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Política & Poder

‘Novo bolsonarista’, João Roma ensaia disputar governo baiano

Vestido uma camisa alvinegra de time de futebol, o presidente desfia platitudes sobre a Bahia e encerra fazendo um vaticínio

Redação Jornal de Brasília

24/07/2021 14h20

Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

João Pedro Pitombo
FolhaPress

Cercado de aliados em uma fazenda na cidade de Amargosa, recôncavo baiano, o ministro João Roma ergue o telefone celular e faz uma videochamada com o presidente Jair Bolsonaro, em meados de junho.

Vestido uma camisa alvinegra de time de futebol, o presidente desfia platitudes sobre a Bahia e encerra fazendo um vaticínio sobre o seu aliado: “João Roma é o cara, é o futuro da Bahia com toda certeza”.

Há cinco meses no comando do Ministério da Cidadania, o deputado licenciado João Roma (Republicanos-BA) está à vontade. No curto período de tempo, saiu da posição de aliado discreto do ex-prefeito de Salvador ACM Neto (DEM), de quem distanciou-se ao assumir o ministério, para protagonista do bolsonarismo na Bahia.

Agora, ensaia uma candidatura ao Governo da Bahia no próximo ano. O movimento é incentivado por Bolsonaro e seus filhos, que vislumbram a possibilidade de um palanque forte no estado.

“É óbvio que todo líder político almeja ocupar posições que possibilitem transformar a vida das pessoas. Mas nós vamos tratar a eleição apenas em 2022. A única coisa certa é que vamos juntar forças para montar um palanque forte para a reeleição do presidente”, disse João Roma à Folha.

No atual cenário, são pré-candidatos ao governo baiano o senador Jaques Wagner (PT), que apoiará a candidatura de Lula (PT), e ACM Neto, que tem defendido uma candidatura de centro ao Planalto e flerta com Ciro Gomes (PDT) e Eduardo Leite (PSDB).

À frente do Ministério da Cidadania, Roma tem como trunfo a estrutura de uma das pastas com maior capilaridade do governo federal, responsável por políticas sociais como o Bolsa Família, programa que deve ser robustecido até o próximo ano.

Desde que assumiu o cargo, tem recebido caravanas de prefeitos em Brasília e também tem circulado pela Bahia para inaugurar de obras federais, mesmo aquelas que não têm relação direta com sua pasta. Nos últimos 30 dias, passou por oito cidades do interior da Bahia: entregou casas em Paulo Afonso, visitou empresários em Jacobina e Ourolândia, inaugurou a restauração de igrejas em Itaparica e Maragogipe e ainda visitou Lagoa Real, Catu e Ilhéus.

O haras Lago Negro, fazenda do ministro em Conceição da Feira, recôncavo baiano, tornou-se uma espécie de quartel-general de seu projeto político. Ali, Roma recebe nos fins de semana prefeitos, deputados e aspirantes a cargos eletivos dos quatro cantos da Bahia.

A movimentação política inclui a atração de partidos para o seu entorno. Roma já recebeu o apoio do PTB, partido liderado pelo ex-deputado Roberto Jefferson, e mantém conversas com o MDB e o Patriota. Também construiu uma relação mais próxima com os filhos do presidente. Em entrevista a uma rádio baiana, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) fez críticas duras a ACM Neto, a quem chamou de arrogante, e afirmou que apoia o ministro da Cidadania para o Governo da Bahia.

O endosso dos filhos de Bolsonaro também serviu para aproximá-lo de franjas mais radicais do bolsonarismo da Bahia, que viam João Roma com desconfiança pelo histórico de proximidade com ACM Neto, presidente nacional do DEM. No Republicanos, contudo, sua candidatura ainda não é um consenso. Presidente do partido na Bahia, o deputado federal Márcio Marinho diz que não há definição sobre a disputa do governo: “O ministro João Roma tem o direito de trabalhar com esse objetivo. Mas ainda não discutimos isso”.

Na Bahia, o Republicanos foi aliado do PT até 2014. Depois, migrou para a oposição, passou para a base de ACM Neto e apoiou candidatos do DEM ao governo e à Prefeitura de Salvador. Entre os adversários de João Roma, surpreende a forma como em um curto espaço de tempo ele abraçou o bolsonarismo. Desde que assumiu o ministério, Roma já defendeu a adoção do sistema de voto impresso e criticou políticas de isolamento social em meio à Covid-19 em uma live com o presidente.

Também posou ao lado do presidente Jair Bolsonaro e do apresentador Sikêra Jr. com uma placa com a mensagem “CPF cancelado”, expressão usada por milícias para comemorar a execução de criminosos.

Menos de um ano antes, a postura era outra. Em entrevistas à imprensa da Bahia ao longo de 2020, Roma classificou como errática a postura do presidente Jair Bolsonaro diante da pandemia. Também chamou de incoerente a aliança de Bolsonaro com partidos do centrão.

Roma contemporiza e diz que as críticas foram feitas em um momento em que o Republicanos não fazia parte da base do presidente. Também lembra que, ainda assim, votou com o governo na maioria dos projetos de interesse do Planalto.

Para consolidar uma candidatura competitiva ao governo, Roma tem dois obstáculos para enfrentar até outubro de 2022. Um deles é a alta rejeição que Bolsonaro tem no estado. O outro seria o pouco tempo para construir um grupo político com musculatura uma candidatura majoritária.

Aliados do ministro, contudo, afirmam que não há vácuo na política e que o nome de Roma tenderia a aglutinar os apoiadores do presidente, que formam uma militância orgânica. Mesmo que não obtenha sucesso, avaliam, ele necessariamente sairá da campanha maior do que quando entrar.

Roma construiu sua trajetória política a partir de Pernambuco, estado onde nasceu. Migou para a Bahia no início dos anos 2000, atuou na burocracia partidária do DEM e virou chefe de gabinete de ACM Neto na Prefeitura de Salvador. Foi eleito deputado federal em 2018.

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