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Política & Poder

O que fazer com a cloroquina?: Veja o governo federal poderia fazer com o estoque do medicamento

O que fazer com o estoque do medicamento quando as doenças em que ele é eficaz apresentam queda nos números?

Geovanna Bispo

17/06/2021 13h50

Foto: George Frey/AFP

Após mais de um ano que a covid-19 chegou ao país, ainda há quem acredite que a hidroxicloroquina possa ser utilizada como forma de prevenção e tratamento da doença, mesmo já tendo sido descartada pelas principais entidades médicas e científicas. Atualmente, segundo o Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército (LQFEX), existem quase 790 mil comprimidos do remédio em estoque.

Por conta da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), o Ministério da Saúde não pôde informar o número de seus estoques. “Cumpre destacar que se trata de solicitação de acesso a documentos referentes a informações solicitadas pela Secretaria da CPI, por meio de Requerimentos de Informações, as quais têm classificação como Acesso Restrito por se tratarem de Documentos Preparatórios”, comunica a pasta.

Mas o que fazer com esse estoque, já que as únicas doenças em que o fármaco é comprovadamente eficaz e utilizado são malária, que teve uma queda de casos de 10% em 2020 e, atualmente, os casos não chegam a 150 mil, e lúpus, com cerca de 65 mil casos? 

“A sobra desses medicamentos deveria ser redirecionada a países que precisam de quantidades significativas para o seu uso correto previsto na bula, ou seja, por exemplo, para o tratamento de malária”, explica o Dr. Adriano Andricopulo, especialista em química medicinal e planejamento de fármacos da Universidade de São Paulo (USP).

Uma possibilidade são os países africanos. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), em 2019, seis países africanos foram responsáveis por mais de 50% dos casos de malária no mundo, com a Nigéria representando 23% do número, a República Democrática do Congo 11%, a República Unida da Tanzânia 5%, Níger 4%, Moçambique 4% e Burkina Faso 4%. Levando em consideração as tendências recentes, a Região Africana perderá os marcos da estratégias 2020 para incidência de casos e mortalidade em 37% e 25%, respetivamente.

O especialista ainda alerta para a data de validade do medicamento. De acordo com o LQFEX, o estoque é originário de uma doação da farmacêutica Novartis, que, em 2020, doou cerca de 130 milhões de doses de hidroxicloroquina a diversos países, incluindo o Brasil.

Efeitos colaterais

Segundo Andricopulo, os efeitos colaterais do fármaco em decorrência da automedicação, uso sem prescrição e indiscriminado são graves e de risco à saúde. “A cloroquina interage no organismo humano com uma variedade de fármacos, podendo aumentar o risco de convulsões, arritmias ventriculares e toxicidade aguda. As manifestações tóxicas da cloroquina estão relacionadas com efeitos cardiovasculares, como hipotensão, vasodilatação, supressão da função miocárdica, arritmias cardíacas, parada cardíaca, e do sistema nervoso central, como confusão, convulsões e coma.”

Além desses, as doses terapêuticas ainda podem causar cefaléia, irritação gastro intestinal, tontura, distúrbios visuais e urticária. “O tratamento prolongado com altas doses pode causar, entre outros problemas, miopia tóxica, cardiopatia e neuropatia periférica, visão borrada, confusão, convulsões, erupções e queloides na pele e embranquecimento dos fios do cabelo”, conclue o químico.

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