Brasília, 27 – O Ministério da Igualdade Racial, comandado pela ministra Anielle Franco, comprometeu quase metade da verba de uso livre em 2023 com viagens de assessores e dirigentes. Até agora, a pasta empenhou – isto é, reservou para pagamentos – cerca de R$ 12,5 milhões em 2023. Deste total, R$ 6,1 milhões (48,8%) são destinados a pagar passagens aéreas e diárias dos servidores.
A conta diz respeito a verbas discricionárias, de uso livre, e não inclui emendas parlamentares executadas pela pasta nem gastos com servidores. Os dados foram levantados pelo Estadão no sistema Siga Brasil, do Senado. Em resposta à reportagem, o ministério disse apenas que mais investimentos em políticas públicas estão programados, mas ainda não foram concretizados.
Anielle Franco criou polêmica ao usar no domingo um voo da Força Aérea Brasileira para ir de Brasília a São Paulo, onde assistiu à final da Copa do Brasil, no Estádio do Morumbi. Flamenguista, a ministra viu de camarote seu time perder o título para o São Paulo. Na ocasião, Anielle assinou um protocolo de intenções de combate ao racismo no esporte. O ato público foi feito em parceria com os colegas André Fufuca (Esporte) e Sílvio Almeida (Direitos Humanos). Este último usou um voo comercial para ir à capital paulista. Fufuca usou o voo da FAB, como Anielle.
Demissão
Anteontem, o episódio resultou na demissão de uma das assessoras que estavam com Anielle no Morumbi. Chefe da Assessoria Especial da pasta, Marcelle Decothé fez postagens com ofensas de cunho racial no Instagram.
Desde que foi nomeada, Marcelle fez 19 viagens a serviço, segundo o Portal da Transparência – um deslocamento a cada 12 dias, em média. Três delas foram para o exterior: Colômbia, Estados Unidos, Portugal e Espanha. A ex-assessora, considerada uma das mais próximas de Anielle Franco, gastou R$ 130,5 mil com diárias e passagens das viagens, ainda de acordo com o Portal da Transparência.
O deputado Kim Kataguiri (União Brasil-SP) pediu ontem a convocação de Anielle à Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara, para explicar os gastos com viagens. Kataguiri também solicitou ao Tribunal de Contas da União um auditoria na pasta. “Não tenho a menor dúvida de que as despesas violam princípios básicos da administração pública, principalmente da eficiência e da moralidade”, disse o parlamentar.
Estadão Conteúdo