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Política & Poder

“Não há digital minha na Precisa”, afirma Francisco Araújo

Ex-secretário disse à CPI da Covid que mais adiante será provada sua inocência, que nunca teve qualquer contato com ninguém da empresa e nunca foi apresentado ao deputado Ricardo Barros

Redação Jornal de Brasília

02/09/2021 19h27

HYLDA CAVALCANTI
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Depois de três adiamentos, o ex-secretário de saúde do Distrito Federal, Francisco Araújo, preso pela operação Falso Negativo, da Polícia Federal (que investiga fraudes em contratos de compra de testes de covid), prestou depoimento ontem na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid. Araújo respondeu à oitiva ao lado do seu advogado. Afirmou que o processo contra ele ainda está correndo e, portanto, não é um condenado pela Justiça, que o futuro ainda provará que não é culpado e negou a maior parte das perguntas feitas pelos senadores, sobretudo a de que tenha qualquer contato com a empresa Precisa Medicamentos.

“Não terá nenhuma digital minha na Precisa” – a empresa apontada como intermediária nas negociações para compra da vacina indiana covaxin, por meio de um contrato que apresentava várias irregularidades e não chegou a ser fomalizado. “Não há digitais de ilegalidade em qualquer contrato meu”, disse o ex-secretário. Ele também ressaltou que não conhece o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), apontado como um dos principais envolvidos no esquema de negociação de vacinas superfaturadas dentro do Ministério da Saúde.

Ao responder a diversas perguntas sobre a Precisa, o ex-secretário afirmou que nunca teve relação com os donos da empresa nem qualquer contato com pessoas que lá trabalhassem. Quando questionado sobre denúncias que envolvem contratos firmados pelo Governo do Distrito Federal com a Precisa ele disse que a Secretaria de Saúde possui um sistema muito burocrático de avaliação de contratos que não passava diretamente por ele e que a Precisa participou de um processo de licitação na pasta, realizado “da mesma forma que todos os outros”. “Tenho mais de 20 anos de trabalho no serviço público e maturidade suficiente para seguir o trâmite estabelecido pela Secretaria de Saúde”, enfatizou.

Indagado pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL) sobre informações de que a Precisa teria apresentado proposta depois do prazo permitido pelas regras, mas mesmo assim foi aceita no processo de compra dos testes para a covid, ele afirmou que está respondendo ao processo e vai provar sua inocência. “Prefiro não falar sobre isso nem dizer como acho que serei visto daqui a algum tempo. Prefiro que todos vejam, no final. Sou um pai de família e passei por um processo muito doloroso nos últimos tempos, de ter meu nome envolvido nesse caso, mas aguardo o desfecho disso”, destacou.

Interferências políticas

Questionado pelos senadores sobre interferências de políticos na sua nomeação para a pasta e de possível ligação com nomes apontados como lobistas em meio às apurações da CPI, ele lembrou que estava resguardado por um mandado de segurança do Supremo Tribunal Federal (STF) e preferia não responder a essas perguntas “que não dizem respeito à questão da covid em si, foco desta CPI”. Ao mesmo tempo, negou que sua indicação tivesse tido qualquer motivação política.

Contou que nunca sentou com o governador Ibaneis Rocha para perguntar sobre supostos sobrepreços porque, quando foi preso, “esperava-se que ainda valesse a presunção de inocência”. E argumentou que a compra de cada teste pelo valor de R$ 180 – enquanto o valor máximo observado até então era de R$ 110 – aconteceu “dentro do devido processo licitatório”. Segundo ele, “isso teve como motivo o fato de a disponibilidade dos testes nas outras empresas participantes do processo ser limitada”.

O ex-secretário foi cobrado, ainda, devido à constatação, pela PF, de que a empresa que vendeu os testes tinha em sua razão social o objetivo de produzir brinquedos. Acentuou que a mesma empresa também tinha aptidão para vender testes.

Perguntado sobre se autorizou o sistema de saúde do DF a prescrever aos pacientes o chamado tratamento precoce para a covid – que depois ficou comprovado não ter eficácia – ele disse que deixou os médicos fazerem a condução que quisessem. “Oficialmente não ouve orientação neste sentido, mas deixamos os médicos agirem”.

O ex-secretário ficou detido por três meses pela Polícia Federal e atualmente é monitorado por tornozeleira eletrônica enquanto corre o processo que o tem como um dos alvos. O depoimento estava previsto para hoje, mas como o depoente agendado ontem não compareceu à CPI, o colegiado da comissão pediu para antecipar sua presença na sessão.

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