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Saúde

Da covid ao câncer: a revolução das vacinas de RNA mensageiro

O RNA mensageiro está presente em todas as células, é o que lhes permite funcionar de forma correta no organismo

Redação Jornal de Brasília

02/10/2023 10h25

Foto: AFP

As vacinas de RNA mensageiro, que surgiram com a crise da covid-19 e que renderam, nesta segunda-feira (2), o Prêmio Nobel de Medicina aos pesquisadores Katalin Karikó (Hungria) e Drew Weissman (Estados Unidos), marcaram o ponto mais alto de uma revolução terapêutica.

Uma revolução que também poderia ser usada contra a aids e alguns tipos de câncer, depois de décadas de pesquisas e vários obstáculos.

Como funciona?

O RNA mensageiro está presente em todas as células, é o que lhes permite funcionar de forma correta no organismo. Atua como intermediário entre o código genético do DNA e a atividade da célula.

Mais especificamente, o RNA mensageiro é uma cópia temporária de uma pequena parte do DNA que está constantemente presente no núcleo da célula, que usa essa cópia como código para produzir proteínas específicas.

Por meio de um tratamento com RNA mensageiro, esses fragmentos de código genético são inseridos externamente. Portanto, eles são criados artificialmente em laboratório, e não a partir do DNA.

Até agora, a principal aplicação tem sido a vacinação contra a covid-19, área em que há duas empresas conhecidas: Pfizer/BioNTech e Moderna.

Essas vacinas induzem as células a reproduzirem proteínas presentes no vírus, os “antígenos”, para familiarizar o sistema imunológico a reconhecê-lo e neutralizá-lo.

Uma vacina clássica também procura familiarizar o organismo com um vírus (ou outros agentes infecciosos), mas o faz introduzindo diretamente o vírus no corpo, em uma forma atenuada, ou inativa (embora algumas vacinas mais recentes apenas injetem os antígenos do vírus).

A revolução da vacina de RNA mensageiro reside em fazer as células produzirem diretamente esses antígenos. Assim como acontece com outras vacinas, o sistema imunológico reage, gerando anticorpos.

As principais etapas deste novo método

O primeiro grande avanço, no final da década de 1970, foi o uso de RNA mensageiro para fazer as células em tubos de ensaio produzirem proteínas.

Uma década depois, os cientistas conseguiram obter os mesmos resultados com ratos, mas o RNA mensageiro ainda tinha duas grandes desvantagens como ferramenta médica.

Primeiro, as células dos animais vivos resistiam ao RNA mensageiro sintético, provocando uma resposta imunológica perigosa. Além disso, as moléculas de RNA mensageiro são frágeis, o que dificulta sua entrega ao sistema sem alterá-las.

Em 2005, Kariko e Weissman, da Universidade Estadual da Pensilvânia, publicaram um estudo inovador que mostrava que um envelope de lipídios, ou moléculas de gordura, poderia entregar RNA mensageiro de forma segura e sem efeitos negativos.

A pesquisa causou alvoroço na comunidade farmacêutica, e startups dedicadas a terapias com RNA mensageiro começaram a surgir em todo o mundo.

Outras aplicações

A comunidade científica tem trabalhado para desenvolver vacinas de RNA mensageiro para doenças como gripe, raiva e zika, além daquelas que têm sido resistentes às vacinas até agora, como malária e HIV/aids.

Os pesquisadores também começaram a testar tratamentos personalizados em pacientes com câncer, utilizando amostras das proteínas presentes nos seus tumores para criar RNA mensageiro especializado. Isso faz o sistema imunológico atacar células cancerígenas específicas.

“A plataforma de RNA mensageiro é versátil”, disse à AFP Norbert Pardi, bioquímico da Universidade da Pensilvânia. “Qualquer proteína pode ser codificada como RNA mensageiro, portanto há muitas aplicações potenciais”.

© Agence France-Presse

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