Flora Purim e o grupo rendem mais e melhor em temas complexos como Speak No Evil, do saxofonista Wayne Shorter, que ganhou letra e estimula a improvisação, obrigando o uso de um repertório amplo da técnica da cantora.
A gravação vibra no sentido rítmico de Airto Moreira, em contraponto com a flauta de Gary Meek e a abordagem mais pesada da turma de The Yellowjacketts, Russel Ferrante à frente. O mesmo time reaparece em This Magic, que abre o disco com sotaque caribenho.
Mas é nas músicas brasileiras que o talento da cantora fica evidente, incluindo uma surpreendente gravação do esquecido sambalanço Tamanco no Samba, de Orlandivo, cantado com graça e agilidade, e a versão em português de O Sonho, de Egberto Gismonti, que Flora Purim já havia gravado, em inglês, como Moon Dreams, em 1969.
Flora Purim chega perto da perfeição em Primeira Estrela, criada por Airto como parte de uma peça orquestral para a WDR Orchestra, de Colônia (Alemanha), chamada The Brazilian Spiritual Mass. Flora Purim recondicionou o tema, transformando-o num samba mais lento, ressaltando as qualidades musicais e, ao mesmo tempo, criando dificuldades de interpretação que são vencidas com incômoda facilidade para os pobres mortais.
Speak No Evil não chega a ser uma obra antológica como Perpetual Emotion, mas confirma Flora Purim entre as maiores cantoras do jazz contemporâneo.