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Política & Poder

‘Se arrependimento matasse, eu estaria morto’: a onda de decepções com Bolsonaro e Lula

Bolsonaro está 14 pontos atrás de Lula nas intenções de voto para a eleição presidencial de domingo, segundo o Instituto Datafolha

Redação Jornal de Brasília

26/09/2022 15h32

Foto: Reprodução

Em 2016, Reginaldo Gomes investiu cerca de 5.000 reais na campanha de Jair Bolsonaro. Hoje, ele defende Lula nas redes sociais com paixão. Arrependido, ele tenta se redimir na próximas eleições presidenciais.

Para este locutor de rodeio, as duas últimas décadas no Brasil foram uma espiral de decepções na política, começando com os casos de corrupção do Partido dos Trabalhadores (PT) de Luiz Inácio Lula da Silva, que o levaram a votar em Bolsonaro em 2018. Agora, desencantado com o político de ultradireita, volta a apostar no ex-presidente de esquerda (2003-2010).

“Se arrependimento matasse, eu estaria morto”, afirma Gomes, de 50 anos, que vive em Juazeiro, na Bahia.

Bolsonaro está 14 pontos atrás de Lula nas intenções de voto para a eleição presidencial de domingo (33% a 47%), segundo a última pesquisa do Instituto Datafolha.

Sua péssima administração da pandemia – com 686.000 mortos -, a inflação disparada e a agenda ultraconservadora do governo alimentou a rejeição contra o presidente, eleito em 2018 no segundo turno com 55% dos votos com um discurso de “outsider” político.

Ao apoiar Bolsonaro, Carlos Eduardo De Souza, de 51 anos, se sentiu como “o marido que sai de casa e acha que tudo vai ficar melhor, mas fica arrependido”, reconhece o pedreiro do Rio de Janeiro.

“A maior burrice que eu fiz”, acrescenta, espantado, por exemplo, com o discurso homofóbico do presidente que afeta diretamente sua filha trans. “Ela me falou, mas fiquei cego, não queria ver”.

“Ele falou besteira, muita bobagem”, insiste Gomes sobre este presidente que chamou a covid-19 de “gripezinha” e afirmou que as vacinas poderiam transformar as pessoas em “jacaré”.

Por isso, depois de investir 5.000 reais para imprimir camisetas de campanha para Bolsonaro, agora quer pedir perdão a Lula por tê-lo chamado de “ladrão”, garantiu em vídeo publicado no Tik Tok.

“Votei como venezuelana”

Joana Alenso, psicóloga de 41 anos, nasceu no Brasil mas cresceu na Venezuela. Como muitos no país caribenho, a crise econômica a levou a imigrar para o Rio de Janeiro com sua família.

Em 2018 votou em Bolsonaro “convencida”. “Caí no jogo do ‘não, como vou votar no PT, como venezuelana não posso votar no PT”, visto como um aliado do chavismo pela próxima relação entre Lula e Hugo Chávez no início dos anos 2000 e seu apoio à questionada eleição de Nicolás Maduro em 2013.

Bolsonaro não se cansa de dizer que o Brasil terminará com a Venezuela se a esquerda retomar o poder.

“Votei como venezuelana (opositora) em 2018. Agora separei meu sentimento brasileiro do venezuelano e vou votar no Lula”, garante. “Não posso apoiar um narcisista, machista, grosseiro… sem contar que ele não fez nada”.

Esse antibolsonarismo é justamente o combustível de Lula para buscar o “voto útil” que pode definir a eleição a seu favor.

“A taxa de rejeição de Bolsonaro é maior do que a intenção de voto natural de Lula no primeiro turno”, disse à AFP Adriano Laureno, analista político da consultoria Prospectiva.

Além disso, “existe uma nostalgia do governo Lula enquanto um governo que trouxe mais desenvolvimento social do que o governo Bolsonaro”.

“Arma na cabeça”

Porém, o ex-presidente também tem críticos inveterados pelos escândalos que mancharam sua gestão. Paulo Ferreira, de 70 anos, chegou a votar em Lula, mas ficou decepcionado a cada denúncia e no próximo domingo votará pela segunda vez em Bolsonaro.

O PT “é uma organização criminosa” que desmantelou a Petrobras, garante este aposentado da petroleira, sobre as investigações de uma gigantesca rede de propinas que afetaram Lula e seu partido. “De modo algum votaria nesse pessoal”, afirma.

No entanto, nem todos têm um plano. Entre os eleitores há resignados que acreditam que vão acabar votando em Lula para derrotar Bolsonaro, mas somente no segundo turno porque “não merece ganhar no primeiro” e também aqueles que votarão em branco, como Matheus Fernandes, de 27 anos.

“A gente tem uma arma na cabeça”, disse à AFP o motorista de Uber em Pernambuco, estado natal de Lula.

“Se eu votar em Lula ou em Bolsonaro é um tiro na cabeça de todo jeito”, segue. “Não votar em nenhum dos dois, porque se votar em um dos dois, eu vou estar ferindo meus princípios”.

© Agence France-Presse

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