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Saúde

Orgasmo como meta pode tornar sexo menos prazeroso

Neste domingo (31), Dia Mundial do Orgasmo, especialistas lembram que atingir o clímax não deve ser o objetivo final do sexo

FolhaPress

31/07/2022 7h28

Gabriela Feola
São Paulo, SP

Gozar, ejacular, chegar ao orgasmo uma, duas ou três vezes pode ser bom, mas não é sinônimo de ter uma vida sexual cheia de qualidade e satisfação. A cobrança por performance pode transformar esse prazer em obrigação e pressão.

Neste domingo (31), Dia Mundial do Orgasmo, especialistas lembram que atingir o clímax não deve ser o objetivo final do sexo, mas sim a busca por aproveitar a experiência sexual como um todo.

Um orgasmo nada mais é do que uma das fases do ciclo de resposta sexual que independe do gênero da pessoa e representa, ao mesmo tempo, o pico, o alívio e o fim de uma tensão sexual, afirma Teresa Embiruçu, médica ginecologista do Ambulatório de Sexualidade da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e sexóloga pela Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).

“Às vezes a pessoa deflagra essa descarga da energia sexual, mas é quase um orgasmo mecânico. Você pode chegar ao orgasmo físico e ter a sensação que aquela relação não foi tão legal”, diz a ginecologista. “Uma relação sexual prazerosa se define não pela presença ou ausência do orgasmo, mas pela conclusão de que aquele contato foi bom como um todo.”
Fatores como gênero e orientação sexual, assim como as expectativas e os estigmas relacionados a diferentes grupos sociais também podem atravessar a qualidade do prazer.

Uma pesquisa americana divulgada no Archive of Sexual Behavior aponta que, enquanto 95% dos homens heterossexuais alcançam o orgasmo em todas as relações, apenas 65% das mulheres heterossexuais dizem o mesmo. Já no caso de mulheres lésbicas, essa porcentagem chega a 86%.

Jacy Lima, criadora de conteúdo sobre saúde íntima e sexualidade, destaca que “a corrida pelo orgasmo” gera pressões. “Estar numa relação sexual pensando só que tem que gozar, que tem que agradar, não ajuda. Hoje eu prezo muito pelo meu prazer durante o sexo. Se eu atingir ou não o orgasmo, tanto faz, eu tenho que sair dali satisfeita”, afirma.

Cultivar uma relação de qualidade com o corpo e o prazer também significa superar traumas. Jacy, que foi abusada sexualmente dos 5 aos 8 anos, reforça que garantias de direitos básicos e de bem-estar são pré-requisitos para o cultivo do prazer individual.

“Não adianta eu tentar empoderar uma mulher empurrando um vibrador e cobrando um orgasmo. A gente precisa entender o que é importante para aquela mulher. Às vezes ela precisa lidar com traumas, com violências sexuais sofridas, questões religiosas, problemas de autoestima ou falas depreciativas que ouviu a vida inteira.”

Do outro lado estão os homens heterossexuais e cisgênero, que possuem alto índice de orgasmo por relação sexual. No entanto, uma vez que orgasmo não representa métrica de qualidade, será que eles têm uma boa relação com o prazer?

O médico urologista Osei Akuamoa Jr., especialista em saúde do homem e cirurgias minimamente invasivas, afirma que a frequência sexual do homem brasileiro é boa, mas isso não indica qualidade.

“O universo de disfunções erétil e ejaculatória entre os homens é muito grande. Temos dados de que 40% dos pacientes que iniciam as atividades sexuais enfrentam alguma dificuldade, e isso tem muito a ver com os conceitos de performance e de masculinidade”, diz.

Rodrigo Roque Rabelo, 40, projetista e coordenador do grupo Respeito Todo Dia, que discute masculinidade, conta que cresceu acreditando nessas metas de performance e que, no passado, pensava que o bom era a quantidade.

“Depois de um tempo, com a idade, você entende que não é uma questão de alta performance. Se antes eu tentava várias, hoje é uma. Mas com certeza essa uma é de maior qualidade. Eu gosto muito mais do ato em si. Para mim o foco é o caminho, não a chegada.”

Segundo a médica Teresa Embiruçu, tentar explorar e alcançar mais orgasmos pode ser saudável, mas é preciso entender de que forma isso é feito. É importante que as pessoas ampliem seus repertórios, busquem se explorar e se conhecer. O que não é ideal é fazer disso uma obrigação, uma norma que, caso não seja atendida, se converta em frustração.

Ela também chama atenção para uma segunda etapa do desafio: quando as pessoas conseguem desenvolver uma boa relação com o próprio prazer, mas ainda precisam comunicar aos parceiros.

“Existe a dificuldade de falar de que jeito a pessoa gosta, com medo de desagradar o outro, com medo do julgamento. E se o outro me perguntar onde eu aprendi isso? Tem pessoas com pênis que gostam de ser tocadas na região anal, mas como numa relação heterossexual você conta isso para sua parceira? Eu vou colocar meu relacionamento em risco porque eu quero fazer um sexo diferente?”

Para Jacy Lima, o Dia do Orgasmo é uma oportunidade para pensar e cultivar o bem-estar de todas as pessoas, indo além do sexual. “Ninguém vai ter prazer se estiver com autoestima baixa, com problema financeiro, familiar, profissional. O sexo, o prazer, o orgasmo, tudo isso faz parte do nosso bem-estar, mas têm outros fatores de que também precisamos cuidar.”

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