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Saúde

Cresce o número de crianças com peso saudável tentando emagrecer, mostra estudo

Os autores do trabalho também enxergam esse dado como preocupante porque essa mudança não foi acompanhada pelo sistema de saúde da Inglaterra

FolhaPress

28/07/2022 15h16

Balança x medidas corporais

Balança x medidas corporais

Maria Tereza Santos
São Paulo, SP

Um novo estudo realizado pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, revelou que o número de crianças e adolescentes no Reino Unido tentando emagrecer aumentou de 1997 a 2016.

A marca, no entanto, ultrapassou a quantidade de jovens com sobrepeso e obesidade, o que mostra que parte daqueles com o peso saudável também está fazendo dieta.

Os cientistas chegaram a essa conclusão com base na resposta de 34.235 jovens de 8 a 17 anos que participaram da Pesquisa de Saúde para a Inglaterra, um levantamento que é feito anualmente no país. Perguntaram aos voluntários se eles estavam tentando emagrecer, engordar, ou se não estavam tentando alterar seu peso.

Em 1997, 21,5% dos entrevistados disseram que estavam tentando emagrecer. Vinte anos depois, esse número subiu para 26,5%, mais de um quarto da população jovem. Em um primeiro momento, é possível ver esse dado como algo positivo, já que a obesidade infantil é um problema que afeta o mundo todo. No Reino Unido, por exemplo, uma em cada três crianças está com sobrepeso ou obesidade.

No entanto, os autores acendem um alerta para outro dado encontrado. O número de participantes com o peso adequado para sua idade, mas que tentavam emagrecer, triplicou, indo de 5,3% para 13,6% em duas décadas. Se nos anos 90, a proporção era de 1 jovem em cada 20, em 2016, 1 a cada 7 crianças saudáveis estava tentando emagrecer.

Apesar de o trabalho não ter relatado a motivação desses jovens, o pediatra Mauro Fisberg, membro do Departamento Científico de Nutrologia da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) aponta que isso pode estar relacionado a questões de autoimagem e aceitação.

“Há a possibilidade de quererem perder peso por causa da autoestima, capacidade de avaliação da imagem corporal, bullying insistente ou pela maior disseminação de dietas na mídia”, afirma o especialista.

A nutricionista Luna Azevedo, coordenadora de Pós Graduação em Nutrição Vegetariana e Vegana no ILH (Instituto Luciana Harfenist), no Rio de Janeiro, acredita que o aumento da cultura das redes sociais, que reforça cada vez mais um “ideal magro”, causando insatisfação com o próprio corpo, também está por trás desse crescimento.

“A tentativa de perda de peso entre os pequenos abre uma enorme janela para o aparecimento de transtornos como anorexia, bulimia, compulsão alimentar e transtorno disfórmico corporal, mais conhecido como distúrbio de imagem”, alerta.

Cenário no Brasil não é totalmente conhecido Não existem dados que avaliem a situação dos jovens brasileiros. O que se sabe, de acordo com o Atlas da Obesidade Infantil do Ministério da Saúde, é que 3 em cada 10 crianças de 5 a 9 anos estão acima do peso no país.

O Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes, feito pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) em parceria com o Ministério, revela que 17,1% dos adolescentes brasileiros de 12 a 17 anos estão com sobrepeso e 8,4% estão obesos. Os documentos foram publicados em 2019.

Fisberg conta que, no seu dia a dia de consultório, nota que a busca por emagrecimento é maior entre as meninas adolescentes. “Nas crianças, usualmente de 6 a 10 anos, a indicação quase sempre é dos pais e é um pouco tardia”, alega.

O pediatra reparou que os garotos mais velhos estão procurando mais ajuda para diminuir o peso -e ganhar músculos. “Só que a maior parte deles não tem muito interesse em mudar costumes alimentares ou em praticar atividade física. Em outras palavras, eles querem algo mais parecido com um milagre”, relata o médico.

A investigação britânica mostrou um movimento similar. Ao longo dos 20 anos, as garotas sempre foram o grupo que mais relatou tentativas de perda de peso, mas houve um crescimento expressivo na ala masculina (de 15% para 20%).

Além disso, Fisberg conta que tanto os jovens, como seus pais, têm perguntado mais sobre medicação para emagrecer.

Acompanhamento médico é essencial O estudo mostra que entre as crianças com sobrepeso, a tentativa de diminuir o número na balança foi de 9% para 39,3%. Já para as obesas, o crescimento foi de 32,9% a 62,6%.

Os autores do trabalho também enxergam esse dado como preocupante porque essa mudança não foi acompanhada pelo sistema de saúde da Inglaterra, o que levaria a tentativas inadequadas de emagrecimento.

“É oportuno que elas estejam levando seu peso mais a sério. Mas isso só se faz de fato positivo, se essa for uma preocupação com a saúde, para além de uma pressão estética. Não devemos esquecer que se trata de crianças. Padrão de beleza e estética não deveria ser uma preocupação para eles”, diz a nutricionista Luna Azevedo.

Já o pediatra Mauro Fisberg aponta que esse cenário só será revertido com informação e ação de programas governamentais. “Para evitar o excesso de peso e população com tendências de modificação corporal é importante que nós tenhamos recursos educativos e avaliação bastante contínua das populações de risco.”

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