Lucimar de Moura foi durante 11 anos, dois meses e 11 dias a mulher mais rápida da América do Sul. Capaz de percorrer 100m em 11s17, ela perdeu a melhor marca da distância em setembro do ano passado, quando estava afastada das pistas após dar à luz sua primeira filha e viu a jovem companheira de treinos Ana Cláudia Lemos fazer 11s15. De volta aos treinamentos e prestes a completar 37 anos de idade, ela quer aproveitar a força de ser mãe para retomar o posto de recordista dos 100m rasos.
“O pessoal fala para mim ‘agora você está cheia de hormônios’ vamos ver se eu consigo aproveitar esses hormônios e melhorar meu tempo”, afirmou aos risos Lucimar, que ainda detém o recorde sul-americano dos 200m rasos e fez parte da equipe brasileira que é dona da melhor marca da América do Sul do revezamento 4x100m.
A velocista resolveu dar uma pausa na carreira. Após dez anos de casamento com o ex-atleta do salto com vara Leônidas Aguiar, Lucimar engravidou e deu à luz Anna Júlia, primeira filha do casal. Ainda na temporada passada, retomou os treinamentos em São Caetano do Sul com o técnico Katsuhico Nakaya, sofrendo com a perda de força física pelo tempo fora das pistas.
A expectativa de Lucimar é voltar a competir no mês de março, já buscando conquistar uma vaga nos Jogos Pan-americanos de Guadalajara e no Mundial de Daegu, na Coreia do Sul. “Quero sentir de novo aquela adrenalina, participar das competições, sentir o clima”, afirmou.
Para a próxima temporada, ela tem metas mais audaciosas: a vaga nas Olimpíadas de Londres 2012, em que espera melhorar seu resultado em Jogos Olímpicos. “Chegar numa semifinal, ou na final, já seria um pódio: a primeira velocista brasileira numa final olímpica”, disse Lucimar, que tem como melhor resultado individual em Olimpíadas a classificação à segunda rodada dos 100m rasos em Pequim-2008. Na China, ela também foi quarta colocada com a equipe brasileira no revezamento 4x100m.
Entre as motivações da velocista para continuar competindo em alto nível e superar as próprias marcas está a tenista belga Kim Clijsters, que se aposentou em 2007 para ser mãe. Em 2009, voltou às quadras e na atual temporada chegou a retomar a liderança do ranking mundial.
Para conquistar suas metas, no entanto, Lucimar convive com duas rotinas estafantes, a de mãe e de atleta profissional. O dia começa por volta das 6h, quando Anna Júlia acorda. Após o café ao lado da filha, a velocista treina durante toda a manhã sob a supervisão de Nakaya. No início da tarde, volta para casa, onde fica atenta a cada passo da herdeira até ela dormir, por volta das 21h.
A função de mãe volta a ser exercida durante a madrugada, quando Anna Júlia acorda para a hora da mamadeira. “Cansava um pouco no começo, mas agora eu já acostumei. Agora é bom, que pelo menos ela mama e dorme. Antes queria ficar brincando”, comemorou.
Para aguentar o ritmo acelerado, Lucimar conta com ajuda da amiga e companheira de treinos Maíla Machado, com quem mora junto. A mãe de Maíla, Lúcia, também apoia, cuidando de Anna Júlia, enquanto as atletas estão em atividade. Com o atletismo tão presente em casa, a velocista brinca de projetar uma carreira nas pistas para a filha.
“Em casa eu já fico fazendo alongamento nela [risos]. Já trouxe ela para a pista, coloquei ajoelhada e o pessoal falando ‘não deixa ela fazer atletismo, faz outro esporte’ [risos], mas não tenho do que reclamar do atletismo. São 20 anos fazendo já”, afirmou.
