A Operação Descontaminação foi deflagrada a partir de fatos apurados no processo da Operação Radioatividade, no qual a Justiça Federal do Rio de Janeiro investiga fraudes em contratos firmados entre a Eletronuclear e as empresas AF Consult Ltd, Argeplan e Engevix, para um projeto de engenharia na usina nuclear de Angra 3. A defesa de Natale alegou que os crimes de que é acusado não teriam relação com esses contratos e, por isso, o processo da Descontaminação deveria ser remetido para São Paulo, onde teriam ocorrido os supostos ilícitos.
Mas o desembargador federal Abel Gomes, que proferiu o voto condutor no julgamento desta quarta-feira, entendeu que há conexão entre as Operações Radioatividade e Descontaminação, no que se refere aos crimes de peculato (desvio de dinheiro público) e evasão de divisas supostamente praticados por Natale. Por isso, essa parte do processo deve permanecer no Rio de Janeiro.
O desembargador concluiu, porém, que a parte dos autos que se refere ao crime de lavagem de dinheiro cometido por meio de repasses da Construbase, de responsabilidade de Natale, para a empresa PDA Projetos deve ser remetida para a Justiça Federal paulista. O magistrado ressaltou que existe decisão anterior do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), concluindo pela competência da Seção Judiciária de São Paulo em relação a esse crime. Segundo a decisão do TRF-2, o desmembramento e a remessa dos autos para São Paulo deve ser estendida aos demais réus da Operação Descontaminação, como é o caso de Temer. O ex-presidente, portanto, vai responder a ações na Justiça Federal do Rio e de São Paulo.
Realizada em março de 2019, a Operação Descontaminação resultou na prisão preventiva de Michel Temer e de outras nove pessoas, que hoje respondem em liberdade. O Ministério Público Federal (MPF) acusa os réus pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva. Ainda segundo o MPF, os contratos irregulares das obras de Angra 3 teriam resultado no desvio de R$ 11 milhões dos cofres públicos. Esse dinheiro teria ido para Temer, diz o MPF.