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Política & Poder

Organização nega casos de prostituição de venezuelanas em local visitado por Bolsonaro

O representante da organização nega atividade de prostituição de menores no local e diz que envolvidas estão “assustadas” com a repercussão

Redação Jornal de Brasília

18/10/2022 11h15

Foto: Reprodução

Por: Marcos Nailton

Após uma fala do presidente Jair Bolsonaro (PL) que dizia que menores de idade se prostituiam em uma casa na região brasiliense, onde a organização ajuda, o representante da Cáritas, Paulo Henrique Moraes, negou qualquer tipo de atividade de prostituição com imigrantes acudidos. O local é uma organização que oferece serviços de apoio, promoção e atuação social, que em Brasília ajuda refugiados venezuelanos.

“Não tivemos nenhum contato em nenhum momento, nenhum olhar ou percepção que tivessem pessoas se prostituindo, principalmente crianças e adolescentes venezuelanos. Nós desconhecemos essa prática por aqui”, ressaltou.

A repercussão aconteceu após o presidente citar no podcast Paparazzi Rubro-Negro, na última sexta-feira (14), que viu durante um passeio de moto, um grupo de 15 a 20 meninas venezuelanas menores de idade, se arrumando em um sábado para “ganhar a vida”.

Na fala, Bolsonaro chega a dizer que “pintou um clima”. O trecho pegou mal nas redes sociais e o presidente foi muito criticado por opositores sobre a declaração, que foi associada ao sentimento de relações indevidas com menores de idade.

No último domingo (16), a primeira-dama, Michelle Bolsonaro disse que o presidente da República tem “mania” de falar “se pintar um clima”. Segundo opositores, Bolsonaro deu a entender que as meninas estavam se arrumando para se prostituir. “Meninas bonitinhas de 14, 15 anos, se arrumando no sábado para quê? Ganhar a vida”, disse o presidente sobre a visita, que ocorreu em abril de 2021.

De acordo com Paulo Henrique, a organização ainda possui contato com as mulheres citadas por Bolsonaro. Ele afirma que no último sábado (15) entrou em contato com as mulheres, que disseram estar assustadas diante da repercussão do que foi vinculado nas redes.

“Disseram que estava todo mundo com muito medo e pressionadas por causa da mídia e depois disso não tivemos mais contato. O contato que a gente tem é que elas estão muito assustadas com tudo isso”, conta o representante.

Paulo disse que as mulheres moravam de aluguel e se mudaram do local visitado pelo presidente há um certo tempo. Vizinhos relataram que as menores e suas mães não moram mais na residência desde o fim do ano passado, vários meses após a visita de Jair.

No dia em que Bolsonaro foi até à casa onde as venezuelanas estavam abrigadas, acontecia uma ação social para refugiados. Sendo que, a equipe do chefe do Executivo já teria acordado com a organização Cáritas, que ajuda as refugiadas.

Na época, a ida do presidente até a região de São Sebastião tinha sido transmitida nas suas redes sociais oficiais. Ao longo dos 22 minutos de transmissão, em nenhum momento ele falou sobre prostituição no local ou mostrou qualquer reação negativa com a situação.

Nas gravações, foi possível ver Bolsonaro conversando com as venezuelanas sobre as condições de vida e a saída delas do país natal. Além disso, ele também criticou o isolamento social vigente no período, atacou governadores e a ditadura na Venezuela.

Assistência

Atualmente, a Cáritas acolhe cerca de 65 indígenas venezuelanos warao com atendimento socioassistencial dentro da instalação da organização há quase dois anos. Outros 85 indígenas recebem acolhimento por fora, pois moram de aluguel na região de São Sebastião. Eles recebem assistência na área da saúde, educação, alimentação e áreas de direito.

O gestor Paulo Henrique ainda conta que, cerca de 300 venezuelanos não indígenas também recebem apoio da organização. Sendo que, há muitos outros espalhados pelo Distrito Federal. A instituição também atende em outras regiões administrativas do DF, como Taguatinga, Ceilândia, Sol Nascente e também em Águas Lindas (GO).

“O serviço de assistência dado pela Cáritas ela busca fazer essa autonomia delas para que possa preservá-las, dando as condições de garantias de direitos, tanto para as crianças, adolescentes, mulheres, homens, e todos que venham a precisar, e esse é o nosso trabalho”, destaca.

Venezuelanos refugiados no DF

Segundo relatório do Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), cerca de 17.260 imigrantes foram registrados no DF entre 2015 e 2020. O órgão auxilia na produção de informações qualificadas para a criação de políticas públicas no Brasil referentes ao tema.
De acordo com os dados da OBMigra, houve aumento na quantidade de estrangeiros que vieram para a capital federal, respectivamente, 1.918 e 2.612 imigrantes, entre 2018 e 2019.

Porém, em decorrência da pandemia de Covid-19, somente 952 indivíduos, entre mais de 40 nacionalidades, foram registrados no DF em 2020. Até setembro de 2021, o volume já havia superado o do ano anterior.

Segundo o IMDH, há pessoas de mais de 40 nacionalidades no DF. Dos 3.297 imigrantes atendidos pelo instituto, os venezuelanos (70%) aparecem com mais frequência. Outros países de origem recorrentes são: Haiti, Cuba, Paquistão, Bangladesh, Síria e Gana. A faixa etária com maior quantidade de indivíduos é entre 18 a 59 anos, com 68%. Além disso, 47% dos atendidos são do sexo feminino e 53%, do masculino. Cerca de 60% declaram residir no DF nas seguintes RAs.

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