Menu
Saúde

Diabete em idosos: especialistas explicam por que eles são mais vulneráveis

O médico geriatra Raphael Machado diz que esse grupo é mais susceptível por conta das causas, que também são fatores de risco para desenvolver a doença

Redação Jornal de Brasília

14/11/2022 17h54

Milena Dias
(Jornal de Brasília/Agência de Notícias CEUB)

O Brasil é o 5º país em incidência de diabetes no mundo, segundo o Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF). Nos idosos, a doença é mais comum quando comparada com outras idades, sendo geralmente do tipo 2.

O médico geriatra Raphael Gontijo Pessoa Machado diz que esse grupo é mais susceptível por conta das causas, que também são fatores de risco para desenvolver a doença. São elas: a falta de atividade física e sedentarismo.

Ele considera que apenas uma pequena porcentagem é por fator hereditário, mas as principais causas são: obesidade, a falta de atividade física e a alimentação incorreta, com consumo excessivo principalmente de carboidratos. Todas elas favorecem o aumento de peso, o que prejudica a ação da insulina no corpo.

Limitações

“Os idosos, muitas vezes devido a outras comorbidades, principalmente limitações ortopédicas, motoras ou cardiovasculares, são impedidos de fazer alguma atividade física mais regular. Isso com certeza piora muito o prognóstico deles”, afirma o geriatra Raphael Gontijo.

O médico acrescenta que idosos tendem a adquirir alguns hábitos de vida não saudáveis e não estão dispostos a mudar. Apesar de frequente, não foi o que aconteceu com Sebastião Candido Marques, de 92 anos. Ele conta que ingeria muito açúcar, principalmente no refrigerante.

Porém, hoje tem uma alimentação considerada exemplar pelos seus médicos. Ele consegue controlar sua pré-diabetes apenas com alimentação, sem a necessidade de medicações específicas.

“Eu bebia muito refrigerante. Eu tinha um lugar de comprar lá perto da rodoviária. Tinha um armazém, e uma vez eu fui lá e tinha dois refrigerantes de dois litros. Eu comprei os dois, levei para casa e bebi tudo”.

Mas hoje, ele mora com sua filha, Laudelina Candido Marques da Silva, de 46 anos, que o orienta em sua alimentação, que é adequada para o seu quadro de pré-diabetes.

Ela diz que ele só usa adoçante e somente se precisar, diminuiu o consumo de carboidratos e aumentou as fibras.

“Com isso ele tem melhorado muito, quase nem passa mal mais. Toda vez que a gente vai ao médico está assim no limite, mas ele continua pré-diabético, não está diabético. Mas se não fosse por esses cuidados, com certeza já teria virado diabetes”, relata Laudelina.

Os sintomas que sentia com mais frequência eram: tontura, palidez, tosse e suor frio. O médico Raphael Gontijo ressalta outros sintomas comuns: emagrecimento, muita sede, aumento da frequência em que vai ao banheiro e alguns sintomas atípicos que podem até ser confudidos com outros quadros.

“O idoso pode ter até perda de memória, tontura, ele pode estar caindo, pode estar com incontinência urinária e muitas das vezes a gente acha que pode ser uma doença específica, mas não. Quando a gente faz o exame detectamos o diabetes. Então o idoso tem essa particularidade, alguns sintomas são atípicos e o médico tem que estar atento a isso para fazer o diagnóstico e tratamento correto”.

Exames

Diferentemente, Elvira Sobrinho, de 76 anos é diabética e a doença sempre foi silenciosa, ou seja, nunca apresentou sintomas.

Ela descobriu em exames de sangue de rotina e desde então tem cuidado melhor da alimentação, com a redução de açúcar e carboidratos e o aumento das fibras. Além disso, faz o exame semanal de glicose a glicemia capilar em casa.

Com o médico, se encontra de seis em seis meses, o que é também recomendado pelo geriatra Raphael. Ele considera que para os idosos o acompanhamento deve ser feito por um geriatra ou um endocrinologista.

Semestralmente, Sebastião vai ao endocrinologista e com muito gosto. “Eu gosto de ir ao médico. Não sei quantas vezes já fui à farmácia, ao hospital, ao posto de saúde… e sempre quando ela [minha filha] acha que eu preciso ir ao médico, ela me leva e gosto de ir. Ela é muito amorosa.”

Laudelina conta que ele sempre gostou de se cuidar e acredita que isso tenha contribuído para a saúde que tem hoje e que isso ajudou para a pré-diabetes não evoluir.

Hoje, Elvira reconhece que se tivesse tomado os cuidados que tem agora desde sempre, provavelmente não conviveria com a diabetes. Laudelina complementa, sobre seu pai: “Eu acho que se ele não tivesse exagerado antes, talvez não tivesse nem pré-diabetes agora”.

Casos graves

“Pessoas que têm diabetes descontrolada podem ter grande dificuldade na recuperação de cirurgias e sintomas muito mais graves, como feridas nos pés que vão elevando tanto a ponto de precisar amputar o membro”, relata a enfermeira Angélica Santos.

Ela ainda diz que a doença pode provocar cegueira já que a diabetes danifica os vasos sanguíneos da retina.

A enfermeira alerta para o perigo de quando a doença é silenciosa, por isso a importância dos exames de rotina feitos corretamente, para que o tratamento seja feito o mais rápido possível, afim de não chegar a um caso como este.

O médico Raphael Gontijo também ressalta que as complicações causadas pela diabetes são péssimas. Elas podem causar: retinopatia, que é a perda da visão por doença oftomológica, doença renal crônica ou neuropatias. Segundo ele, os idosos já vêm com uma fragilidade iderente à idade e além disso podem já vir com complicações da fase adulta que respingam enquanto idosos.

“Quando a gente trabalha na geriatria utilizamos muito o termo da longevidade. É um dos objetivos do geriatra fazer o paciente ser longevo, no entanto com uma máxima qualidade de vida e autonomia”, diz o geriatra.

Prevenção e tratamento

“A melhor forma de se prevenir é tratando os fatores de risco: redução do peso, atividade física regular, alimentação adequada, cessação do tabagismo. São os principais fatores que não são só de prevenção do diabetes mas também de várias doenças cardiovasculares”, afirma o médico. Ele ressalta que essa prevenção deve ser feita desde a fase adulta para evitar a doença ou complicações a partir dela.

O geriatra fala da importância em tratar corretamente do idosos a partir das suas complicações específicas. O primeiro passo para o tratamento é adquirir uma mudança no estilo de vida: uma dieta correta, acompanhada por um nutricionista e a prática de atividades físicas, acompanhado por um educador físico ou fisioterapeuta.“No segundo momento, se não houver o controle da glicose no sangue a gente parte para o medicamento”.

A geriatria particularmente é atenta aos efeitos colaterais das medicações, já que os idosos geralmente precisam de outros remédios e existe maior fragilidade do organismo. Assim, o médico conta da preocupação em usar insulina e diz que sempre opta primeiro por mudanças no estilo de vida e depois pelos medicamentos via oral.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado