Menu
Saúde

Brasil avança na prevenção do câncer do colo de útero

Novos exames diagnósticos e vacinação contribuem para combater um dos cânceres mais comuns no país, mas ainda há desafios a serem vencidos

Lindauro Gomes

17/01/2024 11h56

Frame/ TVBrasil/ EBC

Dra. Adriana Bittencourt Campaner*

É sempre bom começar o ano com boas notícias, principalmente quando se trata da saúde da população brasileira. Neste caso, iniciamos 2024 com a perspectiva de incluir um novo teste diagnóstico para a prevenção do câncer de colo de útero – o terceiro tipo de câncer que mais acomete as mulheres no país.

Nesta ação, a própria população pode participar expressando sua opinião através da consulta pública. A iniciativa faz parte de uma série de medidas para ampliar a prevenção da doença no Brasil.

Prevenir o câncer de colo do útero envolve principalmente a realização de exames diagnósticos que detectam a presença do papilomavírus humano (HPV), principal fator relacionado ao desenvolvimento do câncer, bem como a realização de exames que detectam as lesões pré-cancerosas causadas por esse vírus.

A recomendação do Ministério da Saúde é que mulheres entre 25 e 64 anos realizem o exame Papanicolau pelo menos a cada três anos. Nesta consulta pública, que está aberta, a proposta a ser votada é a inserção dentro do SUS, do teste de PCR para HPV. O teste, mais sensível que o Papanicolau, antecipa o diagnóstico da presença do vírus, antes que o paciente apresente algum tipo de lesão.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer do colo do útero é o terceiro tipo de câncer mais incidente na população feminina brasileira, excluindo-se os tumores de pele não melanoma. Para cada ano do triênio 2023-2025, o instituto estima mais de 17 mil casos novos, o que representa uma taxa de incidência de 15,38 casos a cada 100 mil mulheres¹.

Além do diagnóstico, a vacinação contra o vírus do papiloma humano (HPV) é uma medida preventiva importante. A vacinação visa proteger contra os principais tipos do vírus.

Em março de 2024, completaremos uma década de vacinação contra o HPV no país por meio do sistema público de saúde. O ponto positivo é que a cobertura desta vacinação cresceu em 2023, pela primeira vez desde 2014, de acordo com o Ministério da Saúde. A cobertura subiu 30% no ano passado, impulsionada principalmente pela estratégia de vacinação nas escolas em 3.992 cidades brasileiras, segundo o órgão².

Entre as inovações significativas para ampliar a prevenção do câncer de colo de útero no país também está autocoleta, ou seja, para realizar o exame de PCR para HPV, mulheres e homens trans podem realizar a coleta de amostra em sua própria casa. É um processo muito simples, que não depende de deslocamento do paciente nem de profissionais para realizá-lo, mas é igualmente seguro e eficaz quando comparado ao método tradicional.

Já aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e lançado no Brasil no ano passado, a autocoleta contribui para ampliar o acesso à saúde de pessoas que vivem em áreas remotas ou mesmo aquelas que tenham barreiras culturais ou religiosas que inibem a realização da coleta ambulatorial.

Enfim, o Brasil tem dado passos fundamentais no avanço à prevenção do câncer de colo de útero, embora haja desafios importantes a vencer. O acesso ao rastreamento é muito desigual no país e o volume de diagnósticos no SUS ainda é baixo (292,1 mil exames em 2022), permanecendo distante do padrão adequado, devido ao gargalo na atenção secundária à saúde, como relata o INCA1. Portanto, isso leva boa parte dos pacientes a enfrentarem dificuldades para confirmarem os seus diagnósticos.

Por último, e não menos relevante, a tradicional medida preventiva continua sendo essencial para prevenir a infecção pelo HPV: o uso de preservativos durante as relações sexuais – o que nos leva a destacar a importância da educação sexual dos nossos jovens e o acompanhamento da saúde da população em todas as etapas da vida.

Que venham mais boas notícias em 2024!

 

Dra. Adriana Bittencourt Campaner é Mestre e Doutora em Tocoginecologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa São Paulo (SP); Médica chefe do setor de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia da Santa Casa SP e professora adjunta da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado