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Política & Poder

Deltan Dallagnol buscou recursos para Instituto Mude

Conversas reveladas pelo The Intercept mostram que o procurador conheceu uma “investidora anjo” que logo seria investigada pela Lava Jato

Marcus Eduardo Pereira

02/09/2019 19h58

Da Redação
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Novas revelações feitas nesta segunda-feira (02/09) pelo The Intercept Brasil, revelam que o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, buscou recursos junto a grandes empresários brasileiros, alguns deles ligados a investigados pela operação. O montante adquirido seria para o Instituto Mude, criado com o intuito de combater a corrupção.

Via Telegram, procurador e membros do instituto conversaram, dentre outras coisas, sobre o apoio da advogada Patrícia Tendrich Pires Coelho, que logo depois seria investigada pela Lava Jato.

Tida como uma “investidora anjo”, Patrícia era dona da
Asgaard Navegação S. A., fornecia navios para a Petrobras e tinha proximidade com o empresário Eike Batista, do Grupo EBX – que a apresentava como consultora – e com o banqueiro André Esteves, fundador do BTG Pactual. Os dois investigados e presos pela Lava Jato. Apesar da investigação, a advogada não foi denunciada pela operação.

Dallagnol foi quem apresentou Patrícia aos membros do instituto, que se reuniu com a advogada para tratar da doação.

As conversas

Em um diálogo com a integrante do Mude, Patrícia Fehrmann, em 29 de junho de 2016, Deltan diz que conheceu Patrícia Coelho em uma viagem.

“Caramba. Essa viagem de ontem foi de Deus. Além dela, estava um deputado federal que se comprometeu a apoiar rs”, escreveu, não revelando quem seria o parlamentar a apoiar a entidade que se define como “apartidária”.

Um dos fundadores do instituto, Hadler Martines, se mostrou apreensivo, e respondeu em 29 de agosto de 2016:

“Talvez vocês já tenham feito isso mas sobre nossa investidora anjo, dei uma boa pesquisada sobre seu histórico e realmente ela parece ser uma grande empresária multimilionária e com grande trânsito com grandes empresários nacionais”.

E ainda alertou Dallagnol:

“Hoje ela é sócia de empresa de frotas de navios (Aasgard) e de mineração e portos (Mlog). Algumas coisas que me chamaram atenção: – sua empresa fornece navios para a Petrobras; – ela é ex-banco Opportunity (famoso Daniel Dantas) – ela foi ou é muito próxima do Eike Batista e também do André Esteves (BTG)”.

Pouco depois, no dia 11, Hadler voltou a levantar suspeitas sobre a investidora:

“Sobre nossa reunião com o Anjo, ainda estou com uma pulga atrás da orelha tentando entender a razão do apoio financeiro tão generoso (sendo cético no momento)”.

“Me pergunto se ela quer ‘ficar bem’ com o MPF por alguma razão… Ela já foi conselheira do Eike e pelo que li dela, ela o representava em algumas negociações. Sugestão: fiquemos atentos. Desculpem o provérbio católico, mas quando a esmola é demais, o santo desconfia…”, comentou.

Hadler enviou ao grupo um link com a reportagem da revista Exame: “Eike tenta sacar uns US$ 100 milhões, mas André Esteves barra”. A matéria informa que Patrícia Coelho era apresentada por Eike Batista como sua consultora. A reportagem também diz que Patrícia é egressa do banco Opportunity e sócia da companhia de navegação Asgaard.

Deltan respondeu ao colega:

“Boa Hadler. Mais cedo ou mais tarde descobriremos isso”.

Investigação

Patrícia Coelho enfim aparece nas investigações da Operação Lava Jato, e Dallagnol deu a notícia para os colegas, no dia 25 de outubro de 2017:

“Caros, uma notícia ruim agora, mas que não quero que desanime Vcs. A Patricia Coelho apareceu numa petição nossa e me ligou. Ela disse que tinha sociedade com o grego Kotronakis (um grego que apareceu num equema de afretamentos da petrobras e que foi alvo de operação nossa), mas ele tinha só 1% e ela alega que jamais teria transferido valores pra ele”.

“Falei que somos 13, cada um cuida de certos casos, que desconheço o caso e que a orientação geral que damos para todos que procuram é: se não tem nada de errado, não tem com o que se preocupar; se tem, melhor procurar um advogado rs. Ouvindo sobre o caso superficialmente, não posso afirmar que ela esteve envolvida ou que será alvo, mas há sinais ruins. É possível que ela não tenha feito nada de errado, mas talvez seja melhor evitar novas relações com ela ou a empresa dela, por cautela. Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas”, escreveu.

Hadler fez questão de lembrar ao procurador das inúmeras vezes que se mostrou desconfiado:

“Delta, sobre essa questão, lembro bem como apesar de estarmos felizes com o apoio que estávamos recebendo à época, ficamos com um pé atrás. Especialmente por prestar serviços à petro e por ter sido sócia do Eike. Essa notícia não chega a nos surpreender e também não nos desanima. Obrigado por compartilhar!”.

Citada, não denunciada

A Asgaard não quis comentar a denúncia do Ministério Público Federal com a justificativa de que Patrícia Coelho “é apenas citada, não é denunciada”. “Não vamos fazer nenhum comentário em relação a isso”, informou a assessoria de comunicação. Ainda de acordo com a assessoria, a doação para o Instituto Mude foi realizada “pela pessoa física, Patrícia Coelho”.

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