Na controversa lógica de comunicação do atual governo, o ministro da Justiça, Sergio Moro, resolveu valer-se de um programa humorístico para dar uma notícia séria. Em entrevista ontem ao programa Pânico, da rádio Jovem Pan, ele anunciou que ficará no governo do presidente Jair Bolsonaro. E ficará com a área da Segurança Pública vinculada à sua pasta. Ou seja: se houve queda-de-braço entre o ministro e o presidente, aparentemente foi Moro quem ganhou a parada.
Moro disse no programa que não há motivo para deixar o governo e que irá apoiar o presidente Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022. Valendo-se do fato de estar em um programa humorístico, Moro disse que aquele era o “segundo Dia do Fico”. A frase é uma alusão ao episódio da história do Brasil no qual Dom Pedro, então príncipe regente do Brasil, recusou a ordem do seu pai, o rei Dom João VI, de retornar a Portugal.
Rebelião ou fidelidade?
Do ponto de vista histórico, é curiosa a opção de Moro de citar o Dia do Fico. Afinal, aquele foi um momento de rebelião de Dom Pedro. Era janeiro de 1822. Somente alguns meses depois, no dia 7 de setembro, Dom Pedro proclamava a independência do Brasil e se tornava Dom Pedro I. A referência de Moro agora é a um momento de rebelião ou de fidelidade?
Apesar da referência ao Dia do Fico, indagado se há atrito com o presidente Bolsonaro e se pretende concorrer ao posto de presidente nas próximas eleições, Moro disse que irá apoiar o atual mandatário por “questão de lealdade”.
Chance zero
Mas, à vontade, o ministro falou também das eventuais contrapartidas. Primeiro, afirmou que a possibilidade de desmembramento da pasta da Justiça, retirando a segurança, é assunto encerrado pelo próprio presidente. “Ele (Bolsonaro) deu uma declaração categórica de que a chance era zero. Para mim, está encerrado. Pode ser que no futuro distante, possa se cogitar isso (dividir o ministério).
Não acho uma ideia muito boa. Falei com parlamentares da bancada da bala – da bancada da segurança pública, perdão… (Falei) que os ministérios são mais fortes juntos do que separados”, declarou o ministro.
Moro ainda reforçou que o desmembramento de fato quebraria o compromisso firmado com ele quando Bolsonaro o convidou para o governo. “Foi o compromisso que eu e Bolsonaro fizemos em 1º de novembro quando ele me convidou”, disse.
Para completar, o ministro recolocou-se na disputa por uma vaga futura no Supremo Tribunal Federal (STF). Disse que essa era uma “perspectiva interessante”. Pesquisas têm apontado Moro como uma personalidade mais popular e de maior confiança que o próprio Bolsonaro. Pode, portanto, ser um entrave às pretensões eleitorais do presidente, caso rompesse com ele. Uma eventual vaga no STF seria uma forma de neutralizá-lo.