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Saúde

“Me olham feio quando estou na fila preferencial”, lamenta adolescente com autismo

O jovem autista revela que o transtorno esteve sempre presente e que atrapalhava na relação com a família até ser diagnosticado

Redação Jornal de Brasília

02/04/2024 15h17

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Por Davi Moisés e Pedro Vianna
Agência de Notícias Ceub/Jornal de Brasília

Pietro é um jovem autista de 16 anos que é , segundo ele e a mãe, vítima do preconceito e doa desinformação.

“Quando estou em filas preferenciais, que é direito meu, as pessoas me olham com cara feia e até enfatizam que estou errado. Nem todo mundo que está nessa ala tem que usar cadeira de rodas, ser idoso ou estar caindo aos pedaços para não ser questionado. Ninguém tem escrito na testa que é autista, logo as pessoas julgam e muito”, aponta Pietro*.

Hoje, Pietro tem 16 anos e apresenta Transtorno do Espectro Autista (TEA) nível 2, e  sente que o despreparo dos médicos atrapalharam em sua aceitação.

“Se meu diagnóstico tivesse sido feito quando eu fosse mais novo eu me aceitaria melhor. Já cheguei a pensar que era louco”.

O jovem autista revela que o transtorno esteve sempre presente e que atrapalhava na relação com a família até ser diagnosticado.

Família

“Eu chegava cansada do plantão e via Pietro com algumas reações e eu perdia a paciência com ele. Eu achava que ele fazia birra, mas era característica do autismo. Teve uma vez que perdi a cabeça e bati nele, agredi mesmo e quando acabou ele não esboçou nada, ficou me olhando com uma cara de assustado. Ele tinha sinais, mas não eram de um autista típico. Meu filho é autista atípico”, destaca a enfermeira Fernanda*, de 40 anos e mãe de Pietro.

“Quando soube do diagnóstico eu fiquei aliviada, finalmente comecei a entender mais o meu filho. Me ajudou a ter mais paciência para lidar com as coisas que ainda não compreendo. Tento entendê-lo cada vez melhor”.

Fernanda tem orgulho de Pietro. Mas sente culpa pelo fato das situações que o filho passou na escola e na vida que poderiam ser evitadas se diagnosticado antes.

  • Diagnóstico

A mãe passou dificuldades em diagnosticar o TEA do filho. Esteve na batalha desde quando Pietro tinha seis meses.

Sofreu com a despreparo de neurologistas e pediatras que diagnosticaram-o com hidrocefalia, TDAH, TDA e até mesmo prescreveram Ritalina para uma criança de três anos.

O processo do diagnóstico foi longo, “foram 13 anos para entender o que o meu filho tinha”.

Em um grupo de pais com filhos autistas, Fernanda relata os erros médicos que outros pais presenciaram.

“O neurologista disse que filha de uma amiga estava melhorando do autismo. Esse transtorno não é uma doença para se curar ou para se “melhorar”, ressalta Fernanda.

O que é o autismo?

O autismo é um transtorno de comportamento que afeta os campos sociais, emocionais e psicológicos do indivíduo.

Além de apresentar comportamentos restritivos e repetitivos, mais conhecidos como estereotipias, podendo agravar-se dependendo do contexto que está inserido.

Os sinais do autismo muitas vezes são sutis e estão presentes desde quando o indivíduo tem meses de vida.

O diagnóstico do TEA é um processo demorado que pode levar até anos, principalmente em adultos.

O diagnóstico é clínico, ou seja, avalia-se os sinais que o paciente apresenta durante seu dia a dia.

Geralmente o autismo é identificado com outros transtornos  juntos, como por exemplo o TDAH, TDA, transtorno generalizado de ansiedade, transtorno opositor desafiante, TPAC, dislexia.

Os níveis do autismo

De acordo com o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) o Autismo é classificado em três níveis de acordo com a assistência necessária.

Nível 1 (autismo leve): podem apresentar dificuldades em interações sociais, estereotipias, dificuldade em interpretar sarcasmo, ironias, expressões faciais, apesar das dificuldades o indivíduo é independente e não possuem limitações no seu cotidiano.

Nível 2 (autismo moderado):  as dificuldades são mais significativas em relação ao nível 1, apresentam maior dificuldade nas interações sociais, estereotipias mais aparentes e intensas. A rigidez comportamental é presente, o que dificulta a adaptação de rotina, como aceitar a troca de alimentação, itinerário e hobbies. O indivíduo pode necessitar de apoio durante o seu dia a dia.


Nível 3 (autismo severo): apresenta as dificuldades dos níveis 1 e 2,  normalmente bem mais severas. O indivíduo pode demonstrar problemas na locomoção, nas atividades verbais e não verbais e pode ter redução da cognição. Podendo levar a isolação social caso não sejam incentivados.

Singularidades

O Autismo é um espectro, nenhum autista é igual ao outro, cada um tem suas particularidades.

Os sinais que um TEA apresenta pode ser completamente diferente do outro.

O  transtorno pode apresentar extremos quando se trata de seus sinais clínicos, como atraso na fala ou fala precoce, seletividade alimentar ou compulsão alimentar sem a sensação de saciedade, alta tolerância à dor física ou muita sensibilidade a ponto de não gostar de contato físico, extrovertido e introvertido, dificuldade cognitiva ou superdotação.

Quebra-cabeça

O quebra-cabeça é o símbolo mais conhecido que representa o Autismo.

Muito presente em fitas de identificação utilizadas pelos TEA´s. A figura representa a pluralidade e a  complexidade  que pertence ao espectro autista e do indivíduo.

Tem o objetivo de trazer a conscientização e facilitar a identificação do transtorno.

Girassol

O girassol também é utilizado para identificar o autismo, tendo em vista que o símbolo não se aplica somente ao transtorno, pois também é utilizado para a identificação de doenças ocultas, como TEA, surdez e doenças intelectuais.

Comemoração

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem ganhado cada vez mais visibilidade nos últimos anos.

O Dia Mundial da Conscientização do Autismo é comemorado nesta terça-feira (2).

Nessa data ocorrerá um evento gratuito e livre para todos os públicos que visa promover o conhecimento do TEA a partir de rodas de conversas com especialistas, familiares e  pessoas com autismo. Saiba mais sobre o evento.

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