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Política & Poder

Testemunha diz que pastor tinha relação sexual com filhas de Flordelis

A testemunha -convocada pela acusação- disse ter presenciado uma das cenas íntimas envolvendo o pastor

FolhaPress

09/11/2022 21h33

Igor Mello
Niterói, RJ

Daiane Freires, filha afetiva de Flordelis, revelou em depoimento durante o julgamento da pastora e ex-deputada que, em vários episódios, ficou sabendo de relações sexuais mantidas pelo pastor Anderson do Carmo e outras mulheres da casa. Segundo ela, Flordelis sabia das relações paralelas do marido, assassinado a tiros em junho de 2019.

Daiane é a nona testemunha a depor no julgamento de Flordelis, acusada de arquitetar o assassinato do marido. A testemunha -convocada pela acusação- disse ter presenciado uma das cenas íntimas envolvendo o pastor. Ela não mencionou qual irmã foi procurada por Anderson do Carmo.

“Uma noite ele entrou no nosso quarto e alisou a minha irmã. No dia seguinte, quando amanheceu, perguntamos porque ela não contava para a mãe [Flordelis]. Ela falou que conversou com a mãe, mas que ela pegou a Bíblia e mostrou que, se a mulher está ciente que o marido está procurando outra mulher, não é pecado”, relatou ela em resposta a uma pergunta feita por Janira Rocha, uma das advogadas de Flordelis.

Após a delegada Bárbara Lomba, que investigou o caso, relatar em depoimento incesto na família, Rodrigo Faucz, advogado de Flordelis, negou a existência desse tipo de relação. “É algo totalmente inverídico. Essa prática nunca existiu.”

Daiane disse ainda que Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica de Flordelis e também ré no processo, usava uma suposta relação com Anderson como “trunfo”. Segundo a testemunha, Simone relatou que Anderson teria dito que iria “usufruir” de cirurgias plásticas que pagou para ela -tais como colocação de silicone nos seios.

“A Simone sempre falava como se fosse um trunfo. Lembro de uma vez que a gente já morava nessa casa atual, em que aconteceu o crime, e eu falei: ‘Simone, por que você não coloca aparelho?’ Ela falou pra mim: ‘Eu não. Se eles assim já dão trabalho, imagina eu com aparelho'”, disse ela, antes de continuar.

“Ela [Simone] tinha feito a barriga e falou que o Niel [nome dado por Flordelis a Anderson] estava procurando ela. Porque ele tinha dado o peito [próteses de silicone] para ela e ele falou que precisava usufruir daquilo que ele deu”, disse a filha adotiva de Flordelis, Daiane Freires.

A principal tese sustentada pela defesa de Flordelis para tentar inocentá-la é que o crime foi cometido em reação a supostos abusos sexuais cometidos pelo pastor Anderson do Carmo contra outras mulheres da casa. O advogado Ângelo Máximo, assistente de acusação em nome da família de Anderson, também nega que Anderson tivesse esse tipo de conduta.

daiane ainda disse que Anderson defendia a prática de rachadinha -devolução de parte dos salários de funcionários comissionados- no gabinete de Flordelis na Câmara dos Deputados. E que o mesmo ocorria com Wagner Andrade Pimenta, o Misael da Flordelis, que exerceu mandato de vereador em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, reduto político da família.

“Eu rompi com o Misael porque ele estava com as mesmas ideias que o pastor tinha e eu não concordava. Rachadinha e fofoca. Eu fui liberta disso e não ia deixar um outro alguém me aprisionar”, disse ela.

Segundo investigações do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), Flordelis e Anderson ficavam com uma parte dos salários dos assessores contratados em seu gabinete -vários deles filhos afetivos da pastora, como André Luiz, também réu pela morte de Anderson.

Em audiência em 2020, Daiane já havia falado sobre o esquema. De acordo com seu relato, a mulher de Misael, Luana Vedovi Rangel Pimenta, também foi nomeada no gabinete de Flordelis na Câmara dos Deputados e devolvia parte do salário para Anderson.

O advogado Ângelo Máximo, que representa a família de Anderson do Carmo, disse à reportagem que o suposto esquema de rachadinha no gabinete de Flordelis está sob investigação do Ministério Público Federal. Ele alegou que a responsabilidade por eventuais crimes é de Flordelis, que era a parlamentar eleita.

Durante todo o processo, Flordelis negou ter qualquer ligação com a morte do marido. Em live realizada por ela horas antes de ser presa, a pastora e ex-deputada reafirmou sua inocência.

“Caso eu saia daqui hoje, saio de cabeça erguida porque sei que sou inocente. Todos saberão que sou inocente, a minha inocência será provada e vou continuar lutando para garantir a minha liberdade, a liberdade dos meus filhos e da minha família, que está sendo injustiçada.”

Em entrevista à imprensa, Janira Rocha, advogada de Flordelis, expôs a linha de que Simone Rodrigues foi a única responsável por tramar a morte de Anderson em resposta a supostos abusos cometidos contra ela e suas filhas, netas da ex-deputada.

“Ela sofreu anos isso [abusos] e, quando chegou nas filhas, ela não aguentou. Uma coisa é que ela suportou os abusos porque tinha câncer, dependia do dinheiro para poder fazer seu tratamento de câncer, tinha quatro filhos e não tinha uma alternativa de sair de casa. Mas, quando o abuso chegou nas suas filhas, aí o copo entornou”, diz a defensora da ex-deputada.

Os demais acusados dizem que são inocentes.

O julgamento. Além de Flordelis e Simone, serão julgadas por júri popular a neta Rayane dos Santos Oliveira e os filhos afetivos André Luiz de Oliveira e Marzy Teixeira da Silva.

A ex-deputada é ré por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, associação criminosa, uso de documento falso e falsidade ideológica. Marzy, Simone e André Luiz responderão por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada; e Rayane, por homicídio triplamente qualificado e associação criminosa armada.

Antes de Daiane, foram ouvidas outras sete testemunhas de acusação arroladas pelo MP-RJ e uma pelo assistente de acusação. Além delas, também foram convocadas quatro testemunhas de acusação, e 27 escolhidas pelas defesas dos acusados.

Não há prazo para que o julgamento seja encerrado. Fontes ligadas ao caso dizem acreditar que os trabalhos continuem no fim de semana, mas não há confirmação oficial de que isso ocorrerá.

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