era mal-assombrada. O fantasma do velho Wapshot, falecido há tempos, ainda estava por lá. Mas não se deve esperar um clima de interior. Cheever cria uma atmosfera onde os personagens tentam ser cosmopolitas e modernos, sofisticados se possível, faltando-lhes porém o background indispensável para isso.
