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Política & Poder

O voo do condor

Estados Unidos confirmaram participação 26 anos após rede internacional balançar seis países do Cone Sul nas asas do terror

Gustavo Mariani

07/07/2022 16h27

O noticiário do mundo político do início do segundo semestre de 2001 gerara manchetes por todos os jornais do planeta, quando, no 7 de julho, documentos vieram a público, nos Estados Unidos, confirmando denúncias de participação do país na Operação Condor – torturas e assassinatos de rebeldes à dominação norte-americana na América Latina e que lutavam pelo socialismo ou regimes menos vorazes.

O voo do condor começou à luz de golpes de estado apoiados por duas agências norte-americanas – CIA e USAID -, desde as décadas 1960/1970. Durante a Primeira Reunião Interamericana de Inteligência Nacional, em 26 de novembro de 1975, no Chile, representantes da inteligência militar da Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai abriram caminhos para reuniões entre o presidente chileno, Augusto Pinochet (foto), o secretário de estado norte-americano, Henri Kissinger e o diretor da CIA, Vernon Walters. Resultantes sinistras: oposição às ditaduras valeriam tortura na obtenção de informações.

O Paraguai foi o primeiro parceiro a ir à caça dos “contra”, seguido por Argentina, Chile e Uruguai. O Brasil entrou nesse jogo pelo segundo tempo, ao lado da Bolívia, desencadeando uma larga escala de onda de prisões. Com apoio técnico, logístico, financeiro e treinamento nos Estados Unidos, os agentes do plano contavam com informação centralizadas no Chile-Condor 1 – sobre pessoas e entidades consideradas subversivas. Como ainda não havia Internet, as trocas de informações ocorriam por telex-Condortel.

Era por aquela máquina que os donos do poder no cone sul trocavam colaborações para capturas, interrogatórios, torturas e execuções. Também, com ajuda do “Tio Sam”, decidiam sobre atuação em países fora da área sulista, fustigando comitês de solidariedade, entidades ligadas aos direitos humanos, exilados e seus familiares.

A Operação Condor pretendia, ainda, por meio da CIA, desestabilizar o regime cubano e cortar influências da ilha por todo a “Sudamérica”. Nessas operações usava-se exilados cubanos, cooptados em Miami-USA e que usavam base montada na Venezuela. Muito importantes na preparação de extermínios.

Entidades de direitos humanos afirmam que a Operação Condor, entre exterminados e desaparecidos, atingiu mais de 40 mil pessoas, sendo a maioria, cerca de 30 mil, na Argentina da ditadura do presidente-general Jorge Rafael Videla. No Brasil, o Ministério Público Federal encontrou documentos das Forças Armadas, comprovando a participação do país no que a imprensa chamou na época de “rede internacional de ações criminosas”, conforme denúncias em relatórios das entidades citadas acima, em 1978.

Foram indiciadas 32 acusados de participação na operação, entre as quais o ministro do Interior boliviano Luis Arce Gómez; primeiro-ministro peruano Pedro Richter Prada; o chefe dos serviços secretos chilenos, Juan Manuel Contreras, e o presidente do Peru (1975 e 1980), general Francisco Morales Bermúdez – deveriam responder processos por sequestros, torturas e homicídios de 43 pessoas de várias nacionalidades.

Os primeiros julgamentos são datados de 2015, quando Morales Bermudez rolava pelos 94 de idade, mesma idade de Richter Prada. O boliviano Arce Gomes tinha 78, ‘vegetando’ em cadeira de rodas, enquanto Contreras celebrava 86, sem saber nem onde estava. E os brasileiros? Assunto para um novo voo do JBr na história da política internacional.

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