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Política & Poder

Saiba quem é o hacker da ‘Vaza Jato’ preso pela PF em apuração que mira Zambelli

O hacker ganhou destaque no cenário nacional por ter invadido os celulares de integrantes da Operação Lava Jato, entre eles do então juiz Sergio Moro

Redação Jornal de Brasília

03/08/2023 19h42

Walter Delgatti

Foto: Reprodução/CNN

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Conhecido como o hacker da “Vaza Jato”, Walter Delgatti Neto foi preso nesta quarta-feira (2) em uma operação da Polícia Federal, que envolveu também busca e apreensão em endereços da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).

Também chamado de Vermelho pelos amigos de infância, devido aos cabelos ruivos, o hacker ganhou destaque no cenário nacional por ter invadido os celulares de integrantes da Operação Lava Jato, entre eles do então juiz Sergio Moro.

O caso foi revelado em 2019 e culminou na prisão dele e de outros três suspeitos.

À época, Delgatti foi apontado como o principal suspeito de ter invadido contas do Telegram de autoridades. Em um primeiro momento, disse à PF que atuou sozinho e repassou mensagens ao jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil, de forma anônima, voluntária e sem receber dinheiro.

Naquele mesmo ano, um grupo do aplicativo Telegram formado por conselheiros do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) também foi invadido por um hacker.

Na ocasião, o perfil do conselheiro Marcelo Weitzel foi usado para mandar mensagens questionando a atuação de procuradores na Lava Jato. Quando um dos integrantes do grupo questionou o conteúdo recebeu como resposta: “hacker aqui”. No entanto, não há confirmação se a invasão foi feita por Delgatti.

Três anos após a operação que culminou na sua prisão, Delgatti aguardava em liberdade o julgamento do processo que corria na Justiça Federal do Distrito Federal. Denunciado como mentor da suposta quadrilha, ele teve a prisão preventiva revogada em outubro de 2020.

Na ocasião, foram estabelecidas medidas cautelares, como monitoramento eletrônico e proibição de acessar sites, redes sociais ou aplicativos de mensagens. Em setembro de 2021, livrou-se do uso da tornozeleira eletrônica.

Antes de ser preso em 2019, Delgatti tinha uma ficha de antecedentes criminais que mostrava ao menos 20 casos em que ele era investigado ou acusado da prática de crimes. Entre as vítimas, bancos, mulheres, homens, uma adolescente, advogados, empresários e shoppings.

Em vários dos procedimentos que estavam em aberto, ele aparecia implicado em um famoso artigo do código penal: o 171, de estelionato -“obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”.

Em entrevista ao UOL, em 2022, Delgatti afirmou que estava estudando direito em uma faculdade particular. Disse ainda que não teve pudores ideológicos ao invadir o celular de políticos de todas as correntes, como se tentasse provar que sua ação não teve motivação política.

Delgatti cresceu em Araraquara (a 273 km de São Paulo) com a avó, sem convívio com a mãe, segundo contaram à Folha de S.Paulo, reservadamente, pessoas que o conheciam. Ele não tinha emprego formal nem atividade estável.

No entanto, quando foi preso, Delgatti disse que era “investidor” e, pelo menos uma vez, afirmou ter uma conta bancária na Suíça.

Ele gostava de se vangloriar sobre suas supostas conexões em Araraquara (SP) e fingia ser aluno de medicina na USP, o que não era verdade. É o que revelaram documentos e depoimentos do próprio Delgatti em inquéritos e processos de que já foi alvo.

Em 2015, ele afirmou ter uma renda mensal de R$ 4.000 e o segundo grau completo. O hacker tinha uma arma de ar comprimido, do tipo “air soft”, que parecia uma arma de verdade. Segundo ele, porque temia ser alvo de ladrões.

Delgatti foi alvo de um mandado de busca e apreensão em sua casa, também em 2015, depois que uma garota de 17 anos, então namorada de seu irmão, o acusou de tê-la dopado e estuprado -ela depois refez seu primeiro depoimento.

A delegada de polícia encarregada de cumprir o mandado, escreveu em relatório que Delgatti teve uma postura desafiante ao receber os policiais em seu apartamento em Araraquara.

Quando indagado sobre como sabia do mandado, Delgatti disse que era “uma pessoa influente” e que havia recebido o mandado escaneado “em seu notebook, há dois dias”, e que tinha “amigos no fórum e policiais”, que era amigo de um promotor de Justiça e conhecia uma juíza.

Nesta quarta (2), o hacker foi preso novamente em uma operação da PF que mirou também Carla Zambelli.

Ambos são suspeitos de atuarem em uma trama que envolvia o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e que resultou na invasão dos sistemas do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e na inserção de documentos e alvarás de soltura falsos.

Em depoimento à polícia, em 27 de junho, Delgatti disse ter recebido um pedido de Zambelli no ano passado para ele invadir uma urna eletrônica “ou qualquer sistema da Justiça Brasileira”.

Segundo o hacker, o objetivo era demonstrar a fragilidade do sistema judicial do país. À época, o então presidente Bolsonaro -aliado de Zambelli- promovia uma cruzada contra o sistema de votação e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), afirmando não ser seguro nem transparente.

Foi nesse contexto, disse Delgatti aos investigadores, que ele invadiu o sistema do CNJ. A invasão resultou na inclusão de um mandado de prisão falso contra Moraes no Banco Nacional de Mandados de Prisão.

Delgatti também contou não ter conseguido invadir o TSE. “Mesmo após diversas tentativas, pois o código-fonte da urna eletrônica não fica hospedado em um computador com acesso à internet, mas fica em um computador offline, não sendo possível o acesso externo.”

Delgatti também entregou dados de transações financeiras à PF. As informações mostram que pessoas próximas a Zambelli repassaram R$ 13.500 ao hacker.

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