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Saúde

Consumo aumentado de vape por jovens de Brasília acende alerta

Redação Jornal de Brasília

21/08/2024 14h45

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Foto: Divulgação

Embora os cigarros eletrônicos sejam frequentemente anunciados como uma alternativa mais segura aos cigarros tradicionais, a popularidade desses vapes, que vaporizam líquidos com ou sem nicotina, tem aumentado significativamente nos últimos anos, especialmente entre os jovens. O consumo de vape em Brasília, assim como em outras grandes cidades brasileiras, tem sido tema de crescente preocupação e a relação entre o seu uso e o risco de câncer de pulmão ainda está sendo investigada.

De acordo com uma pesquisa do Instituto de Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), o número de pessoas que usam o vape quadruplicou no país entre 2018 e 2022, passando de 500 mil para 2,2 milhões de consumidores. A Capital Federal é a unidade da federação onde o consumo teve o maior aumento, passando de 0,8% da população adulta para 4,5%.

A oncologista Janice Farias, explica que pesquisas recentes demonstram que o vapor do cigarro eletrônico contém substâncias químicas cancerígenas e outras substâncias nocivas que podem danificar os pulmões, mas ressalta que ainda são necessários mais estudos que comprovem essa relação.

“Nosso entendimento atual é de que os riscos relacionados ao cigarro eletrônico superam e muito qualquer potencial benefício de controle ao tabagismo. A nicotina tem alto grau de dependência química, chegando rapidamente ao cérebro, em cerca de nove segundos. Um cigarro comum possui 1mg de nicotina (máximo permitido no país); no vape, podemos encontrar concentrações muito superiores, de até 57mg de nicotina por ml, evidenciando como podem ser perigosos e viciantes. Além disso, outras substâncias tóxicas podem estar presentes como acetato de vitamina E, derivados da maconha (tetrahidrocanabinol -THC e o canabidiol) e metais tóxicos, como o níquel”, explica a especialista.

De acordo com a médica, uma doença relacionada ao uso do vape é a EVALI (injúria pulmonar aguda) que causa uma inflamação severa nos pulmões, muitas vezes necessitando de tratamento com ventilação mecânica.

“O cigarro eletrônico também eleva a pressão arterial e a frequência cardíaca, podendo aumentar o risco de doenças do coração e derrames. Em 2019, o Federal Drug Administration (FDA) relatou 127 casos de convulsões relacionadas ao vaping, em sua maioria entre adolescentes e jovens. A convulsão decorreu da intoxicação por nicotina. Todos esses graves danos à saúde nos mostram que não existe dispositivo seguro quando falamos de nicotina. É importante lembrar que os vapes continuam proibidos no Brasil. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) reforçou a proibição em abril de 2024, com a resolução RDC 53/2024”, ressalta a oncologista.

Fatores que influenciam o risco:

  • Produtos químicos no vapor: a composição do vapor do cigarro eletrônico varia muito, dependendo do dispositivo, do líquido utilizado e da forma como o vape é usado.
  • Padrões de uso: a quantidade e a frequência do consumo do cigarro eletrônico podem afetar o risco de danos pulmonares e câncer.
  • Saúde geral: pessoas com doenças pulmonares pré-existentes ou outros problemas de saúde podem ter um risco maior de desenvolver enfermidades relacionadas ao uso do vape.

Panorama do câncer de pulmão

Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) indicam, que em 2024, mais de 32 mil brasileiros serão diagnosticados com a neoplasia, fazendo com que o tumor esteja entre os líderes em volume de incidência no país. Ainda segundo o INCA, no Brasil o câncer de pulmão é o terceiro mais frequente entre os homens e o quarto mais comum entre as mulheres, com estimativas de 18.020 e 14.540 novos casos, respectivamente para cada gênero.

Segundo dados do Ministério da Saúde, pessoas que fumam têm 30% mais chances de desenvolver câncer de pulmão. Contudo, há boas perspectivas que podem contribuir para a melhora desse cenário. No mês de agosto, uma clínica de Brasília lança a iniciativa Cuidar sem Limites cuja mensagem central é “0% de fumaça é cuidar 100% da saúde”, informando sobre os riscos dos cigarros nas suas diferentes formas e modalidades e os benefícios de parar de fumar. Janice Farias, afirma que campanhas de conscientização, como o Agosto Branco, são fundamentais e explica que os sintomas da neoplasia normalmente estão ligados ao próprio aparelho respiratório.

“Na fase inicial do tumor não há sintomas, eles vão aparecer quando a doença avança. Tosse persistente por mais de quatro semanas, falta de ar e dor no peito são sinais que merecem atenção. Fraqueza sem motivo aparente e perda de peso também podem estar relacionadas à doença”, ressalta a médica.

Terapias avançadas estão revolucionando o combate à doença

Para Janice Farias, o tratamento do câncer de pulmão evoluiu significativamente nos últimos anos, com benefício direto na qualidade de vida dos pacientes. As terapias alvo dirigidas a biomarcadores específicos do tumor, permitem que o paciente viva mais e com menos efeitos colaterais, usando comprimido ao invés de medicação na veia.

“A imunoterapia possibilitou a remissão da doença por longos períodos, o que não era visto de forma rotineira com a quimioterapia. Novos compostos de quimioterapia e técnicas de radioterapia entregam resultados mais ativos com toxicidade reduzida. As cirurgias de câncer de pulmão também têm melhorado seus resultados através de técnicas menos invasivas, como a robótica. Todas essas tecnologias têm revolucionado o combate a esse tipo de neoplasia, oferecendo esperança à população”, reforça a especialista.

Ainda de acordo com a oncologista, no Congresso Anual da Sociedade Americana de oncologia clínica (Asco), que aconteceu em junho de 2024, foi apresentado um trabalho que demonstrou uma melhora significativa na sobrevida global de pacientes com câncer de pequenas células, um subtipo agressivo de tumor no pulmão. “O uso de imunoterapia após o tratamento padrão de radioterapia e quimioterapia reduziu o risco de morte em 27% comparado ao placebo”, finaliza a oncologista da Oncoclínicas Brasília.

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