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Saúde

“Sociedade do estresse”: imediatismo cria expectativas irreais, afirma especialista; saiba como evitar

O psicólogo clínico Rafael Bianco esclarece que é importante observar que o estresse é uma reação natural do corpo a situações adversas

Redação Jornal de Brasília

22/09/2023 9h43

Foto: Agência Brasil

Ana Beatriz Cabral Cavalcante
Jornal de Brasília/Agência de Notícias CEUB

O estresse e a ansiedade são problemas de saúde que afetam pessoas de todas as idades e lugares. É uma preocupação crescente em todo o mundo e possui causas como pressões no trabalho, preocupações financeiras, problemas de saúde mental e eventos inesperados. Jovens relataram, para a reportagem, uma vida estressada por diferentes motivos.

O psicólogo clínico Rafael Bianco esclarece que é importante observar que o estresse é uma reação natural do corpo a situações adversas.

No entanto, níveis crônicos e elevados de estresse podem ter efeitos agressivos à saúde física e mental. A gestão do estresse, por meio de estratégias como exercícios, meditação, apoio social e cuidados de saúde mental, é fundamental para manter um equilíbrio saudável.

Ele ressalta que muitos jovens enfrentam esse dilema, sentindo a pressão de alcançar certos marcos, como a compra de uma casa, um carro ou o primeiro milhão, antes dos 30 anos. “Isso não é a realidade de todos, mas a pressão social muitas vezes nos faz acreditar que deveria ser.”

Para entender melhor esses desafios e encontrar maneiras eficazes de lidar com eles, a Agência de Notícias Ceub conversou com o psicólogo e ouviu também relatos de quatro jovens que enfrentaram esses obstáculos.

Estresse físico

A estudante Carmen Torres, de 19 anos, que vive em Brasília, afirma que tem sentido estresse na faculdade e no trabalho, simultaneamente. Ela descreveu uma série de sintomas físicos, incluindo, dores no ombro, fortes dores de cabeça, sono irregular, febre, dor de garganta e problemas digestivos.

Após sair do estágio e priorizar a saúde, a jovem enfrenta novamente o estresse relacionado à faculdade. Embora não esteja atualmente em terapia, ela busca ajuda profissional e reconhece a importância de enfrentar essa situação.

Respiração

O também universitário Guilherme Domênico, 27 anos, revelou que tem longo histórico de ansiedade. Entre as sensações incontroláveis que às vezes o afeta estão frios na barriga e formigamento nas mãos. Ele destacou a importância do acompanhamento psicológico e psiquiátrico em sua jornada.

O jovem compartilhou que, para enfrentar a ansiedade, ele se concentra na respiração, inspirando e expirando lentamente até se acalmar. Além disso, fez mudanças significativas em sua rotina, incluindo melhorias na alimentação e a redução do consumo de açúcar e refrigerantes.

Ele também mencionou que, embora a atividade física seja frequentemente recomendada, ele ainda precisa implementá-la totalmente em sua vida. No entanto, ele reconhece a influência positiva que a prática de exercícios teve quando conseguiu incorporá-la à sua rotina.

Treinamento da mente

Outra universitária de 23 anos, que preferiu não se identificar, testemunha que tem uma luta contra enxaquecas que muitas vezes são desencadeadas pelo estresse. Ela descreveu que o problema resulta em sintomas como fraqueza, vertigem, sudorese excessiva, sensação de despersonalização e aceleração cardíaca.

“É só eu me estressar muito que eu passo mal. Desde a adolescência isso acontece. Se o estresse for se acumulando ao longo do dia acaba gerando uma crise de enxaqueca muito forte que eu tenho que ir para o hospital.”

Para gerenciar sua condição, a universitária realiza acompanhamento com psicólogo e neurologista. No entanto, ela enfatiza que mudar hábitos e treinar a mente para lidar melhor com situações estressantes é crucial.

Ela identificou que os gatilhos para suas enxaquecas geralmente estão ligados a situações estressantes emocionalmente, como notícias ruins, problemas no trabalho e questões de relacionamento interpessoal.

Estresse emocional

Já Natália Oliveira, 25 anos, compartilhou que suas experiências estão relacionadas ao estresse e à ansiedade, descrevendo como o tremor, a insônia e a dor de cabeça frequentemente a afetam. Esses sintomas surgem principalmente quando ela enfrenta situações altamente estressantes, seja no trabalho ou em seu cotidiano.

Ela detalhou como esses sintomas se assemelham a uma crise de ansiedade, manifestando-se com tremores intensos e falta de ar. Além disso, Natália compartilhou uma experiência traumática com a perda de sua cachorrinha no ano passado, que a deixou desassociada de sua própria realidade. Ela explicou que se sentiu desconectada do mundo ao seu redor, sem interesse nas atividades diárias ou no trabalho.

Natália revelou que, embora não tenha certeza de quando esses sintomas começaram, ela percebeu uma correlação com eventos estressantes ou traumáticos em sua vida. No entanto, com a ajuda da terapia, ela aprendeu a lidar melhor com essas situações e identificar quando esses episódios ocorrem.

Ela ressaltou que esses episódios não são frequentes, mas ocorrem em resposta a eventos que parecem estar além de sua capacidade de lidar. Quando isso acontece, ela busca ajuda terapêutica ou procura momentos de solidão para se recuperar emocionalmente.

Respostas do Corpo

O psicólogo clínico Rafael Bianco enfatiza que, embora cada indivíduo enfrente desafios únicos relacionados ao estresse e à ansiedade, a busca por ajuda profissional, como terapia, é fundamental. Ele aconselha a não desistir na primeira tentativa e dar tempo ao processo terapêutico.

“Com relação a ir em um psicólogo, não deu certo, vai em outro. Não deu certo? Vai em outro. Eu sei que é cansativo. Ele é que nem leitura, você começa um pouco e não deu certo ou não gostou, você troca. Não precisa se forçar a estar lá.”

Além disso, ele destaca a importância da atividade física regular, alimentação equilibrada e exposição ao sol como elementos que podem contribuir para o bem-estar emocional. Bianco também recomenda a leitura de materiais de autoajuda e a prática de diários terapêuticos para ajudar a compreender e gerenciar as emoções.

“Desenvolva aquela leitura de autoajuda, que a gente às vezes tem uma crítica muito grande, mas pega elas porque a maioria delas são escritas por psicólogos. A diferença é que elas não têm uma linguagem técnica.”

Ele contextualiza que a ansiedade só surge quando as respostas ao estresse estão desreguladas e disfuncionais. Ao reagir de maneiras distintas como a luta, a fuga ou o congelamento, tornando a questão de fato um problema e passando a evitá-lo.

O importante, segundo ele, é se perceber o problema, é necessário rever o cotidiano. “Você precisa olhar para você, olhar para a sua rotina e realinhar as coisas. Na verdade, ela é o problema.”, afirma. Pois o estresse é normal, reação natural do organismo a algo de fora, mas só passa a ser um problema de fato quando afeta outras partes da vida e do organismo.

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