O Brasil realizou 3.821 transplantes de medula óssea em 2024, segundo o Registro Brasileiro de Transplantes (ABTO). No Distrito Federal, foram 145 procedimentos realizados em 2024. Em termos de doação, o país tem o terceiro maior banco de doadores de medula óssea do mundo, atrás apenas da Alemanha e dos Estados Unidos. São cerca de 6 milhões de brasileiros cadastrados e dispostos, de forma voluntária, a salvar uma vida, de acordo com o Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME).
Em um cenário de alta demanda por terapias para doenças hematológicas graves, o Centro de Referência em Transplante de Medula Óssea do Hospital Santa Lúcia consolida o transplante de medula óssea autólogo como uma estratégia terapêutica fundamental para ampliar as chances de controle da doença. O procedimento, que utiliza as próprias células do paciente, permite a realização de tratamentos mais intensivos com maior segurança clínica, dentro de protocolos rigorosos e acompanhamento especializado. “O transplante de medula óssea autólogo representa um avanço importante no tratamento de doenças hematológicas, especialmente alguns tipos de linfomas e mieloma múltiplo, ao possibilitar terapias mais eficazes e personalizadas para cada paciente”, explica o médico hematologista Dr. Rodolfo Kameo, coordenador de Transplante de Medula Óssea do Hospital Santa Lúcia.
A mobilização pública em torno do tema ganha reforço com a Semana de Mobilização Nacional para Doação de Medula Óssea, que começou no dia 14 e vai até o dia 21 de dezembro, período que tradicionalmente concentra as principais ações de conscientização e esclarecimento sobre cadastro e doação.
O que é TMO e por que ele é decisivo em algumas doenças?
O transplante de medula óssea é um procedimento no qual o paciente recebe células-tronco hematopoéticas — capazes de reconstruir a produção de sangue na medula — após um preparo clínico (condicionamento) que varia conforme cada indicação. Na prática, existem duas modalidades principais:
• Autólogo: as células são do próprio paciente, coletadas previamente, processadas e armazenadas para reinfusão.
• Alogênico: as células vêm de um doador (aparentado ou não aparentado), exigindo compatibilidade e logística integrada entre bancos de dados, hemocentros e centros transplantadores.
Para o Dr. Rodolfo Kameo, conhecer a diferença ajuda a reduzir ruídos e interpretações equivocadas. “O transplante autólogo é, em geral, indicado para pacientes com mieloma múltiplo em primeira linha e, em segunda linha, para alguns linfomas. Nem sempre ele é curativo — a indicação precisa ser individualizada, considerando custo-benefício e características do paciente”, afirma.
No caso do transplante alogênico, a lista de doenças potencialmente tratáveis é mais ampla e inclui condições benignas e malignas. “Anemia aplástica, anemia falciforme, talassemia maior e algumas imunodeficiências graves podem ser curadas com o transplante. Entre as neoplasias, destacam-se leucemias agudas, mielodisplasias, mielofibrose e leucemia mieloide crônica — mas não são todos os casos que precisam ser transplantados”, completa o especialista.
Diferencial: todas as etapas do autólogo no mesmo centro
Além de orientar e tratar pacientes que podem precisar de transplante, o Hospital Santa Lúcia destaca que seu Centro de Referência em TMO está entre as poucas unidades do Distrito Federal que realizam todas as etapas do transplante autólogo na própria unidade — incluindo coleta da medula/células-tronco, congelamento, armazenamento, processamento e reinfusão, com protocolos e fluxos assistenciais integrados.
Segundo o Dr. Kameo, a estrutura completa não é apenas detalhe técnico: ela impacta diretamente na segurança e no resultado do paciente. “O transplante de medula óssea é um procedimento que pode ter riscos. Por isso, é fundamental termos uma estrutura hospitalar de ponta e equipe multiprofissional treinada e especializada para mitigarmos os riscos. O Hospital Santa Lúcia tem uma das melhores estruturas do DF para realizar esse tipo de procedimento”, afirma.
Doação: mitos, segurança e como se cadastrar
Apesar de ser um tema recorrente em campanhas, a doação de medula ainda é cercada de medo e desinformação. O coordenador do Centro de Referência de TMO do Hospital Santa Lúcia ressalta que a segurança do doador é premissa do processo. “Antes da doação, são feitos vários exames para avaliar viabilidade. Se o médico transplantador considerar risco relevante, a doação não é feita. A recuperação é rápida, não há sequelas e a doação pode, inclusive, ser realizada mais de uma vez”, afirma.
No Distrito Federal, o caminho para se tornar doador passa pelo Hemocentro, com cadastro e coleta de amostra de sangue para testes de compatibilidade, que entram no REDOME (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea). Caso exista compatibilidade com algum paciente que precise de transplante, o doador é convidado para prosseguir — e tem liberdade para desistir.
Outro ponto fundamental é a compatibilidade genética, que torna a doação de medula óssea um processo complexo e altamente específico. “A chance de encontrar um doador compatível fora da família, por exemplo, é considerada baixa, pois depende de características genéticas herdadas, especialmente relacionadas ao sistema HLA (antígenos leucocitários humanos), que precisam ser muito semelhantes entre o doador e o receptor”, explica Dr. Rodolfo.
Por isso, quanto maior e mais diverso o número de pessoas cadastradas no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea, maiores são as possibilidades de localizar um doador compatível para pacientes que aguardam por um transplante.