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Política & Poder

Queiroga reforça rejeição a 4ª dose em evento que promove a vacinação infantil

O governo federal, no entanto, não tem poder de definir como são elaboradas as regras de vacinação dos estados, que tem autonomia de decisão

Evellyn Luchetta

12/02/2022 11h30

Foto: Sérgio Lima/ AFP

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, participou do Ato de Vacinação Infantil contra a Covid-19, na Praça do Conjunto Osman Loureiro, em Maceió, Alagoas. Na ocasião, o chefe da pasta vacinou duas crianças.

Depois de aplicar as doses, o ministro falou sobre o cenário vacinal brasileiro. Ao ser questionado sobre sua recusa diante a exigência do comprovante vacinal no retorno às aulas, ele disse que a pandemia não vai impedir as crianças de irem a escola.

“Qual é o país que obrigou as crianças a se vacinarem? A pandemia já prejudicou muito nossas crianças, ela não vai impedir a ida a escola agora em 2022. Por que eu vou criar mais calor nessa discussão? A vacina está ai, é um direito de todos”, afirmou.

‘Quantas doses vocês distribuíram?’

No evento, o ministro aproveitou para questionar ‘quem o acusa de atrasar vacinas’.

“Eu quero desafiar aqueles que estão dizendo que eu atrasei vacina em crianças. Quantas doses vocês distribuíram para a população brasileira? Sabe quantas? Conjunto vazio! Todas foram distribuídas pelo governo Bolsonaro”, disparou.

Ele finalizou dizendo que o governo não quer obrigar ninguém à nada, afirmando que o povo brasileiro é ‘livre para escolher’.

A fala de Queiroga é direcionada a uma cobrança recente da Comissão de Desenvolvimento Humano (CDH) do Senado, que o convocou para esclarecer o atraso da vacinação infantil. Na mesma ocasião, o ministro negou o atraso.

“Alguns ainda insistem na narrativa falsa de que o governo federal atrasou a compra de vacinas pediátricas. O contrato com a farmacêutica foi firmado ainda em novembro, antes da autorização da Anvisa”, disse.

A aprovação para o uso do imunizante da Pfizer, com dose ajustada para o público infantil, foi firmada pela Anvisa no dia 16 de dezembro de 2021. As doses, no entanto, só chegaram aos braços das crianças am janeiro deste ano. Durante esse período, o presidente Jair Bolsonaro (PL), junto de Queiroga, atacaram a vacinação infantil.

Na época, Bolsonaro chegou a atacar diretamente a Anvisa, dizendo que solicitou o nome de quem autorizou a vacinação infantil. “A Anvisa não está subordinada a mim, vamos deixar bem claro isso, não interfiro lá, mas pedi extraoficialmente o nome de quem autorizou a vacina para crianças a partir de cinco anos. Queremos divulgar o nome dessas pessoas para que todo mundo tome conhecimento de quem são e forme seu juízo”, contou Bolsonaro.

Uma consulta pública chegou a ser feita no intuito de saber se o povo brasileiro gostaria de vacinar seus filhos.

Outro fato criticado é que o governo só efetuou, inicialmente, a compra de 20 milhões de doses, insuficiente para a faixa etária.

Além dessa convocação, Queiroga e o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, tiveram de explicar uma nota técnica publicada pela pasta e que favorece o uso a hidroxicloroquina, remédio sem qualquer comprovação científica quanto a eficácia contra o coronavírus. Na nota, a ineficácia da vacina ainda foi defendida.

4ª dose

Queiroga ainda aproveitou para reforçar sua crítica contra a 4ª dose do imunizante contra a covid. “Nós precisamos avançar na vacinação do mundo todo, na dose de reforço, ao invés de forçar uma quarta dose sem comprovação científica”, disse.

Na noite desta sexta-feira, 11, o ministério da Saúde rejeitou a 4ª dose para toda a população. “Antes de avançarmos rumo a novas indicações no calendário do PNO [Plano Nacional de Operacionalizações], se faz necessário compreender o cenário epidemiológico com maior detalhamento quanto às hospitalizações, óbitos e infecções pela Covid-19 entre determinados grupos etários e sua relação com o status de vacinação (vacinados x não vacinados)”, diz uma nota técnica divulgada pela pasta.?

O governo federal, no entanto, não tem poder de definir como são elaboradas as regras de vacinação dos estados, que tem autonomia de decisão de como farão o enfrentamento à pandemia. A decisão foi tomada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 2020.

A rejeição da dose e a campanha afirmando que sua aplicação não conta com comprovação científica é vista como uma recomendação.

Contradição

A fala de Queiroga e a recente rejeição do ministério vão contra suas próprias recomendações já que, ainda nesta semana, a pasta recomendou a 4ª aplicação.

A imunização foi recomendada para pessoas imunocomprometidas acima de 12 anos. Anteriormente existia uma outra indicação, de reforçar a imunização apenas de adultos deste mesmo grupo.

A dose deveria ser feita com o uso do imunizante da Pfizer, depois de quatro meses do esquema vacinal estar completo.

“Após a conclusão desse esquema, é recomendada ainda uma dose de reforço quatro meses após a terceira dose (ou dose adicional). Essa orientação já vale para a população adulta, com mais de 18 anos, com alto grau de imunossupressão”, recomendou a Saúde.

‘Não da pra obrigar ninguém a fazer as coisas’

No fim do seu discurso, Queiroga disse que a adoção das famílias à vacinação só pode ser feita através do incentivo. “Tem que esclarecer e mostrar o caminho”.

Segundo ele, como médico, sabe que não da pra obrigar as pessoas a se vacinarem. “Você não consegue nada obrigando um paciente a fazer as coisas”, disse.

Ele disse que todos têm que trabalhar juntos pelo avanço na vacinação, inclusive da dose de reforço. “Vamos aplicar as vacinas em todos”.

O evento

Duas garotinhas foram vacinadas pelo chefe da pasta durante a ocasião. Uma delas foi Bianca, de 7 anos e logo após Sofia, também com 7, recebeu uma dose. As duas crianças são irmãs gêmeas.

Na praça onde o evento foi realizado, serão instaladas cabines para vacinar as crianças de cinco anos ou mais. No local também está estacionado um Ônibus da Vacina, que vai atender o público com 12 anos ou mais.

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