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Política & Poder

Em entrevista, delegado diz que arma contra crime é educação

Arquivo Geral

26/11/2018 7h00

Atualizada 25/11/2018 22h00

Foto: João Stangherlin/Jornal de Brasília

Eric Zambon
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O delegado Fernando Fernandes (Pros) vem da polícia, mas vai se concentrar em educação. Para ele, é o melhor meio de proteger a sociedade. Apesar de egresso da Segurança Pública, seu discurso não cai nos lugares-comuns que já fazem parte do estereótipo de políticos com esse passado. “Se nada oferecermos para essa juventude em matéria de educação, esporte e profissionalização, perderemos a guerra para os criminosos”, opina. Eleito deputado distrital com apenas 37 votos a menos do que o campeão, ele vai para seu primeiro mandato.

Sua base eleitoral é na Ceilândia. Qual seu projeto a curto prazo para lá?
Acredito que Ceilândia – estou lá há muitos anos, sou nascido e criado -, nas áreas mais carentes, como Setor “O” e o Sol Nascente, prioridade é investimento maciço em educação, desde escola classe, passando por Ensino Fundamental e Médio, de preferência de período integral. Na região, a maioria dos pais saem para trabalhar durante o dia, e os filhos adolescentes vão para a escola no turno. No contraturno, ficam sozinhas em casa, olhadas por vizinhos, mas escapam para ficar nas ruas, jogando futebol, paquerando a vizinha, e ficam vulneráveis aos criminosos, principalmente os traficantes de drogas. Eles se aproximam de jovens com promessa de dinheiro fácil, ostentando carrões, mulheres bonitas, e seduzem esses jovens, terminando o recrutamento com aquela célebre frase: “vocês são menores, não vai dar em nada”. Sendo que, a partir dos 14 anos, qualquer cidadão pode, sim, ser alcançado pela legislação.

O senhor é a favor da redução da maioridade penal?
Não no modelo de hoje. Poderíamos até reduzir para 16 anos, desde que ofereçamos em contrapartida lazer, esporte e oportunidade de emprego aos adolescentes. No Brasil, a partir de 14 anos, qualquer um pode trabalhar como menor aprendiz. Reduzir por reduzir só faria o criminoso recrutar adolecentes de 15, 14 e 13 anos. Se não houver contrapartida em relação à educação e profissionalização, a redução não alcançará os objetivos esperados.

Você pensa em um projeto específico que sirva como essa contrapartida?
Vejo na região de Ceilândia, por exemplo, poucas escolas – são apenas quatro. Uma delas ainda viraria um albergue, mas graças à mobilização da comunidade virou uma escola classe. O que pretendemos é investirmos em projetos de lei com emendas voltadas para a formação profissional dos adolescentes, para que possam ser aproveitados no mercado de trabalho. Eu sou prova de que isso dá certo. Comecei como servente de obras, depois tive oportunidade de ser office boy aos 14 anos. Fui beneficiado com um estágio na Caixa Econômica e saí da condição de informalidade. Quando conheci outra oportunidade de emprego, aquilo me motivou muito mais a progredir financeiramente. Tanto é que, mesmo com as dificuldades, terminei minha faculdade de Administração e de Direito.

Seu discurso vai de encontro à maioria dos agentes de segurança que viram políticos. Então você não acha que redução signifique segurança?
Não, especialmente nas periferias, onde vemos diariamente os adolescentes sendo seduzidos pelos criminosos, sobretudo traficantes. Em uma quadra em Ceilândia Norte, quando cheguei lá como delegado, era conhecida como a quadra do pó, onde usuários de todo o DF se deslocavam para lá para comprar cocaína. Fizemos um forte trabalho de repressão ali e, entre os traficantes presos, 70% deles, mais de 200 pessoas em 4 anos, eram adolescentes que serviam de aviõezinhos para criminosos. Se nada oferecermos para essa juventude em matéria de educação, esporte e profissionalização, perderemos a guerra para os criminosos.

A PCDF tem um quadro defasado. É possível manter todas as delegacias abertas sem contratações?
É possível fazer isso pagando-se hora extra para os policiais reabrirem as delegacias. Temos uma defasagem salarial de muitos anos, inclusive a paridade hoje é muito discutida, e os policiais já se mostraram favoráveis a fazer horas extras para reabrir as delegacias, ao menos os plantões, para a pessoa ter a certeza de atendimento.

 

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