Polonês criado no Canadá e brasileiro por opção. O artista plástico Maciej Babinski inaugura, hoje, – com visitação pública a partir de amanhã – a retrospectiva de sua vida brasileira. A mostra Babinski, 50 Anos de Brasil, em cartaz na galeria principal do Conjunto Cultural da Caixa, reúne trabalhos realizados desde os seus 22 anos de idade, quando decidiu abandonar o frio Canadá e vir morar no País.
Ontem, enquanto esperava os jornalistas chegarem para a entrevista, aquele senhor alto, magro, cabelos brancos e muita vitalidade, bailava com sua companheira pela galeria, com cuidado para não tropeçar nos fios. No lugar da música, o barulho das furadeiras. O motivo da felicidade era a oportunidade de fazer uma retrospectiva de sua obra nesse meio século.
Sob a curadoria da mineira Elizabeth Nasser, que paralelamente produz um livro sobre a obra do artista, Babinski reuniu cerca de 190 trabalhos, de diferentes técnicas. Há, inclusive, desenhos feitos em rascunho de papel da empresa onde trabalhou na década de 60. “O meu forte na época eram os desenhos e gravuras, que naquela época não tinham valor. Por esse motivo, consegui guardar tantos”, brinca o artista.
VanguardaMaciej Babinski nasceu em Varsóvia, na Polônia, em 1931. Após a formação artística no Canadá, entrou em contato, entre os anos 50 e 80, com os meios artísticos do Brasil. “Em Montreal, tinha um círculo de amigos que era muito intenso. Eram, assim como eu, artistas pobres, contestadores. Foi um momento de questionamentos, de vanguarda”, lembra o pintor. A vida nos trópicos começou aos 22 anos, quando mudou-se para o Rio de Janeiro.
Babinski é autor de obras em gravura, desenho e pintura e seu amplo trabalho passou por várias fases das artes plásticas. Fases essas, que podem ser conferidas nas diversas paredes da exposição. Ele desenvolveu diferentes técnicas de produção, mas todas de maneira muito pessoal, o que torna seu trabalho único. A pintura, por exemplo, só surgiu na arte de Maciej Babinski em 1972.
Sua ligação com Brasília começou quando da fundação do Instituto Central de Arte da Universidade de Brasília, onde a colaboração de Babinski foi marcante. O artista dedicou-se ainda ao ensino artístico na Universidade Federal de Uberlândia, retornando a Brasília, para a reconstrução do campo artístico na UnB, na fundação do Instituto de Artes.
Babinski se utiliza de diferentes linguagens para expressar. Suas pinturas, paisagens e figuras humanas, mostram uma paleta viva e a invenção de uma estrutura variada e unificada. O contraste de cores é outra característica marcante na obra do polonês. O “pintor polonês”, como gosta de ser chamado pela gente simples da região do Crato (CE) onde vive atualmente, é responsável pela formação artística de importantes artistas do País.
Cores fortesEm um dos ambientes da mostra é possível conferir os trabalhos mais recentes, todos confeccionados com cores fortes e em tamanhos grandes. “Foram todos feitos nos anos 90 e diferem de todos os outros, assim como a série de retratos e auto-retratos”, diz o artista, apontando para os quadros na parede.
Em 1965, chegou a Brasília e foi um dos primeiros artistas a trabalhar e expor na capital, como professor do Instituto Central de Artes da Universidade de Brasília (UnB). Mudou-se para São Paulo e em 1974 foi para o Triângulo Mineiro, primeiro Araguari depois Uberlândia. Entre 1979 e 1988 foi professor na Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
Voltou para Brasília em 1987 e, em 1991, aposentou-se. Ainda em Brasília conheceu uma cearense com quem vive hoje num sítio no interior do Ceará. Ficou conhecido como “o pintor polonês” e sente orgulho de ser chamado assim. Babisnki é um dos últimos artistas de sua geração em plena atividade.