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Política & Poder

Veja na íntegra documento com conversas entre Moro e Deltan

Material mostra indícios de caráter seletivo, motivação política e de estratégias de bastidores que podem evidenciar quebra de conduta por parte do hoje ex-juiz

Redação Jornal de Brasília

03/02/2021 12h34

Foto: Agência Brasil

Hylda Cavalcanti
[email protected]

Um conteúdo que parece comprovar muito do que se falou e especulou nos últimos anos. Trata-se do arquivo liberado pelo ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), com as conversas e mensagens eletrônicas trocadas entre o ex-juiz federal Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, que coordenou a força-tarefa da Operação Lava Jato. O Jornal de Brasília teve acesso.

O material mostra indícios de caráter seletivo, motivação política e de estratégias de bastidores que têm sido consideradas por analistas como conteúdo significativo para evidenciar quebra de conduta por parte do hoje ex-magistrado, em processo que ainda será julgado pela mais alta Corte do país – e que pode vir a decidir pela suspeição de Sérgio Moro. E, em consequência, pode levar à anulação de vários julgamentos de políticos.

Veja o documento:

Diálogo Moro by Jornal de Brasília on Scribd

No total, são 1.297 documentos de HTML, com trocas de mensagens individuais e em grupos (chats), o que representa aproximadamente 34 Gb (equivalentes a 4,6% dos 740 Gb totais disponibilizados).

Leia mais: núcleo da Lava Jato pede anulação do acervo da Spoofing

Combinações

As mensagens mostram antecipações feitas para Moro, combinações sobre futuras ações da Lava Jato, pedidos para uso de verba da força-tarefa para financiar campanhas de divulgação do projeto anticorrupção do grupo, enviado depois ao Congresso Nacional. E, também, maquinações para a divulgação de vídeo de conversa telefônica entre os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff na véspera da posse de Lula como ministro, em 2016.
Traz, em vários diálogos, ainda, críticas dos dois (Moro e Deltan) sobre o Congresso Nacional e o STF e, em vários momentos, citações ao que ambos definiam como “grau de renovação política” para a eleição de 2018, “de pessoas comprometidas com mudanças”.

A divulgação das conversas atendeu a pedido feito pelo advogado de defesa de Lula, Cristiano Zanin Martins, em dezembro passado. Zanin Martins já tinha tido acesso a algumas das mensagens, mas não à íntegra do material. Agora, ele e sua equipe pretendem usar os dados na ação que questiona ao STF a parcialidade de Moro.

Ampla defesa

Ao liberar o conteúdo, o ministro Lewandowski já tinha destacado, em decisão anterior, que “o acesso de Lula às mensagens cumpre o direito constitucional à ampla defesa”. O que mudou foi que no início, Lewandowski entendeu que o sigilo não poderia ser aberto para todos, por envolver terceiros e não apenas Lula. Na decisão de ontem, entretanto, o magistrado reviu esta posição.

Em um dos trechos das conversas, Deltan escreve para o ex-juiz sobre futuras ações da força-tarefa da Lava Jato, que teoricamente não deveriam ter a influência do magistrado.

“Caro, quando seria um bom dia e hora para reunião com a PF, aí, sobre aquela questão das prioridades? Sua presença daria uma força moral nessa questão da necessidade de priorização e evitaria parecer que MPF quer impor agenda”, destaca o procurador.

Em outra conversa, ele pede diretamente o adiantamento de uma decisão. “Caro, STF soltou Alexandrino. Estamos com outra denúncia a ponto de sair, e pediremos prisão com base em fundamentos adicionais na cota. Se você puder decidir isso hoje, antes do plantão e de eventual extensão, mandamos hoje. Se não, enviamos segunda-feira. Seria possível apreciar hoje?”.

Em mensagem de Moro para Deltan Dallagnol, ele avisa: “Decretei nova prisão de três da Odebrecht, tentando não pisar em ovos. Receio alguma reacão negativa do STF. Convém talvez vocês avisarem à PGR (Procuradoria-Geral da República)”.

Os documentos também confirmam o uso de recursos para a produção de vídeos e material de propaganda. Numa das mensagens, Deltan faz um pedido explícito a Moro neste sentido. “Seria possível a destinação de valores da Vara, daqueles mais antigos, se estiverem disponíveis, para um vídeo contra a corrupção, pelas 10 medidas?? ”.

Leia mais: Moro diz que ‘supostas mensagens’ não retratam fraude

Por meio de nota, Sergio Moro afirmou não reconhecer a autenticidade das mensagens e lembrou que, se verdadeiras, foram conseguidas por hackers, mediante meios criminosos, “sendo, portanto, de se lamentar a sua utilização.”

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