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Política & Poder

“Não dava pra desmontar o acampamento golpista naquela noite”, diz general Dutra na CPI

Em um depoimento repleto de imagens e vídeos, Dutra mostrou que a região do acampamento estava diminuindo de forma natural

Camila Bairros

18/05/2023 11h41

Foto: Reprodução/YouTube

Em mais uma manhã marcada pela reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), deputados ouviram o depoimento do general Gustavo Henrique Dutra, que chefiava o Comando Militar do Planalto no dia 8 de janeiro, quando vândalos invadiram e depredaram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o STF.

Em abril, três meses após o ocorrido, ele foi exonerado do cargo pelo presidente Lula (PT). Ele era o responsável pela área do Quartel-General do Exército em Brasília, que ficou ocupado por protestantes de outubro, após o resultado das eleições, até janeiro.

Além disso, o nome de Dutra foi citado no depoimento de Jorge Eduardo Naime, coronel da PMDF, que o acusou de impedir prisões de golpistas no acampamento, mesmo após ordem do ministro Alexandre de Moraes. Ele também participou de reunião com Anderson Torres, ex-secretário de Segurança Pública do DF, horas antes dos atos antidemocráticos.

O depoimento

Segundo o general, antes do dia 8 de janeiro, não houve, em nenhum momento, ordem legal para desmontar o acampamento. “No dia 29 de janeiro, aumentou muito o número de manifestantes, e quando o DF Legal chegou. houve um acirramento dos ânimos na Praça dos Cristais”, afirmou ele. Faltando poucos dias para a posse do presidente Lula, ele deu a ordem então de tentar diminuir o espaço dos protestantes, a começar pelo estacionamento e desmanche de barracas.

Em um depoimento repleto de imagens e vídeos, Dutra mostrou que uma semana após a posse de Lula, o estacionamento, que antes estava lotado, já se encontrava vazio. Na Praça dos Cristais, restavam apenas as estruturas grandes que eles não conseguiram desmontar sozinhos. “Nós estávamos tirando todo mundo. Sem machucar ninguém, a gente tava tendo sucesso em desmontar o acampamento”, completou.

Dutra ainda afirmou que, além de não ter recebido uma ordem judicial antes de 8 de janeiro para acabar com o aglomerado, a operação era extremamente completa, e poderia colocar em risco a integridade das pessoas e também das tropas de segurança.

Chico Vigilante, presidente da CPI, disse que o acampamento era um local de crimes, como tráfico de drogas e prostituição, mas que o Exército não fez nada quanto a isso. Dutra contrariou o deputado, afirmando que houve sim um protocolo de ação integral para acabar com tudo que era ilícito lá dentro, e que em nenhum momento houve obstrução da Justiça.

O 8 de janeiro

O acampamento estava só diminuindo, mas no dia 7 de janeiro, chegaram cerca de 130 ônibus no Distrito Federal, lotados de pessoas que participariam de manifestação marcada para o dia seguinte. “Eles chegaram na Praça dos Cristais, mas não permitimos a entrada dos ônibus na região”, disse Dutra, que aumentou o isolamento do local. “Nós tivemos trabalho para desmontar parte do acampamento, e não queríamos que acontecesse de novo”.

Então, os manifestantes se juntaram rumo à Praça dos Três Poderes, onde invadiram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF).

Dutra disse que encontrou com Ricardo Cappelli, escolhido por Lula como interventor federal. “Tivemos uma conversa civilizada. Falei que a operação precisava ser planejada, se não, morreria gente. Eles não estavam com armas, mas a Praça dos Cristais não tem boa iluminação, tem degraus, lago… no acampamento eles estavam fazendo churrasco, então tinham espetos. Era perigoso”.

Enquanto Cappelli falava com Flávio Dino, ministro da Justiça, Dutra ligou para o general G. Dias, chefe do GSI, que estava com o presidente Lula. “O presidente estava irritado, disse que todos deveriam ser presos, e eu concordei. Mas falei também que nesse momento, o único dano era patrimonial, e que se a gente entrasse no acampamento sem planejamento, a noite poderia terminar com sangue”, revelou.

Seria uma tragédia. Isola a praça e prende todo mundo amanhã.

Presidente Lula

Após a destruição causada no centro de Brasília, os manifestantes voltaram para o acampamento. Lá, segundo disse Dutra, dormiram calmamente, achando que a barreira policial que se formara no local era para protegê-los. Por volta das 6h30 da manhã do dia seguinte, os ônibus chegaram para retirá-los. De acordo com Cappelli, mais de mil pessoas foram tiradas do local sem ferimentos.

Para terminar sua fala, Chico Vigilante questionou se o general achava que Jair Bolsonaro tinha culpa na não desmobilização dos manifestantes, já que ele não veio à público declarar e aceitar o resultados das eleições, assim como nenhuma autoridade do Exército Brasileiro, incluindo ele. Dutra foi direto em sua resposta: “Não cabe a mim, general de divisão, vir à público manifestar nada. O Exército, baseado na Constituição, é hierárquico”, finalizou.

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