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Política & Poder

Rodrigo acena a eleitor de Bolsonaro e fala em ‘raiz paulista’ para minar Tarcísio

Neste ponto, embora os acenos sejam ao eleitor mais conservador, Rodrigo tem tentado minimizar questões ideológicas

FolhaPress

10/05/2022 13h18

Foto: Site Rodrigo Garcia/Divulgação

Artur Rodrigues
São Paulo, SP

O governador Rodrigo Garcia (PSDB), em pré-campanha à reeleição, tem apostado no discurso linha-dura na segurança pública, que tem grande apelo ao eleitorado do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Ele ainda tenta se diferenciar do candidato do presidente em São Paulo, o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos), nascido no Rio de Janeiro, ao reforçar ser um “paulista raiz”.

Nas últimas eleições, João Doria (PSDB) se elegeu colado a imagem à de Bolsonaro, movimento que ficou conhecido como ‘Bolsodoria’.

Embora a campanha de Rodrigo por ora não atrele sua imagem à do presidente e demonstre esforços em fugir da polarização nacional, os gestos dele conversam com esse potencial eleitor ‘Bolsodrigo’.

A segurança pública, tema vital no estado em momento de boom de furtos e roubos de celulares, é a principal arena onde se dá a disputa pelos votos dos bolsonaristas.

Rodrigo alcançou 6% na pesquisa Datafolha de abril, empatado no limite da margem de erro com Tarcísio, que marcou 10%. A corrida é liderada por Fernando Haddad (PT), com 29%, à frente de Márcio França (PSB), com 20%.

Na campanha do tucano, o discurso é o de que as questões relativas à segurança se tratam de assuntos de governo e que seus atos a esta altura ainda não miram nenhum candidato específico. No entanto, os gestos soam bastante ensaiados.

Nesta terça-feira (10), por exemplo, o local do evento escolhido é simbólico, a sede da Rota, tropa de elite da Polícia Militar, em compromisso sobre a criação de medalha voltada aos paulistas que atuaram “pela elevação do nome da Polícia Militar”.

Famosa pela letalidade policial, a Rota é evocada de tempos em tempos por políticos tentando seduzir o eleitorado conservador do estado. Em 2002, por exemplo, o ex-prefeito e ex-governador Paulo Maluf prometeu colocar a Rota na rua, mas acabou perdendo a eleição para o tucano Geraldo Alckmin.

Já João Doria, em 2018, prometeu que a polícia iria atirar para matar e levou a eleição. Às vésperas do pleito deste ano, Rodrigo deu declaração neste sentido, embora mais moderada.

“Bandido que levantar arma para a polícia vai levar bala da polícia, porque é isso que a sociedade está esperando, uma polícia ativa, que dentro dos limites da lei vai agir com muito rigor em relação à criminalidade”, disse.

A frase dita num evento de governo foi editada e divulgada nas redes sociais de Rodrigo, reforçando que se trata de uma mensagem ensaiada.

Antes disso, o governador já havia dito em entrevista ter dúvidas de um programa do próprio governo, relativo a câmeras corporais em policiais -a medida, apontada como responsável pela redução de mortes em confrontos e também de policiais, havia sido criticada por Tarcísio.

Após a declaração, o governador recuou e voltou a defender a medida.

“[As ações do Rodrigo] têm muito de estratégia eleitoral. O Tarcísio hoje é o principal adversário dele e é quem está corroendo a base de apoio que ele queria”, diz o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV.

Neste sentido, diz, o discurso de lei e ordem pode funcionar como algo sedutor na disputa deste grupo, fundamental para pavimentar um caminho até o segundo turno.

Além da questão da questão da segurança, a artilharia de Rodrigo mira em um área que é vista até agora como principal ponto fraco de Tarcísio, um suposto oportunismo eleitoral do ex-ministro nascido no Rio e sem vínculos fortes com São Paulo, estado onde concorrerá.

Nas mídias sociais do governador foi divulgado até um teste em que Rodrigo identifica gírias paulistas e de outros lugares do país. Na brincadeira, ele escolhe bolacha em vez de biscoito, balada no lugar de night e breja no lugar de cerva.

O cientista político Bruno Silva, pesquisador do Laboratório de Política e Governo da Unesp Araraquara, diz que a menção à raiz paulista é um jeito de explorar uma fragilidade de Tarcísio, sem necessariamente atacar Bolsonaro.

Em contraposição, pela narrativa criada, Rodrigo seria alguém que conhece os problemas do estado.

“Numa disputa de governo do estado, sempre há esse sentimento de pertencimento ao território. [A estratégia é] para mostrar justamente que o outro é uma pessoa que não conhece o estado, que está muito desconectado dos desafios do estado”, diz.

Ainda é uma incógnita se Rodrigo conseguirá estancar o crescimento de Tarcísio e ganhar espaço entre eleitores do presidente.

No mundo político, porém, isso já tem acontecido e na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) o voto ‘Bolsodrigo’ já é uma realidade. Ao menos seis deputados estaduais do PL, partido do presidente, vão apoiar Bolsonaro e Rodrigo, em vez de Tarcísio.

Entre esses deputados está Alex Madureira, evangélico ligado à Assembleia de Deus, que acredita que não há obstáculos para que o governador cresça entre o eleitorado bolsonarista.

“Ele tem adotado uma postura muito de estado, das coisas do estado e não vejo em nenhum momento o Rodrigo fazer qualquer ataque ao Bolsonaro”, diz.

Ainda nesta linha, Rodrigo teria boa aceitação entre o eleitorado evangélico, base de Bolsonaro, que assim como ele é católico. “Ele é muito aberto ao ouvir a igreja, dar atenção às igrejas evangélicas, às famílias mais conservadores”.

Embora o governador já tenha feito críticas a Bolsonaro, na sabatina organizada pela Folha e pelo UOL, ele se recusou a manifestar preferência entre o presidente e o ex-presidente Lula (PT).

A campanha do governador vive em compasso de espera sobre se o ex-governador João Doria (PSDB), com alta rejeição, conseguirá viabilizar sua campanha a Presidência da República.

Para aliados de Rodrigo, se Doria estiver fora, será mais fácil se desconectar da impopularidade do antecessor e emplacar o discurso de que não tem padrinhos políticos.

Neste ponto, embora os acenos sejam ao eleitor mais conservador, Rodrigo tem tentado minimizar questões ideológicas e focar em questões práticas, o que não deixaria de fora eventuais eleitores à esquerda com perfil mais moderado.

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