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Política & Poder

Tarcísio descumpre acordos e perde credibilidade, diz líder do PT na Assembleia

Fiorilo avalia que, ao manter um pé na canoa do bolsonarismo e outra no centro, o governador “corre o risco de morrer afogado”

Redação Jornal de Brasília

01/08/2023 16h27

Foto: José Antonio Teixeira/ Alesp

Carolina Linhares
São Paulo, SP (Folhapress)

O deputado estadual Paulo Fiorilo, líder do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), afirma que a relação do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) com a Casa precisa ser azeitada. “Quando o governo não cumpre o que acordou, vai perdendo credibilidade inclusive com a oposição”, diz.

Em entrevista no plenário, que ganhava reparos na iluminação para a volta do recesso nesta terça-feira (1º), o petista falou sobre a fragilidade da base governista em meio à insatisfação de bolsonaristas com Tarcísio. O PT, por sua vez, apoiou o governador em quase todas as votações.

Ao manter um pé na canoa do bolsonarismo e outra no centro, o governador “corre o risco de morrer afogado”, avalia Fiorilo, que vê continuidade entre o governo João Doria (ex-PSDB) e o atual.

Ele critica a truculência da Polícia Militar, que foi defendida por Tarcísio apesar do saldo de ao menos oito mortos em operação em Guarujá, no litoral paulista.

Mortos em operação da Polícia Militar em Guarujá

A bancada da federação PT, PC do B e PV condenou a ação da PM, acionou o Ministério Público para investigar a operação e declarou que a Alesp irá acompanhar o caso.

“É preciso que se investigue com todo rigor. Há uma preocupação grande, porque a gente tem um governo de direita, que, por exemplo, não ampliou o uso de câmeras nos uniformes. Uma preocupação de que a polícia possa descambar para ações que não queremos, que é essa visão de direita, de violência, de combater o crime não com estratégia e inteligência, mas com as mortes que estamos vendo. Isso não serve só para a Baixada, mas para a cracolândia. Ali são ações em cima de ações que não têm resolvido, está faltando inteligência e não truculência”, diz.

Configuração da Alesp

Ao avaliar a nova dinâmica da Alesp, em que o PL substituiu o PSDB como sigla mais numerosa e que comanda a Casa, o petista afirma que a bancada do partido de Jair Bolsonaro “passa pelo processo de entender que é governo”. O PT segue na oposição, agora com uma esquerda mais numerosa -25 das 94 cadeiras.

Assim como os tucanos, o governo Tarcísio manobrou para impedir a instalação de CPIs pela oposição. “Não era para investigar o governo Tarcísio, era para olhar o governo Doria. Essa coisa de que eles eram oposição ao Doria, na prática o que estamos vendo é outra coisa”, diz.

Fiorilo afirma, porém, que “o governador ainda não está governando do ponto de vista legislativo” e “optou por um semestre com baixa intensidade em projetos de lei”.

PT vota a favor do governo Tarcísio

Até agora, o PT votou contra o governo apenas em um projeto, o da Lei de Diretrizes Orçamentárias –fidelidade que daria inveja à bancada governista, que frequentemente é balançada por rebeliões de bolsonaristas.

Os petistas deram voto sim ao aumento do salário mínimo, das polícias e do funcionalismo, apesar de questionarem alguns pontos. “Mas não eram projetos ideológicos, eram projetos de benefícios para categorias”, justifica.

“Projetos que Tarcísio anunciou que seriam de grande impacto e estruturantes ele não mandou. Não mandou a [privatização da] Sabesp, a mudança de recursos para saúde e educação, a reforma administrativa”, diz ele, listando propostas que devem ter a oposição do PT.

Tarcísio entre o bolsonarismo e o centro

Questionado se a produção legislativa do governo comprovaria a imagem de técnico que Tarcísio busca manter (e menos bolsonarista do que os bolsonaristas gostariam), Fiorilo diz que não. A falta de propostas complexas viria da “falta de acúmulo e traquejo”. Ele lamenta que Tarcísio não tenha enviado projetos que ajudem a criar empregos.

“Mesmo os projetos que vieram tiveram problemas. O da polícia tinha uma pegadinha. Podia ter sido um ganho e virou um desgaste. Ele pode querer passar essa imagem, mas está faltando uma produção legislativa mais intensa. Ou ele optou por fazer um governo de baixa intensidade para dialogar com o setor bolsonarista e com os de centro sem criar confusão”, diz.

O petista tampouco acredita que Tarcísio seja mais progressista do que o esperado, pela série de projetos pró-funcionalismo. “Diria que ele tenta dialogar com as partes. Manter um pé no bolsonarismo, mesmo que balançando, e outro pé mostrando que é um técnico.”

Relação de Tarcísio com a Alesp

Para Fiorilo, “falta azeitar a condução”. Ele lembra que Doria visitava a Alesp uma vez por mês e que Tarcísio o fez poucas vezes -“mas não é isso que muda a relação”, e sim o cumprimento de acordos.
O petista conta que, na votação do financiamento do trem intercidades, acertou com o governo emendas de transparência, que Tarcísio vetou. “É isso que pode dificultar a relação. […] Quando o governo não cumpre o que acordou, vai perdendo credibilidade inclusive com a oposição.”

Fiorilo diz que Tarcísio não tem uma base consolidada. “Para conseguir 48 [votos], muitas vezes teve que deixar para outro dia, segurar o máximo a votação para ver se descia alguém [para o plenário]. Isso mostra uma fragilidade grande.”

Projeto de Tarcísio

O líder defende o programa de Fernando Haddad (PT), derrotado nas urnas, e diz que Tarcísio “não conhecia e ainda não conhece o estado”. “A ideia era ter um estado indutor de desenvolvimento e não reativo”, diz.

Fiorilo afirma ver continuidade entre os tucanos e Tarcísio. “O que Tarcísio está dizendo é que vai entregar obras que estavam sendo feitas. Agora, eixos novos [ele] não tem. Ele repete Doria com as desonerações de ICMS, que continuam num cofre, ele não se dispôs a abrir. E o governo tem feito muito decreto, por exemplo de escola cívico-militar, e não traz o debate para cá.”

Alta aprovação e acertos de Tarcísio

Fiorilo diz que, a nível estadual, a população não costuma ligar a avaliação de serviços, como segurança e a ViaMobilidade, a Tarcísio, o que mantém sua aprovação em alta. “A grande marca do Tarcísio no início do governo foram as marteladas. O que aconteceu de lá pra cá? A gente não sabe.”

Relação de Tarcísio com Lula e Bolsonaro

Mas Fiorilo elogia a atuação de Tarcísio na tragédia da chuva em São Sebastião (SP), em fevereiro, e na relação institucional com o presidente Lula (PT). “Ele se saiu muito bem, diferente do Bolsonaro. Foi perfeito, entendeu o papel de ser governador.”

O mesmo serve para a entrevista de Tarcísio ao lado de Haddad para defender a Reforma Tributária. “Para os bolsonaristas é muito difícil. São códigos que dificilmente eles conseguem entender e digerir. Então vão continuar fazendo gestos contra o Tarcísio”, diz.

Como forma de contornar o mal-estar com a direita, Tarcísio hospedou o ex-presidente pela segunda vez no Palácio dos Bandeirantes. Fiorilo perguntou ao governo quais os custos disso. “O problema é hospedar mais de uma vez uma pessoa que não tem relação nenhuma com o estado do ponto de vista institucional. Por que o erário tem que pagar as despesas do ex-presidente?”, questiona.

Tarcísio presidenciável em 2026

Fiorilo afirma que não se pode descartar uma candidatura de Tarcísio ao Planalto se Bolsonaro seguir inelegível.

“Talvez por isso ele não se coloque agora [como candidato] para se preservar. E tenta construir esse caminho colocando um pé em cada canoa, a do bolsonarismo e a de centro, sempre correndo o risco de cair e morrer afogado. Isso tem um preço, aliás os bolsonaristas cobram permanentemente.”

Centrão no governo Lula

Para melhorar a relação com o Parlamento, Lula quer incluir PP e Republicanos, partidos de oposição em São Paulo, no ministério. “Pode ser contraditório que um partido aqui se posicione assim e lá de outro jeito? Claro que pode. Não há uma contradição que não possa ser explicada se a gente entender que o governo precisa compor uma maioria. Lula vai ter a serenidade e a sabedoria de fazer as mudanças necessárias sem tirar do PT ou das mulheres”, justifica.

PT e Boulos na eleição de 2024

Fiorilo defende o acordo do PT com Guilherme Boulos (PSOL) e diz que o deputado do PSOL tem grandes chances de ser eleito prefeito de São Paulo, já que o atual, Ricardo Nunes (MDB), é desconhecido do ponto de vista de entregas e de trajetória. “É uma minoria que tem defendido candidatura própria ou levar o Boulos para o PT, que não está em discussão mais.”

PT em São Paulo

Fiorilo admite que o PT tem dificuldade no estado, onde o antipetismo é aflorado. “Acho que a gente volta a crescer em 2024 até por conta do governo Lula, que começa a quebrar resistências. Precisamos aproveitar esse momento para distensionar e fazer com que as pessoas façam boas escolhas em 2024.”

Raio-X | Paulo Fiorilo, 59

Líder da federação PT, PV e PC do B na Assembleia Legislativa de São Paulo, é deputado estadual no segundo mandato. Foi vereador na capital paulista também por dois mandatos. Nascido em Araraquara (SP), tem graduação em filosofia e mestrado em ciências políticas pela PUC-SP.

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